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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O MELHOR É IR AVISANDO A MALTA...

Nota prévia:

Trata-se de uma daquelas crónicas factuais que nem os portugueses chegariam alguma vez a ler, quanto mais agora os tomarenses, não fora a pachorra de quem faz Tomar a dianteira. E no entanto, lendo-a pode-se muito bem estar a ler, também, o futuro. Por isso nos pareceu valer a pena fazer a "tradaptação". Porém, os leitores melhor do que nós ajuizarão. Como sempre acontece, numa terra conhecida pela sua elevadíssima percentagem de habitantes dotados de inteligência acima da média nacional. E omnivalentes, para mais! São competentes seja em que matéria for. Graças a Deus!

OS DOIS EUROS DO EX-"PATRÃO DOS PATRÕES" ALEMÃES

Alguém imagina o antigo dirigente máximo do patronato francês a publicar um panfleto contra o euro? É muito pouco provável. Todavia, é isso mesmo que está a acontecer, desde há alguns dias, do lado de lá do Reno (fronteira entre a França e a Alemanha). Hans-Olaf Henkel, que foi presidente da confederação patronal alemã entre 2001 e 2005, consegue um franco sucesso junto dos seus compatriotas, com a venda de um ensaio, intitulado "Salvem o nosso dinheiro! A Alemanha vai ser vendida em saldo. Eis como a eurofalcatrua ameaça o nosso bem-estar" (Edição Heyne, 19,99 euros, em alemão, bem entendido).
O antigo patrão de IBM - Alemanha, que foi um dos mais ardentes partidários da moeda única, abre com um sincero mea culpa: "Reconheço que sou um dos culpados! Agora considero a minha acção em prol do euro como o maior erro de apreciação de toda a minha carreira profissional", escreve na introdução, intitulada "Entre o sonho e o pesadelo".
É sobretudo a crise grega, cuja factura, segundo diz, vai ser paga pelos alemães durante váris gerações, que o obriga a mudar drasticamente de posição. Acha escandaloso que, em Maio passado, Angela Merkel tenha conseguido convencer os deputados alemães a acudir à Grécia, "por não existir outra alternativa".
Neste livro ferozmente anti-francês -não foi afinal François Mitterrand que impôs o euro a Helmut Kohl, aquando da reunificação alemã?- Hans-Olaf Henkel considera que os dirigentes políticos do seu país procedem mal desde há trinta anos deixando ditar a política alemã pelo hóspede do Eliseu (Sede da Presidência da República Francesa), e não respeitando à letra o Tratado de Maastricht.
Porém, recusando qualquer eventual regresso ao passado, Henkel propõe uma solução: criar dois euros. Um para a Europa do Norte, séria, trabalhadora e poupada. Outro para a Europa que bordeja o Mediterrâneo. Uma tal solução, além de permitir à Itália, à Espanha e à França (Só? O senhor Henkel está a ser demasiado generoso com os portugueses, os gregos, ou os irlandeses, apesar de situados no norte...), as desvalorizações competitivas de que  necessitam, tornaria também mais fácil, a médio prazo, a adesão da Turquia à Europa. Do Sul, como é evidente.
Que a França não tenha lugar no "Euro do Norte", é para o autor alemão uma evidência. Para Hans-Olaf Henkel -que já foi administrador da Orange (equivalente francesa da PT)- os franceses nunca são realmente a favor da concorrência, e o Estado, que continua a ter um papel determinante na economia, dá sempre prioridade às promessas eleitorais, em detrimento dos seus compromissos europeus. Não merecem por isso ter um lugar na "zona euro", que assim seria constituída unicamente pela Alemanha, a Bélgica, a Holanda, o Luxemburgo e a Escandinávia.
Publicado três meses após um outro panfleto -"A Alemanha caminha para o abismo"- escrito por Thilo Sarrazin (DVA, 38 euros, em alemão, claro), na altura membro do directório da Bundesbank (equivalente alemão do Banco de Portugal)- este livro de Hans-Olaf Henkel é por assim dizer a continuação lógica do anterior, "surfando" na vaga do eurocepticismo.
De acordo com as sondagens, uma maioria de alemães continua a lamentar ter perdido o marco como moeda. Trata-se de uma tendência que, não sendo recente, é cada vez mais abertamente assumida, constituindo uma das chaves do comportamento  alemão face à crise actual."

Frédéric Lemaître, correspondente em Berlim do Le Monde, 08/12/10, página 14


Nota final:
Alguns dos leitores tomarenses de elevado gabarito intelectual, já citados no início, farão quase de certeza a sacra pergunta -"E que temos nós aqui em Tomar a ver com isso?" Nada, claro! É só por dizer que estamos situados na Europa do Sul, temos problemas estruturais, orçamentais, de crescimento e de emprego, habitando uma cidade periférica, de um distrito periférico, de um país periférico, integrado numa península periférica...E que os europeus do Norte continuam a pensar que aquém Pirinéus já é África.
Na mesma ordem de ideias -ironia da geografia e da história- aquilo que os alemães e outros europeus além-Reno pensam dos "quase-árabes do sul", é praticamente idêntico ao que os portugueses a norte do Mondego pensam dos "mouros". Basta saber ouvir os grandes empresários nortenhos...ou o castiço Pinto da Costa.
Face a tudo isto, se nos permitem um modesto conselho para o pessoal de um concelho modesto -O melhor é ir avisando a malta... E o mais útil!

 Os textos a preto e os esclarecimentos em itálico, são da exclusiva responsbilidade de tomaradianteira.