segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ECONOMIA TOMARENSE - QUE FAZER? 2

António Rebelo

Na passada quinta-feira, abordei aqui sucintamente o problema económico tomarense e o estranho estilo heróico/triunfalista do actual "breviário", usado como "folha de estrada" pela maioria autárquica que temos. Nesse documento de trabalho, "Tomar 2015 - Uma nova agenda urbana", pode ler-se igualmente que "No dealbar do século XXI, Tomar evidencia não só uma vitalidade patente em vários indicadores, como perspectivas para robustecer e diversificar a sua base económica, recuperando-a e actualizando as suas vocações históricas: cidade de serviços, pólo de inovação e de competitividade, cidade de cultura e de saber."
Agora que à crise local se juntaram a crise nacional e mundial, soa a discurso de outro planeta o excerto que acabo de copiar. Apetece até dizer, sem ponta de humor, era bom, era!!!. Infelizmente estamos perante um sofrível exercício propagandístico, encomendado pelos mesmos que não se coibem de criticar a propaganda socialista a nível nacional. "Que bem prega Frei Tomaz, oiçam o que ele diz, não olhem para o que ele faz."
Na realidade, a base económica tomarense, em constante e evidente decadência desde há três décadas, poucas alterações sofreu no sentido positivo. É verdade que algumas PME vieram substituir as papeleiras e a fiação, mas os maiores empregadores do concelho continuam a ser a autarquia, o Ministério da Educação, o da Saúde , o da Justiça e o das Finanças. Continuamos, portanto a viver num concelho "tipo alentejano", mesmo tendo em conta o acentuado declínio da componente militar local. Nestes últimos três decénios e na área económica, novo novo e com grandes potencialidades, se devidamente aproveitado, só o Instituto Politécnico, que lamentavelmente nem sempre se tem mostrado à altura das circunstâncias.
O supra referido tipo ou modelo alentejano nada tem de objectivamente condenável. No século passado, quando as coisas evoluiam bem mais devagar, os países ocidentais detinham nítida superioridade tecnológica, e beneficiavam de matérias primas a baixo custo, o que lhes possibilitava largas margens de valor acrescentado e os consequentes benefícios sociais, até se pensou que seria uma solução durável. Porém, tudo mudou. A hegemonia ocidental esvai-se pouco a pouco, as matérias-primas estão pelas ruas da amargura , as altas taxas de valor acrescentado são agora uma recordação e os benefícios sociais tendem a definhar, tal como o "emprego para toda a vida".
Neste novo enquadramento, Tomar terá de encontrar um novo figurino económico, e quanto mais cedo o fizer, melhor será para todos. Na verdade, não só os maiores empregadores do concelho atingiram os limites das suas capacidades respectivas em termos de emprego/encargos orçamentais, como vão ter de "emagrecer" os seus quadros pela força das coisas. Vivendo, exclusivamente ou quase, do Orçamento de Estado, dele não podem esperar aumentos, (salvo em véspera de eleições, como acaba de ocorrer), apesar das despesas correntes aumentarem continuamente. E não podem esperar ajuda do governo de Lisboa, porque este se encontra praticamente impossibilitado de aumentar os impostos, apesar de também aí aumentarem constantemente as despesas correntes, em virtude do paradoxo bem conhecido dos economistas: "Demasiado imposto mata o imposto." Por outras palavras, a partir de certos limites, quanto mais o estado aumentar os impostos, menos receberá no total porque aumentarão as fugas fiscais.
A nível local as coisas são ainda mais graves. Aos consideráveis aumentos de encargos do município tomarense, responderam os autarcas com aumentos de taxas de toda a espécie, de licenças e até da água, que é das mais caras do país. Resultado, os cidadãos aprenderam a votar com os pés, como já referi em texto anterior, indo fixar-se nos concelhos vizinhos, onde tudo é mais barato. Contribuiram assim para a criação do círculo infernal, (que se calhar um dia destes passará a ser conhecido pelo "círculo tomarense") , em que a autarquia vai aumentando os encargos para os contribuintes, mas estes vão diminuindo de tal forma que a autarquia se vê forçada a novos aumentos, e assim sucessivamente.
É claro -para mim pelo menos- que tudo isto tem remédio. Neste caso, até dois tipos de remédio:1 - diminuir as despesas e 2 - aumentar as receitas, sem recorrer ao aumento de encargos, para evitar a fuga fiscal.
Tendo em conta o meio utilizado para difundir as minhas ideias, usarei a partir daqui uma linguagem alegórica, mais fácil de interpretar do que o jargão económico.
Consideremos então que a economia concelhia é um automóvel. O modelo actual está velho, ultrapassado, gasta demasiado, anda pouco e é pouco confortável. Há por isso necessidade de comprar um novo. Surgem as perguntas: que marca? que modelo? com que capacidade? a gasolina? diesel? Qualquer que venha a ser a escolha, acabaremos por ter um produto que mais não será do que um conjunto de componentes. Mas daqui não se poderá deduzir que comprando um conjunto de componentes, teremos um automóvel. Isto porque, bem vistas as coisas, um automóvel é um conjunto de componentes, mas montados de determinada maneira, numa determinada sequência, o que exige tempo, ferramentas, mão de obra e, sobretudo, conhecimento.
Passa-se exactamente a mesma coisa com a situação concelhia. As peças estão aí, prontas para virem a ser componentes de um potente veículo. Só tem faltado quem as saiba montar e detenha os conhecimentos necessários. Tempo, ferramentas e mão de obra há por aí com fartura.
Era basicamente isto que quis dizer, aqui há tempos numa reunião partidária, quando referi que tinha um projecto. Quase ninguém ligou, se calhar porque não consegui fazer-me entender. Paciência! Continuarei a insistir.

1 comentário:

H.Lobo disse...

Caro professor
Aprovo o seu comentário e acrescento um pouco mais, Tomar parou para obras no auge da economia despesista que criou a actual crise mundial, ou seja quando as pessoas tinha dinheiro para gastar fecharam as ruas fez-se obras bloqueram-se os investimentos, logicamente esse dinheiro foi parar nas cidades vizinhas, agora que tem "obras", tem as ruas desertas e as lojas a fechar, as pessoas mudaram o foco das compras e dificilmente retornarão e Tomar continuará a ser uma cidade com o presente adiado em nome de um futuro que não atingirá.