quarta-feira, 9 de junho de 2010

MUDAR PARA TUDO CONTINUAR NA MESMA?

Como habitualmente, terá passado despercebido o "chapéu" da notícia publicada no post anterior, referente ao Município de Beja. E todavia, esse simples início é no mínimo tão importante como todo o restante conteúdo. Isto porque, à boa maneira portuguesa, parece ter havido a preocupação de abrir a delicada questão do défice municipal da capital do Baixo Alentejo com uma réstea de esperança. O tal sebastianismo, profundamente entranhado em cada um de nós. Porque, sejamos directos e objectivos. Com a população a diminuir e a envelhecer, com as restrições provocadas pelas medidas de austeridade que já estão anunciadas e pelas que o hão-de ser, onde espera o executivo de Beja, ou o de Tomar, ou outro qualquer, conseguir um aumento de receitas? Em lado nenhum. Trata-se apenas de tentar animar a malta, tendo em vista as próximas eleições e a perpetuação das ideias segundo as quais "isto" há-de melhorar, pelo que há necessidade de mudar qualquer coisinha para que tudo possa voltar ao mesmo, diria o Lampedusa.
Em relação à produção e troca nas nossas sociedades, há pelo menos três grandes enfoques possíveis, cada um com as suas vantagens e óbvios limites. O primeiro é o dos gestores, tendência vinda dos USA no último quartel do século passado, que só mais tarde aportou por aqui. São os chamados operacionais, que procuram conduzir as coisas à maneira militar, com muitas receitas préfabricadas, prontas a usar. Quando falham, o que acontece com alguma frequência, ficam muito surpreendidos e nunca admitem de facto que o malogro foi provocado por eles próprios.
Os segundos são os autodesignados especialistas de ciências económicas. Igualmente de origem norte-americana, o seu calcanhar de Aquiles reside no facto de cuidarem convictamente ser a economia não uma ciência social, com todas as inerentes limitações, mas uma ciência exacta, pelo que basta encontrar as equações adequadas a cada conjuntura para, matematizando, sacar a melhor solução possível. São, entre outros, os arautos da muito gabada escola de Chicago, que foram apanhados com a calças na mão e levaram com um valente duche gelado ao explodir a presente crise. Até o oráculo Greenspan, da Reserva Federal Americana, verdadeiro papa dos apóstolos do liberalismo, acabou por meter a viola no saco. Para já...
Finalmente, no terceiro grupo, os aprendizes de economia política, sobretudo europeus, que lá vão estrebuchando, na busca de remédios, nem que sejam apenas analgégicos, nesta primeira fase, para as maleitas económicas que nos afligem. Tarefa longa, complexa e por enquanto inglória, pois apenas se deparam com hipóteses de cura ainda mais dolorosas que as doenças em questão. Destas, a principal, que condiciona todas as outras, é a inadequação do chamado modelo
social europeu ao novo contexto das trocas a nível global.
Durante os primeiros trinta anos após a segunda guerra mundial, foi possível um contínuo e elevado crescimento económico, facultado pela reconstrução, pelas matérias-primas baratas, o equipamento das famílias e, sobretudo, a liderança tecnológia e política da Europa e dos Estados Unidos. Desta fase dos chamados "trinta gloriosos", veio a resultar o supracitado "modelo social europeu", algo não totalmente homogéneo, mas com característica comuns: férias pagas, emprego com direitos, auxílio em caso de desemprego, abono de família, assistência médico/hospitalar tendencialmente gratuita, escolaridade obrigatória gratuita, valorização anual dos salários reais, alojamentos sociais, assistência social etc. Tudo isto, mais a cultura, a televisão pública, os transportes e o património, entre outros, fortemente apoiados pelo orçamento estatal, graças a elevadas taxas de impostos directos e indirectos. Apenas um exemplo elucidativo: em Nova Iorque, o IVA é de 13% por cento (acrescentado na caixa, mesmo no caso dos consumidores finais, o que quer dizer que não figura nos preços marcados em cada produto), que os nova-iorquinos já acham um exagero... Em contrapartida, os suecos liquidam em cada compra 25% de IVA. Sem pestanejar, porque beneficiam de serviços públicos numerosos, eficazes e de qualidade.
Tudo isto para concluir da forma seguinte. Desaparecidas as matérias primas baratas, a superioridade tecnológia da Europa e dos Estados-Unidos, a supremacia política e militar, deixou de haver, salvo em raros casos, como no Canadá ou nos países escandinavos, condições de sustentabilidade para o aludido modelo social europeu. Vamos, por conseguinte, ter de mudar, quer queiramos, quer não. E quanto mais tarde começarmos, quanto mais devagar andarmos, mais difícil vai ser.
Todos somos mais ou menos conservadores nalguns aspectos. Todos gostamos sempre mais daquilo que já foi do que das coisas que estão para vir. Por isso, vamos tentando remendar, em vez de comprar novo. Nas dramáticas circunstâncias actuais, sobretudo em cidades do interior como a nossa, na política há duas tentações a evitar, custe o que custar: A - Criar falsas expectativas; B -Mudar qualquer coisinha para ver se tudo volta ao que já foi.



16 comentários:

Anónimo disse...

Por falar em criar falsas expectativas.
Lembra-se de ter postado, no mes de Março, uma deliberação do executivo com a intenção de dar aumentos aos funcionários, da mesma forma que foi feito aos funcionários dos SMAS ou de Ferreira do Zêzere e acho que o Municipio da Barquinha, por exemplo!
Será que essa codea já foi ou vai ser dada aos funcionários? Pergunte, que vai ficar contente com o caminho que a tal intenção tomou.
Apesar da deliberação e da promessa da Vereadora do Pelouro do pessoal, não ha, como de costume, nada para ninguem, apenas serviu para entreter uns patetas.
Curiosamente, o fulano que manda nessa secção, auto promoveu-se financeiramente e obviamente no final do ano ele e a secção terão muito boas notas, é este o sistema de mérito que vigora na Função Pública.

Moral da história, em Beja os eleitos retiram 5% a eles mesmos, aqui, da-se e tira-se mas aos funcionários, pergunto eu, quem é que tem o maior corte nas despesas de pessoal, quem é?

Anónimo disse...

A Câmara de Beja, segundo li nos Jornais, tem um plano vasto de reestruturação que assenta em dois vectores: redução da despesa e captação de investimento.
Como tenho defendido, desde há mais de vinte e dois anos, Tomar precisa de nova política orientada para a reestruturação total da vida no Concelho. Nada se fez, e orientou-se a vida nabantina para o absurdo, apostando-se em sectores de baixos rendimentos, e que só podem sobreviver com baixos salários e trabalho precário, como o Turismo e a Cultura.
Tomar, além do seu progressivo isolamento, e também por isso, e não só, vai perdendo paulatinamente toda a sua base económica. Consequentemente, a sua capacidade de gerar receitas será cada vez menor. Em Tomar, não há, e haverá cada menos, investimento que crie emprego e rendimento, e modernize a actividade económica na margem do Nabão.
Tomar, outrora polo de atracção para o interior, já não o é mais, e vai sofrer da desertificação desse interior.
O Presidente da Câmara de Torres Novas, em entrevista à Rádio Hertz, afirmou que, em Tomar, não poderia fazer as mesmas mudanças na base económica do concelho nabantino que fez em TN porque aqui o ambiente social não é propício, o que é um facto.
Os tomarenses não terão aquilo que merecem ?

SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Rebelo, francamente, comparar canadianos e escandinavos com americanos e portugueses é comparar ouro com chumbo.
Os americanos, que maioritáriamente vivem na desgraça, têm, ao lado, no Canadá, um sistema social dos melhores do mundo, não o querem e classificam-no de comunista. Vejam o problema que foi para o Barack Obama conseguir um seguro geral de saúde.
Sobre a Escandinávia. Nesta crise ouve-se falar deles ? Não. São países organizados, mas também têm uma população civilizada. Pagam 25 % de IVA mas sabem que o dinheiro do Estado é bem aplicado. Os portugueses só querem que o Estado, ou outros, tomem conta deles. Os portugueses, como foi provado pela ONU, têm um baixo grau de entendimento e de civilização, são cruéis.
Hoje, dia 10, é dia de pagamento das Pensões do Centro Nacional de Pensões. Todos os pensionistas viram a sua Pensão ser reduzida por causa do aumento do IRS. Há Pensões que, este ano, já foram reduzidas por duas vezes. No início do ano, porque mudaram de escalão de IRS, e agora com este imposto reaccionário. Para que é servem estas medidas de austeridade ? Para o Estado continuar a esbanjar. Para alguns viverem do Rendimento Mínimo, e das organizações de caridade, apesar dos sinais exteriores de riqueza.
Não compare os portugueses com os suecos. É comparar o Robinson Crusoé com o Sexta-Feira.

Anónimo disse...

Mas uma das medidas do PEC anunciadas na altura não era a redução em 5% dos ordenados dos detentores de cargos públicos, incluindo os cargos autárquicos (câmaras municipais e freguesias)?

Se estou bem lembrado isso era um ponto assente, e assim sendo, não é necessário virem as autarquias confirmar tal decisão! Isso é só show-off para inglês ver!!!

Anónimo disse...

Hoje em Tomar sob proposta de Carlos Carrao, mas sobretudo de Luis Ferreira, a Camara atribuiu mais de 120 mil euros de subsídios a eventos e associações.

O que é que eles estão a ver que eu não vejo?
Mas em tomar estamos a investir em quê?

Vamos viver do Turismo e da Cultura?
Não acredito!

Anónimo disse...

Afinal isto ainda vai a pior

«Eu sei o que digo porque faço os trabalhos de casa, enquanto há muitas pessoas que falam demasiado sem saber o que estão a dizer! Por isso, afirmo que a Câmara é obrigada, todos os anos, a apoiar o futebol juvenil do União de Tomar. Ou seja, os trezentos miúdos com que o clube trabalha têm de ser apoiados».
Rui Costa (www.radiohertz.pt)

Depois de ler esta citação, não resisti e tive que ouvir com os meus ouvidos. Uma pessoa como o "Rui da sapataria", empresário que obrigatoriamente conhece a situação do país afirma o que atrás se reproduziu…
As esperanças são poucas, este País não tem emenda. Com todas as letras diz ele que (a Câmara é obrigada…) a apoiar os que gostam de futebol, e de judo, e de natação, e de brincar aos carrinhos e os que vão à missa, digo eu, porque não?
É assim, há dirigentes incompetentes que acumulam dívidas enquanto a Câmara vai dando até o que não tem. E o que fazer a seguir, para emendar o resultado da incompetência? É colocar a Câmara a dar mais e mais e mais… Vindo de uma pessoa qualquer era mau, vindo de quem vem é caso para dizer que isto ainda vai a pior porque a estes é que os políticos vão dando ouvidos.
O que não percebi, mesmo ouvindo que se considera narcizista é que o Rui Costa também se considerou intocável mas a certa altura baralhou-me, disse que tinha trocado umas instalações com a Câmara. Então, afinal deu a casa Lopes Graça ou trocou com a Câmara? Alguém esclarece?

Pequeno Dartacão disse...

Quem não quer que o Professor Paiva volte a Tomar não é Thomarense ! É um malfeitor que apenas nos quer ver na ruína e na desgraça.

VOLTE, PROFESSOR

Anónimo disse...

"Nós pertencemos à geração que levou este país à insolvência. Uns por irresponsabilidade, outros por incompetência, outros por resignação. Se são necessárias medidas duras para dar a volta a este país que se as tome de vez”. diz José Eduardo Carvalho, presidente da Nersant, via O Mirante.

Assim sim, é tempo das gerações que têm governado este país no pós 25 de Abril - que têm auferido grandes salários e abotoado abastadas reformas para as quais, ao contrário do que muitas vezes é dito, não descontaram verdadeiramente; para os que têm procurado apenas o lucro imediato; para os que entenderam a liberdade como libertinagem, ausência de regras e lei do mais forte ou mais esperto; para os que têm envergonhado o passado e borrifado no futuro - perceberem, aceitarem e declararem que são os grandes culpados pelo estado de coisas que no país e em cada um dos seus concelhos vamos atravessando.

E perceberem também, que embora exista uma geração que esteve de facto à rasca com a borrasca feita por seus pais, ela só é rasca na proporção do desenrascanço despesista e desobrigado, incompetente incapaz e indesculpável, daqueles que não souberam ser modelo, não souberam preparar e motivar, e apesar de tudo, por mais que esses irresponsáveis ultrapassados e conservadores o não queiram reconhecer, essencialmente com medo de serem corridos de onde quer que estejam, os jovens de hoje são os melhor preparados de sempre, tal como os que virão serão ainda mais.

Todas as gerações suplantam as anteriores, por mais que os seus progenitores os não saibam educar para aprender e construir.

HC

Anónimo disse...

Mas, António Rebelo não respondeu à questão que lhe coloquei.
E parece-me muito pertinente, já que essa notícia tem circulado por aí e agora tem honras de jornal público, e deu-lhe aqui no blogue um destaque ao qual julgo, faltará alguma assertividade que na análise doutras notícias mais locais normalmente coloca.

Pode uma câmara municipal decidir sobre o seu salário? Esclareça-nos por favor.

Anónimo disse...

Para 20:35

Tem toda a razão! Não lhe respondi e a questão é bem pertinente. Ocorre, todavia, que o fiz deliberadamente, aguardando que alguém desse pela evidente falácia da notícia em causa, o que finalmente aconteceu com o comentarista das 17:36 ( comentário fisicamente situado um pouco acima, em relação ao seu). Porque realmente, os autarcas de Beja apenas aproveitaram a ocasião para tentarem ludibriar (uma vez mais?) os eleitores daquela zona, levando-os a acreditar que tomaram a iniciativa da redução salarial, quando afinal todos os ocupantes de cargos políticos vão comer pela mesma (modesta) medida. São assim muitos eleitos deste país. Por isso estamos como estamos.

António Rebelo

Anónimo disse...

Para Pequeno Dartacão:

A escrever assim, o melhor seria identificar-se como darcalinadas. Porque tudo tem um limite e essa de quem não quer o regresso do professor Paiva é um criminoso, não lembrava ao careca.
E que tal uma boa dose de realismo e de coerência, antes de redigir os comentários?

aldeõesbravos disse...

Apoiado, haja um pouco de moderação, professor Paiva, quem é esse?

Anónimo disse...

É assim como o Prof. Karamba!

Safou-se e deixou Tomar de tanga!!!!!!

Olaré!

Anónimo disse...

Senhor das 19:17, eu agradeço a citação do que escrevi no meu blogue, mas francamente preferia que ficasse claro que não fui eu que aqui a escrevi.

cumprimentos

HC disse...

A chamada de atenção anterior é obviamente minha.

cumprimentos

Anónimo disse...

"
Hoje em Tomar sob proposta de Carlos Carrao, mas sobretudo de Luis Ferreira, a Camara atribuiu mais de 120 mil euros de subsídios a eventos e associações.
"

Bodo aos pobres.
Assim se compra a paz social. Distribuem-se migalhas ao povo. Pagam-se almoços. Dão-se viagens.
Nada disto parece decente. Nada disto parece sério. Mas desde quando a política é feita por gente séria?
Dá-se o que se têm e promete-se o que não se tem. Alguém virá passar o cheque final. Ou talvez não. O último que apague a luz antes de fechar a porta. Se a EDP não cortar a luz primeiro...