quinta-feira, 31 de maio de 2012

Já nem os mortos respeitam...


Respeitar os mortos é uma tradição cristã bem presente entre os portugueses. Mesmo durante a guerra em África, em circunstâncias por vezes bem difíceis, sempre houve sentido do dever, brio e empenhamento para a cumprir, dando a cada companheiro falecido sepultura digna e mantida limpa. Como na foto supra, no local de uma emboscada, junto à estrada Quibaxe/Pango, Angola, em 1964...>>>

Foto 1

Foto2

 Foto 3

 Foto 4

 Foto 5

 Foto 6

 Foto 7

 Foto 8

 Foto 9

Foto 10

>>> Quase cinquenta anos volvidos, 38 dos quais em democracia, na União Europeia e no país com as fronteiras mais antigas do continente e numa cidade com um monumentos Património Mundial, outrora cuidada e por isso querida e respeitada, a respectiva autarquia aproxima-se perigosamente do grau zero em eficiência e utililidade, proporcionando aos residentes e aos visitantes espectáculos confrangedores. Como o do Cemitério Antigo, onde abundam exemplos de desmazelo, de falta de brio, de deixa-andar, de esperteza saloia.
Logo antes da entrada, de ambos os lados, aquilo mais parece o arrabalde de uma esterqueira (fotos 1 e 2), com papéis, plásticos, folhas secas e congéneres. Já no interior do cemitério, há campas desconjuntadas (foto 3), montes de lixo (fotos 6 e 7), ervas daninhas (foto 8) e lixo escondido (fotos 9 e 10). Tão confrangedor que até mete dó. A provar mais uma vez que o actual elenco autárquico já não está lá a fazer nada, embora continue a receber a inerentes benesses.
Cúmulo da falta de vergonha na cara, há mesmo no canto nordeste, um pequeno sector que não se sabe se são sepulturas, se simples montes de terra (foto 5). Ou uma velha campa memoriada e sobre-elevada, transformada em suporte de plantas trepadeiras (Foto 4).
Bem dizia o almirante Pinheiro de Azevedo, nos idos de 1975 - O povo é sereno!
E os autarcas tomarenses aproveitam para abusar, acrescento eu.

4 comentários:

Pedro Moniz disse...

O povo é sereno e porco. Muito porco.
Pretensamente civilizado. Mas só pretensamente...
Se lhe mantiverem a rédea curta ele (povo) cumpre. Senão, é o que se vê.
Para manter um cemitério limpo basta cada um limpar e cuidar da sua parte.
A autarquia, que desprezo profundamente, não faz a menor diferença aqui. Se estão à espera que façam alguma coisa de útil então esperem sentados pois pela vontade da autarquia não havia cemitérios pois o terreno para eles é bem mais útil para um qualquer empreendimento urbanístico de luxo. Os mortos que sejam atirados ao aterro sanitário que dão menos despesa.
Tomar é sem dúvida (se ainda não é, para lá caminha) um planeta dos macacos!
Numa antevisão de um tempo não muito longínquo, consigo descortinar uma terra em ruínas, abandonada aos ratos e que toda a gente evita...
Façam um favor a Tomar e entreguem-na de volta aos Templários.

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Sem dúvida, Dr. Rebelo. Pelo que dizem as imagens, não restam dúvidas sobre o empenhamento diário dos autarcas em relação a coisas tão simples..., onde podem manifestar carinho, porque não ternura? e respeito pelos munícipes, os vivos e os mortos.

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Pois eu também andei por ali perto, ao lado, mais precisamente, para norte, nos Dembos (17 meses, a minha Cia. indep. de intervenção bateu record de permanência nesta zona): Santa Eulália, Muchaluango, Nambuangongo, Beira Baixa, Quipedro, etc., etc., etc..; antes em Cabinda, guerra de minas, terra dos fiotes e floresta do Maiombe, onde conheci e escoltei uma semana o Alexandre Tati, o dirigente dos cabindas com quem Salazar estabeleceu um acordo que não foi cumprido; depois (1 mês) no Planalto, em Caconda; depois... no Cuando Cubando (Terras do Fim do Mundo), a savana, a fauna (guelengues, palancas, leões, zebras, avestruzes, abelhume, etc.) , a Unita, o adivinhar do deserto do Calaari; depois... distrito de Malange (Marimba e Marimbamguengo) ali encostado ao distrito dos diamantes (Lunda - Portugália), quiseram vender-me berlindes a preço módico e, estupidamente, não aceitei - aquilo dava corte de cabeças -, tinham exército particular que tirava a vida a muitos nativos que os procuravam nos fios de água naturais

Nalguns locais havia cemitérios de mortos em combate (por ex. Muchaluango, Nambuangongo) mas nunca conseguimos saber porque se mantinham ali... Bem tratados. Entre Malange e Marimaguengo (200 kms?) tive um dia uma surpresa interessante acerca de um cemitério.

-Ali é o cemitério do Zé do Telhado, alguém me chamou a atenção. O Robim dos bosques português.

-Estás a brincar comigo!-exclamei.

-É!

E era. Consegui que o comandante da coluna militar móvel a parasse (eu era Furriel Miliciano e tinha alguma voz na matéria...). Uma área de 15 X 15 m, cercada por um muro de 1,5 m, mais ou menos bem tratado pelas populações locais. Não entrámos lá dentro. Como era um rapazito, cheio de sonhos e afigurações, pensei escrever um romance sobre o que roubava aos ricos para dar aos pobres. Fui traído pela escrita. Ao fim do primeiro parágrafo, decidi que seria melhor um conto, depois uma crónica mal cheirosa, e acabou num mero apontamento de viagem, num bloco perdido numa arca de más recordações de anos trágicos, malvado castigo a que não fomos capazes de reagir de pronto. Vi cair alguns meus camaradas próximos, dois deles que recordo com saudade imensa ainda hoje. Filha da puta de ditadura! Da "elite" política que alimenta este governo de sacanas, fazem parte muitos que defendiam que "Angola é nossa"!, salazaristas ranhosos, sem vergonha.

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Correção:
Onde escrevo "coluna militar móvel", de ler-se
coluna militar motorizada

Unknown disse...

Pois é, meu caro Fernando. Aquando da foto publicada já tínhamos deixado para trás os 13 meses em Mpala o novo (a 70 Kms de Nóqui), a dormir no chão sob a tenda durante quatro meses, enquanto erguíamos o acampamento em madeira Foi a época do Solnado a actuar para as tropas e do célebre "Eu cá, meu comandante, ou mato ou morro!" Ah valente! É assim mesmo! Pois... Quer dizer que se vierem do mato, fujo para o morro e se vierem do morro, fujo para o mato.