quarta-feira, 17 de julho de 2013

Convém ler com atenção...

Convém ler com atenção o que diz e pensa uma parte da guarnição do "rebenta-minas da austeridade" - a Grécia. 

Os que, como eu, foram mandados para a guerra em África e aí cumpriram a sua obrigação de então para com a Pátria, sabem do que falo: Daqueles dispositivos e veículos preparados para suportar o rebentamento de minas enterradas no solo, os quais, sempre na dianteira das "colunas" militares, salvaram muitas vidas. Pois quarenta anos mais tarde, no clima de conturbada e prolongada crise em que vivemos, é a Grécia que faz de "rebenta-minas" da austeridade. Todas as medidas gravosas são primeiro impostas lá. Só depois são sugeridas aos outros países sob assistência financeira. Importa por isso conhecer antecipadamente as reacções dos eleitores helenos...que se vêem gregos para aturar a exigências da troika. Ora faça o favor de ler:

"É a derrocada das nossas vidas", dizem os funcionários  em vias de despedimento"

"Terça-feira 16 de Julho haverá mais uma greve geral na Grécia, convocada pelas principais centrais sindicais e contra o voto pelo parlamento, até 19 de Julho, de um projecto de lei permitindo designadamente o despedimento de funcionários públicos. Administrações fechadas e transportes públicos parados. A Grécia funcionará a meio gás durante 24 horas e está prevista mais uma manifestação junto ao parlamento.
A mobilização social dura contudo desde o anúncio pelo governo do citado projecto de lei, há uma semana, com manifestações todos os dias e a ocupação de várias autarquias pelos funcionários respectivos. É o caso do pequeno município de Agios Dimitrios, a sul da capital. "Assim do pé para a mão, o governo que nos tinha prometido que não haveria mais medidas de austeridade, anunciou a supressão inevitável de 4 mil empregos públicos até ao fim do ano e que 12.500 funcionários têm de aceitar sem condições mudanças de colocação até ao final de 2014", refere indignada Maria (o nome foi alterado), assistente operacional há 17 anos. "Acusam-nos de haver pessoal a mais nos municípios mas, dos 70 mil funcionários das 300 câmaras municipais da Grécia, em 2012, já só restam 65 mil, devido às aposentações. Se suprimem ainda mais lugares, algumas autarquias vão ficar numa situação de incapacidade para cumprir as suas missões. Não é por acaso que os presidentes de Câmara nos apoiam", acrescenta Maria.
As câmaras manter-se-ão encerradas até ao dia do voto do projecto-lei, previsto para 17 de Julho, documento legislativo que prevê a mobilidade ou a passagem à disponibilidade dos funcionários públicos territoriais, mas igualmente a supressão pura e simples de alguns serviços públicos, entre os quais as polícias municipais (3.500 empregos), os guardas escolares (2.227 empregos) e departamentos completos nos liceus técnicos do país. "Cerca de 2.500 colegas estão sob ameaça de despedimento", diz-nos Nicky Bey, professora de grego num liceu de Atenas, durante uma das manifestações organizadas quase diariamente pelo sindicato de professores OLME nas ruas de Atenas, desde o anúncio oficial do novo plano.
"Dizem aos nossos colegas que vão colocá-los na disponibilidade durante oito meses, com direito a 75% do vencimento, que é de cerca de 900 euros mensais com horário completo, explica-nos Nicky. E a seguir? Querem convencer-nos que, durante esses oito meses, haverá um processo de avaliação e que  uma parte dos disponíveis será transferida para outros serviços, mas ninguém acredita nisso! Disponibilidade = despedimento, ponto final."
Devem por isso manter-se encerradas até 22 de Julho cerca de cinquenta fileiras do ensino técnico entre as quais, por exemplo, os departamentos de formação de ajudantes de enfermagem, de assistentes dentários e de ajudantes técnicos de farmácia.
"O que vai ser dos alunos inscritos nestas formações?, interroga-se Thémis Kotsifakis, dirigente do sindicato OLME. Vão ser forçados a ingressar nos IEK, os institutos privados de ensino técnico e nem todos têm os 5 mil euros que estes caça-dinheiro exigem anualmente a cada aluno como despesas de escolaridade."
A estupefacção é ainda maior nas fileiras da polícia municipal. "É totalmente injusto privar-nos assim do nosso ganha-pão. E não desconfiámos de nada! É a derrocada da nossa vida", comenta ainda incrédula Elenie, uma jovem de 30 anos, que se julgava protegida do desemprego pelos seus nove anos de antiguidade na polícia municipal de Atenas.
O governo prevê colocar na disponibilidade em 23 de Setembro próximo o conjunto dos 3.500 agentes da polícia municipal, ao mesmo tempo que anuncia a transferência de alguns deles para a polícia nacional. "Não temos qualquer indicação do nosso ministro a esse respeito. Nenhum total previsto para os abrangidos pela eventual transferência, nem qualquer precisão sobre os critérios de selecção. É a confusão total.", comenta Elenie.
Numa entrevista concedida na passada sexta-feira ao jornal populista grego Proto Thema, o primeiro ministro Samaras  convidou claramente os gregos a escolher entre "uma polícia municipal que só serve para passar multas e uma polícia nacional reforçada, para lutar contra o comércio das falsificações e proteger os bairros".
Estigmatizar a ineficácia dos funcionários públicos em vias de despedimento é uma táctica usada desde há meses pelos dirigentes gregos, a qual visa conseguir a aceitação pela população destas medidas muito impopulares.
Mas não é certo que os gregos estejam totalmente convencidos. Segundo uma sondagem do instituto Metron Analysis, publicada no último sábado,  47% dos interrogados são favoráveis a uma redução dos efectivos do funcionalismo público, mas 50% declaram-se contrários a estes despedimentos. E uma nítida maioria de 62% opõe-se à supressão das polícias municipais.
A mobilização social não parece ter por agora qualquer efeito na determinação do governo em fazer de uma vez por todas a reforma da função pública grega, exigida desde há meses pelos seus credores."

Adéa Guillot, Le Monde, 16/07/2013, página 12

Detalhe importante a fixar: Os 300 municípios gregos empregam 65 mil funcionários. Os 308 municípios portugueses albergam mais do dobro, (SICNotícias on line, em 29/04/2013): 147.495 funcionários, dos quais 115.562 nas autarquias, 17.095 na Madeira e 14.838 nos Açores. Se apenas com 65 mil vencimentos mensais na Grécia, a troika exige mesmo assim mais despedimentos na administração local, imagine-se o que aí vem... Segundo a mesma fonte "Rescisões no Estado deixam em risco 214 mil funcionários públicos"
Por isso Cavaco Silva procura conseguir um acordo tripartidário de salvação nacional. Nada acontece por mero acaso...

1 comentário:

Unknown disse...

-Sem dúvida que terá de haver reduçoes de pessoal na administração pública em alguns sectores como o do ensino, e em especial na administração local.
-Nas Câmaras existe sem duvida funcionários a mais, e em especial a de Tomar, só nos Drs e dras, engºs e arqtos poderá dispensar algumas dezenas provavelmente.
- Mas eu gostaria de lembrar, já que nao vejo aqui ninguem a escrever sobre isso é a profunda reforma que o proprio sistema politico precisa de ter, com a consequente eliminação de muitos milhares de Boys partidarios e a consequente poupança de muitos milhoes de euros.
- A meu ver o grande problema do país está nos Partidos/Politicos e na sua enorme rede de interesses em conluio com o poder economico.
Ex: Porque será que a Justiça não funciona!? Evidente que nao interessa ao poder politico que ela funcione. Veja-se nos EUA o caso do Madoff que foi julgado de forma rápida e preso por muito tempo. Veja-se na alemanha devido à polemica dos submarinos. Em portugal alguem é preso!? Todos continuam com o maior dos descaramentos nos corredores do Poder sem que nada lhes aconteça...