domingo, 30 de novembro de 2008

AUTÁRQUICAS 2009

A QUADRATURA DO CÍRCULO
A manter-se até ao escrutínio a actual situação, teremos em Tomar, no outono de 2009, a escolha eleitoral mais difícil desde que há eleições livres para a autarquia. Uma verdadeira quadratura do círculo, posto que, tudo o indica neste momento, haverá quatro candidatos, praticamente com iguais possibilidades de vencer, e todos igualmente do 1º círculo do poder local. Convém por isso examinar com cuidado todos os elementos disponíveis, capazes de ajudar a formar uma adequada opção de voto. É o que se vai tentar fazer, em prol de um melhor futuro para todos nós.
De assinalar, antes de mais, que todos os candidatos são ainda relativamente jovens, nascidos e educados em Tomar. Todos têm formação universitária, excepto Carlos Carrão. Corvelo de Sousa e Pedro Marques são advogados, Becerra Victorino é arquitecto. Carrão é contabilista , Técnico Oficial de Contas e o único com origem rural (Freguesia de Casais). Excepto este último, que terá algumas luzes nessa área, os outros não têm qualquer formação económica, lacuna importante no currículo de quase todos os políticos actuais.
Sendo certo que os quatro são, ou já foram, autarcas a tempo inteiro, nenhum "tem mundo", para usar a feliz expressão de Carrilho, pelo menos que se saiba. De todos, Pedro Marques é o que averba mais experiência autárquica, pois foi presidente durante dois mandatos, a que convém adicionar o presente mandato como vereador. Segue-se Carlos Carrão, com três mandatos, Corvelo de Sousa, com dois e Becerra Victorino, com um, na autarquia presidida por Jerónimo Graça.
Pedro Marques e Carlos Carrão já beneficiam de pensão de aposentação, por exercício de cargos políticos, completa para este, parcial para aquele. Corvelo de Sousa também já terá direito a essa regalia no final do presente mandato, se a ela se candidatar. A situação de Becerra Victorino é menos conhecida, pois é professor efectivo, mas já foi autarca eleito durante um mandato.
Do ponto de vista estritamente político, praticamente nenhum dos candidatos tinha qualquer experiência política relevante, antes de figurar nas listas autárquicas. Acresce que a experiência que adquiriram em mandatos anteriores é agora de pouca ou nenhuma utilidade, visto que mudaram totalmente as condições envolventes, sobretudo na área da economia política. Com efeito, como é do conhecimento dos meios informados, passou-se desde o início deste ano do chamado período das vacas gordas para um regime de penúria permanente, que tudo indica se irá manter. Para autarcas habituados a gastar abundantemente, sobretudo desde que passaram a beneficiar dos fundos europeus, vão ser indispensáveis adaptações dificílimas. Estarão à altura?
Outra questão delicada, prende-se com o estilo de política a praticar pelos novos eleitos, sendo óbvio que terá de haver reduções drásticas de despesas. Carlos Carrão e Pedro Marques são à partida os mais prejudicados com a nova situação de carência. Sabe-se, com efeito, que tanto um como outro pertencem ao grupo dos chamados políticos populistas, com os consequentes custos. Excursões, festas, febras e vinho para Carrão, futebol, desporto e associações para Pedro Marques. Tudo opções a rever, por força das circunstâncias, em caso de eleição maioritária. Os eleitores potenciais terão pois toda a conveniência em ponderar esse aspecto, caso os dois candidatos continuem a alinhar as suas opções por esses parâmetros. Dos outros dois candidatos, apenas se conhece a paixão musical de Corvelo de Sousa e as suas ligações familiares à Associação Cultural Canto Firme, o que tanto o poderá beneficiar como prejudicar, consoante as pessoas e as circunstâncias.
Quanto a novos rumos para Tomar, apenas Becerra Victorino e Corvelo de Sousa já abriram ligeiramente o jogo. O arquitecto do PS avançou, basicamente, com a ideia de democracia participada e a criação de condições para a fixação de pessoas e de empresas, sem especificar de que forma ou formas. No que toca à democracia participada, trata-se de mera visão do espírito, sem qualquer possibilidade de implementação real num concelho como o nosso. Dito numa frase curta: é um pouco como propor frigoríficos aos esquimós. Acresce que Becerra Victorino, certamente vítima involuntária de deformação profissional, vem dizendo nas reuniões da autarquia, que convém libertar terrenos para construção. Trata-se de uma proposta irrealista, pois neste momento, só na Quinta das Avessadas, ali junto ao hospital, há terrenos livres para alojamentos capazes de albergar 13.000 pessoas, ou seja praticamente o equivalente da actual população de Santa Maria dos Olivais. E não chegam? Pois há também os da urbanização da estação de caminho de ferro, que continuam às moscas.
Corvelo de Sousa por seu lado, em recente entrevista, lá foi dizendo que tenciona continuar a cumprir as actuais directrizes traçadas por António Paiva até final do mandato, apresentando então um programa diferente, se vier a ser designado cabeça de lista pelo PSD.
Em todos os casos, tal como já previsto em textos da imprensa local, são os programas eleitorais que vão permitir seriar os candidatos, pois pessoalmente são todos cidadãos estimáveis e, para usar uma expressão popular agora na moda, "boa rapaziada". Infelizmente para eles e para quem os ajudar, não vai ser tarefa fácil, pois tudo indica que, com a crise, os eleitores, pelo menos os mais informados, que são os urbanos, vão querer saber mais do que as usuais listagens de boas intenções, pois já estão fartos de ser enganados, com promessas mirobolantes que não passam disso mesmo. Todos se lembram ainda, por exemplo, do célebre parque temático, prometido por António Paiva... E acontece que, aqui no concelho, são os resultados urbanos que decidem quem ganha. Vamos portanto aguardando e mantendo intacta a nossa esperança que, como se sabe, é sempre a última a morrer.

Jerónimo Foice

3 comentários:

templario disse...

Bom texto. Boa informação. Gostei.
Ressalta, no entanto, deste artigo um critério de perfil de autarca que privilegia a formação universitária em prejuízo dos que a não têm, nomeadamente quando destaca a necessidade de formação na área da "economia política" para reunir melhores condições para liderar uma câmara. Discordo. À luz dos requisitos que considero fundamentais para o que chama "curriculum" pessoal, discordo dessa tradicional apetência cultural elitista para que a vida política local (é dela que estamos a falar) "deva" assim dar primazia a doutores, engenheiros e arquitetos, marcando o terreno social de onde devem sair os líderes locais.
Um PC deve saber assumir-se como o mais importante símbolo humano do espaço concelhio, sem comparação com membros do governo ou da AR; um exímio interlocutor com as associações autónomas, os líderes de comunidades, trabalhando com eles, delegando-lhe funções de serviço público e, obviamente, com a participação dos respectivos vereadores, dando-lhes liberdade para se afirmarem também na base de um programa de acção aprovado pelo executivo. Esta atitude, relação com os munícipes não se aprende forçosamente nas universidades. São qualidades que se aprendem mais na "vida", na política.
Também desvalorizo a circunstância de uns terem mais experiência que outros. Que experiência? Experiência burocrática?

Deixo claro que esta opinião em nada vai contra os que têm formação universitária. Ainda temos uma percentagem muito baixa.

Sebastião Barros disse...

Concordo inteiramente com as reservas levantadas e bem gostaria que aparecesse, na cidade ou no concelho, gente sem cursos universitários mas com bagagem humana suficiente para desempenhar com brio o cargo de PC. Infelizmente, só temos o Carlos Carrão, e não me parece que a via dele seja a mais adequada, sobretudo agora, que vai haver cada vez mais necessidade de reduzir despesas e arranjar receitas sem, todavia, sacrificar os contribuintes locais, sob pena de estes darem à sola para paragens mais amenas do ponto de vista fiscal.
Em conclusão, parece-me que estamos de acordo no essencial. Quanto aos candidatos e respectivos programas, teremos de verificar, no momento oportuno, se o candidato x ou y sabe ou não sabe rodear-se e ouvir.
Já agora uma achega: Jacques Delors, o melhor presidente que a Comissão Europeia já teve, pai da recentemente eleita presidente do PS francês, Martine Aubry, não tem qualquer curso superior, universitário ou não, e até já foi um bom ministro das finanças em França. Outro país, outros hábitos, outro ensino...

Anónimo disse...

escrutínio e não escrutíneo