Caiu que nem sopa no mel...
Na sequência da nossa modesta crónica anterior, sobre as autárquicas 2009 em Tomar, a habitual "Política à Portuguesa", do conceituado José António Saraiva, director e fundador do semanário SOL, caiu que nem sopa no mel.
Sob o título "O que faz as pessoas votarem neles?", aquele conhecido jornalista começa por mencionar o "Caso Freeport", José Sócrates, Mesquita Machado e Isaltino Morais. Depois, prossegue: E os exemplos (com nuances e contornos diversos) multiplicam-se pelo país fora: Valentim Loureiro, Fátima Felgueira, Ferreira Torres.
Não significa isto, note-se, que todos estes líderes locais sejam desonestos ou tenham culpas no cartório. Só a justiça tem poderes para os julgar.
Mas é inegável que, aos olhos dos cidadãos, eles são suspeitos. Ora isso não inibe as pessoas de votarem neles.
Pode até dizer-se, com alguma dose de maquiavelismo, que o facto de se pensar que um político tem menos escrúpulos, que não olha a meios para atingir os fins, pode funcionar a seu favor. Porquê? Porque transmite uma ideia de eficácia. De capacidade para resolver problemas. De desenrascanço.
Inversamente, um político sério, honesto, escrupuloso, pode ser visto como um "atado", um "choninhas". Cumpre rigorosamente a lei, faz tudo como deve ser, não infringe as regras nem salta por cima de ninguém, mas também não resolve nada. É impoluto mas não sabe ultrapassar dificuldades. Após várias outras considerações da mesma ordem, aquele conhecido e respeitado comentador, conclui, escrevendo que "os cidadãos acabam frequentemente por ser atraídos por políticos fortes, sem grandes escrúpulos, que cortam a direito e não se enredam nos meandros da burocracia e das leis. Acabam por votar em políticos que até poderão receber luvas mas são capazes de superar os obstáculos. No fundo, é o que dizem os brasileiros no seu modo expressivo de descrever as situações: "Ele rouba mas faz".
E para muita gente é preferível isso a não roubar -mas também não fazer.
Aqui em Tomaradianteira, não é hábito usarmos textos alheios. O chamado "jornalismo em 2ª mão". Decidimos abrir esta excepção, dada a importância e a pouco comum acutilância da prosa citada. Os leitores tirarão as suas conclusões, sendo certo que, no vale nabantino, pelo menos o político honesto e escrupuloso, mas "atado" não será muito difícil de descobrir. Quanto aos outros, o melhor é ficarmos por aqui. Por agora, naturalmente.
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