sexta-feira, 11 de maio de 2012

Turismo e encrencas tomarenses



Dois aspectos do antigo Convento de Santa Iria. Num, o desmazelo e a ausência de uma política autárquica capaz, já produziram os seus efeitos irreversíveis. No outro, a fachada limpa e pintada da Igreja de Santa Iria, graças ao empenhamento da Família Valle, Condes de Nova Goa, senhores da capela homónima existente no interior do templo, que vão custeando a manutenção sem esperar qualquer retorno. Nos tempos que correm é cada vez mais raro...


É agora consensual que, a par de alguma obra útil, António Paiva legou também uma pesada e complicada herança. Como se sabe, dotado de extraordinária capacidade de liderança, dela abusou amiúde, arrastando tudo e todos, numa época em que os fundos europeus e a euforia reinante permitiram os piores excessos. Entre os problemas herdados avulta ainda agora a curiosa organização autárquica, onde reinam ou procuram reinar em simultâneo chefes eleitos, chefes de carreira e chefes de nomeação por compadrio e/ou cor partidária. Temos assim uma administração autárquica no seio da qual cada chefe pequeno ou grande foi implementando o seu quintal, naturalmente à revelia das mais elementares regras de serviço público. O caso do turismo municipal testemunha isso mesmo, como se passa a demonstrar.
Desde que o ex-presidente Corvêlo de Sousa retirou os pelouros ao vereador socialista Luis Ferreira, a cultura e o turismo pertencem ao quintal da vereadora Rosário Simões. Seria portanto lógico que fosse ela a gerir o funcionamento dos monumentos urbanos visitáveis. Mas não. Quem desde os tempos áureos de António Paiva dirige essa área é o arquitecto José Faria, oficialmente adjunto dos sucessivos presidentes da autarquia e que nessa qualidade dirige os serviços municipais de museologia e arquivo. 
Nesse quadro, implementou há alguns anos o programa juvenil "Olhar Tomar", através do qual colocou um jovem estudante/vigilante em cada um dos locais urbanos procurados pelos visitantes. Tratou-se, há que reconhecê-lo, de obra pioneira e louvável, que muito tem contribuído para que os turistas não batam sistematicamente com o nariz nas portas dos monumentos que pretendem conhecer. Já basta que o Convento de Cristo, Património Mundial, tenha os horários que tem, cobre seis euros à entrada e mesmo assim, apesar dos seus quase quarenta funcionários, entre os quais redundantes quadros superiores, apenas faculte duas visitas guiadas por dia, às 11 e às 15 horas, segundo a agenda municipal...
Infelizmente, os tempos são agora de interminável crise, obrigando cada autarquia a ratear os fundos disponíveis, pelo que cada titular de um quintal procura praticar o melhor possível aquela arte muito bem definida pela linguagem popular: "Quem parte e reparte, e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte." De alguma maneira a situação que em linguagem medieva redunda na sentença "Fidalguia sem comedoria, é gaita que não assobia". Se calhar porque o arquitecto Faria não é chefe eleito nem chefe funcionário, aquando da repartição das migalhas que a austeridade vai deixando não conseguiu a melhor parte, pelo que agora, conquanto formalmente ainda membro da fidalguia municipal, tem uma gaita que já não assobia (salvo seja!). Noutros termos, os jovens do citado programa "Olhar Tomar" já não recebem há três meses, fartaram-se e os monumentos estão outra vez fechados.
É mais uma encrenca no singular imbróglio nabantino, onde ninguém percebe que estão lá a fazer os actuais membros do executivo, para além de beneficiarem das vantagens da função. Terão ao menos tempo e vontade para resolver mas este problema que nos envergonha enquanto tomarenses? Dos desempregados aos militares, passando pelos aposentados, não falta quem possa prestar esse útil serviço à comunidade. Mas dá sempre trabalho estruturar uma solução duradoira, lá isso dá!
Aqui fica o alerta. 

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