Mostrar mensagens com a etiqueta transportes caminho de ferro ramal de Tomar CP Autarquia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta transportes caminho de ferro ramal de Tomar CP Autarquia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O COMBOIO DO PESSOAL DA CP VAI SER PRIVATIZADO?

Copiado do PÚBLICO, com os nossos agradecimentos


A imprensa de hoje deu algum destaque à anunciada privatização dos serviços regionais de passageiros assegurados pela CP. O site d'O TEMPLÁRIO também aborda esse tema. Das notícias que lemos, a melhor e mais desenvolvida é a do PÚBLICO, assinada por Carlos Cipriano, na secção Economia.
Analisando com algum cuidado a ilustração supra, torna-se claro que, numa situação geral muito deficitária, apenas o chamado Ramal de Tomar se aproxima do equilíbrio, com uma cobertura de 97,4% das despesas, pelas receitas provenientes da venda de bilhetes. Algo excepcional, pois a outra linha mais próxima é a do Tâmega, com uma cobertura de apenas 52,3%. E mesmo o principal eixo ferroviário do país -a Linha do Norte- embora vendendo anualmente 4,7 milhões de euros de bilhetes, apenas consegue assegurar receita correespondente a 46,3% das despesas. Compreende-se, por conseguinte, que o governo procure aligeirar semelhante fardo, numa altura em que se sente cada vez mais apertado pela crise.
No que se refere ao Ramal de Tomar, os dados disponíveis indicam que poderá tornar-se rentável logo que os serviços assegurados correspondam ao nome que lhe é dado. Até que tal venha a ocorrer, será apenas o "Comboio do pessoal da CP". Não só porque a maior parte dos seus passageiros são praticamente sempre empregados da dita, ou seus familiares, que não pagam ou beneficiam de grandes reduções, mas também e sobretudo devido à curiosa exploração do dito percurso.
De acordo com os horários afixados, durante os dias úteis circulam no citado ramal 22 composições em cada sentido. Destas, 6 não partem de Tomar e 4 não chegam cá. Em ambas as situações é o Entroncamento que faz de cabeça de linha. Estranho realmente, para um ramal dito de Tomar, que só começa de verdade na Lamarosa. O resto do percurso faz parte da Linha do Norte.
Aos fins de semana e nos dias feriados, o movimento das composições é ainda mais peculiar. 8 não partem de Tomar e 3 apenas asseguram Lisboa-Entroncamento. Dado que apenas são assegurados 14 dos 22 comboios, em relação a um dia útil Tomar perde em cada fim de semana ou feriado 16 composições para Lisboa e 11 em sentido inverso.
Para complicar ainda mais a situação, tanto em Lisboa como em Tomar, a última partida acontece às 22:10 e 22:48, respectivamente. Quem trabalhe em regime de 3X8, caso entre ou saia à meia-noite, não dispõe de transporte ferroviário. Outro tanto acontece com quem pretenda assistir a uma sessão qualquer (cinema, teatro, música, bailado, futebol, etc). Quanto aos eventuais turistas de fim de semana, farão o obséquio de usar o automóvel. É mais caro e mais poluente, mas é também outra categoria.
Último remoque, houve em tempos composições directas em ambos os sentidos, entre Tomar e a capital. No tempo em que os quadros intermédios ainda não mandavam de facto na empresa. Depois acabaram, sem qualquer justificação, como vem sendo costume.
Com deficiente utilização dos cronocorredores disponíveis e horários feitos a pensar sobretudo nos trabalhadores da casa, é quase milagroso que mesmo assim se consigam cobrir 97,4% dos custos de exploração.. E permite imaginar o que se poderá conseguir quando e se um dia as composições circularem e pararem  tendo como único objectivo prestar serviço aos passageiros portadores de bilhetes, os chamados pagantes. Assim uma espécie de Metropolitano Expresso Regional.
Verdade seja dita que os quadros da CP tem podido agir unicamente em função dos interesses dos seus colegas porque, pelo menos no caso do Ramal de Tomar, os autarcas sempre se estiveram nas tintas para o assunto. Não há memória de que a Câmara de Tomar tenha alguma vez reclamado, protestado, requerido, representado ou sugerido à CP o que quer que seja. Atitude normal, no fim de contas, uma vez que autarca respeitável e importante é aquele que se desloca sempre na viatura paga pela autarquia, pois a gasolina e o seguro são igualmente custeados pelos palonços dos eleitores-contribuintes, entre os quais temos a honra de nos incluir.
Mesmo quando se trata de ir abrilhantar as tradicionais comezainas-tintóis-bailaricos, em que alguns autocarros alugados vão com lugares vazios, efectuar a viagem de ida e volta a bordo de um Opel de gama média-alta, é uma Insígnia de sucesso. Um emblema. Um brasão. Um sinal de que se está no topo da carreira. Ou quase. Falta só mais um degrau, mas nesta terra já nada é impossível. Sobretudo desde que a autarquia resolveu mandar fazer e pagar obras de vulto na Mata, que nem sequer lhe pertence. Ou silhuetas em aço para a Rotunda, que agora resolveu mandar para a arrecadação. Querem melhores sinais de que o dinheiro abunda, ali para as bandas dos Paços do Concelho?