A esperada vitória de François Hollande desencadeou uma onda de alegria e de esperança por essa Europa fora. No que diz respeito a Portugal, julgo que fruto de um equívoco. É certo que o futuro presidente socialista prometeu durante a campanha eleitoral que uma vez eleito iria agir no sentido de levar a Alemanha a aceitar a inclusão no projecto europeu de medidas de crescimento económico e de retoma. Logo aqui há uma evidente redundância que não augura nada de bom. Com efeito, não pode haver retoma sem crescimento económico, ou este sem aquela. Por conseguinte, parece tratar-se sobretudo de vocabulário para mobilar. Aceitemos, ainda assim, que possam vir a ser decididas medidas tendentes a despoletar crescimento económico.
Uma vez que, ao contrário da Irlanda, da Islândia ou de Espanha, o problema português reside essencialmente no excesso de dívida pública, tal como acontece na Grécia e na Itália, que medidas dinamizadoras da actividade económica pode o governo tomar? Com que meios? A bem dizer, haveria duas direcções principais, não fora afectarem precisamente um dos lusos pontos fracos -o desemprego. Tratar-se-ia de, em simultâneo, reduzir os encargos fiscais e diminuir a burocracia, mediante a reestruturação da administração pública, através do despedimento de dezenas de milhares de funcionários públicos nesta altura redundantes. Tal como está previsto na Grécia e já foi feito na Irlanda. Sendo tal coisa impensável, sobretudo por medo do banzé que desencadeariam os sindicatos, ao verem-se atacados no seu principal ninho de filiados, volta-se ao ponto de partida: Que outras medidas dinamizadoras? Com que recursos financeiros?
Os que vivem no e do sistema retorquirão que Keynes, e tal, e mais isto e mais aquilo... Pois, mas o célebre economista enunciou os seus ditames num contexto totalmente diferente, de baixos encargos fiscais e de países ainda muito deficitários em necessidades básicas, em que por isso foi possível avançar com planos de obras públicas na área das infra-estruturas. Nesta altura do campeonato, mesmo que houvesse milhões disponíveis nos cofres públicos, onde poderia o governo investir? No TGV? No aeroporto de Alcochete? Em mais pavilhões, rotundas, auto-estradas e ETARs? Uma vez concluídas tais obras, qual seria o retorno efectivo? Mais despesas de funcionamento e mais dívida pública?
A nível local, o desfasamento contextual dos esperançados em Hollande parece-me que é ainda mais flagrante. Para além do estranho caso do Congresso da Sopa, em que na abertura estavam nas filas à roda de 500 pessoas, mas depois terão sido vendidos -garante a organização- mais mil e trezentos bilhetes, apesar da chuva e da crise, partindo da hipótese muito remota de que haveria recursos proporcionados por Lisboa, por Bruxelas ou por ambas, que medidas poderia a autarquia implementar? Há neste momento algum ou alguns projectos com retorno transaccionável assegurado, já devidamente estruturados e a aguardar financiamento? Quais?
As eleições autárquicas serão dentro de pouco mais de um ano, tudo indica que num contexto social bem mais gravoso do que o actual. Só a doentia inércia dos políticos que temos tornou possível este triste arrastar das coisas, com eleitos ocupando os respectivos lugares apenas para assegurar os fins de mês ou, no mínimo, por uma questão de conforto e de protagonismo. Pouco adiantará por isso tentar ludibriar os eleitores com pretensas expectativas favoráveis. Sem planos não pode haver investimento e sem este o crescimento económico é impossível.
Também em Tomar, o ideal seria haver coragem para desmantelar o poderoso império burocrático municipal, o que permitiria em simultâneo diminuir as despesas de funcionamento, logo a redução da carga fiscal local, condições sine qua non para o renascimento da economia nabantina. Que terá de ocorrer mais cedo ou mais tarde, por muito pouco desejado que seja pelos ora instalados. O que tem de ser, tem muita força!
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