Expresso , 02/04/2011, página 2
Aqui temos uma infografia que é ao mesmo tempo uma boa ilustração do nosso triste fado. Com um salário mínimo que corresponde a 65% do espanhol e 45% do francês, para já não falar dos Estados Unidos, da Alemanha ou da Inglaterra, onde não há salário mínimo fixado por lei, temos dos Ipad 2 mais caros da Europa. Simplesmente porque, na chamada formação de preços no comércio, têm importância preponderante as despesas inerentes e, naturalmente, o lucro. Uma vez que em Portugal praticamente tudo é bastante mais caro que nos restantes países da Europa ocidental, segue-se que os preços dos produtos importados são igualmente mais elevados, devido às tais despesas fixas e variáveis.
É claro que os nossos governantes não agem assim por prazer. Fazem-no por imperiosa necessidade, tentando por essa via conseguir receitas para as crescentes despesas do Estado. Infelizmente para eles e para todos nós, a macro-economia é como a pintura artística, a natação ou a informática. Extremamente fácil para quem sabe, um problema quase insolúvel para os ignorantes. Acresce que neste belo país abundam os cidadãos que, não sabendo porque nunca estudaram tal coisa, presumem contudo poder desenrascar-se a contento. Começam então as trapalhadas, pois se há um ditado asseverando que "Presunção e água benta, cada qual toma a que quer", adoptando tal atitude, os tais "desenrascados" nunca chegam a aprender o que quer que seja de substantivo. Já sucedeu com os melhores, incluindo José Sócrates.
Em 2009, mal aconselhado, ou guiando-se só pelo seu instinto plítico, resolveu mandar injectar milhões na actividade económica, através da adjudicação de uma série de obras milionárias, tendo em vista contrariar a recessão e evitar o aumento do desemprego, ao mesmo tempo que concedia um aumento generoso aos funcionários do Estado. Limitou-se a seguir os ditames da doutrina keynesiana, dirá o leitor. É verdade. O problema, porém, é que comprometeu assim fundos que não tinha, acelerando a nossa marcha para o abismo. E nem a inopinada saída do seu ministro das finanças, o reputado economista Campos e Cunha, três meses apenas após ter tomado posse, o alertou ou fez mudar de rumo.
Sucede que, como referia no século passado um dos meus professores da área económica, a macro-economia não é imageticamente mais que um gigantesca rede de vasos comunicantes, semi-cheios ou semi-vazios consoante os pontos de vista, mas sempre com o líquido ao mesmo nível em todos eles, qualquer que seja o seu tamanho. De tal forma que, acrescentando líquido num qualquer dentre eles, o nível geral sobe, sendo a inversa igualmente verdadeira. Pelo que, gastando em excesso, o Estado está a aumentar o nível geral da circulação monetária, ao mesmo tempo que através das contribuições e impostos o vai diminuindo. Assim, quando não dispõe de fundos para poder agir, como era o caso em 2009, melhor fora que se mantivera quedo. Lamentavelmente, quem não domina sequer os rudimentos da economia política, ou da ciência económica, tão pouco consegue antever as implicações várias das decisões que toma. Situação particularmente perigosa, posto que, como é sabido, governar é prever. Está assim exposto, de forma imperfeita mas sucinta, o nosso drama -o governo PS já há muito que deixou de governar, limitando-se a procurar remediar caso a caso, agravando a doença com cada novo medicamento. Evita, por isso de vir agora tentar sacudir a água do capote, procurando endossar a outros as responsabilidades que são exclusivamente suas.
Mutatis mutandis, em Tomar, Corvêlo de Sousa replica, pelo menos desde o início deste mandato, o comportamento socrateiro em 2009 -obras, obras, obras, empregos públicos, empregos públicos, empregos públicos. Com dinheiro que não tem, nem virá a ter, uma vez que se trata de despesas sem retorno. Um exemplo flagrante da tal ideia errónea segundo a qual despesa = investimento. Resta portanto à autarquia nabantina a via do endividamento, caso o governo vá na conversa, visto que os limites legais já não chegam a 2,5 milhões de euros, quando a procissão ainda agora começou a saír da igreja. Só para a Bragaparques são à roda de 7 milhões, + alcavalas...
Por isso aprovou na passada terça-feira, em reunião extraordinária convocada para o efeito, um pedido de empréstimo de 990 mil euros, só para a parte que toca à Câmara na primeira fase do Convento e no Elefante Branco da Levada, tudo sem as habituais derrapagens do costume. Forçosamente, seguir-se-ão muitas outras reuniões e muitos outros pedidos, dado o cada vez mais evidente definhamento da já raquítica economia local. E a tendência é para o agravamento. Ainda ontem um pequeno comerciante da cidade antiga se lastimava, dizendo não compreender como era possível facturarem-lhe 15 euros mensais de taxa de resíduos sólidos, quando um colega do mesmo ramo, sediado noutra cidade da região e com instalações maiores do que as suas, paga apenas 4 euros. Se calhar será porque o outro autarca-presidente sabe qualquer coisinha de economia, ou tem melhores conselheiros, disse-lhe eu. "Pois, mas assim não consigo. Um dia destes fecho mas é a porta e não se fala mais no assunto. Andar a trabalhar para sustentar políticos é que não!" Aqui fica o aviso. De borla, mas sem barrete.
Conclusão
Ou a oposição resolve finalmente assumir-se como tal, acabando com o manifesto descalabro; ou os tomarenses deixam de andar a dormir na forma e tomam uma atitude colectiva; ou como diz o refrão "É prá desgraça! É prá desgraça! É prá desgraça".
Digo isto apenas para que conste, pois se ao nível do país, mais cedo ou mais tarde virá de fora quem nos governe (BCE, Comissão Europeia, FMI), em Tomar nem essa sorte teremos. Ou acordamos ou morremos, enquanto concelho com alguma importância. Está nas nossas mãos, que é como quem diz nas nossas cabeças.
Conclusão
Ou a oposição resolve finalmente assumir-se como tal, acabando com o manifesto descalabro; ou os tomarenses deixam de andar a dormir na forma e tomam uma atitude colectiva; ou como diz o refrão "É prá desgraça! É prá desgraça! É prá desgraça".
Digo isto apenas para que conste, pois se ao nível do país, mais cedo ou mais tarde virá de fora quem nos governe (BCE, Comissão Europeia, FMI), em Tomar nem essa sorte teremos. Ou acordamos ou morremos, enquanto concelho com alguma importância. Está nas nossas mãos, que é como quem diz nas nossas cabeças.
3 comentários:
Eu cá, tablettes, prefiro as da Regina!
Vamos lá fazer uma quermesse para recolher fundos destinados a oferecer um iPad ao pobrezinho do Rebelo...
Mas não é só o rendimento dos portugueses que é baixo.
Expliquem-me porque é que o brinquedo em Portugal custa o dobro do preço a que é vendido nos EUA?
Quem é que esmifra a diferença?
Somos duplamente explorados e roubados!
E continua a ser produzida riqueza diáriamente,o dinheiro existe,ninguém o queimou.
Só que vai mudando de mãos,sempre,invariávelmente,para as dos ricos e poderosos especuladores.
Só uma Revolução à escala global pode alterar o que se está a passar no mundo - autêntico extermínio económico do indivíduo,das famílias,dos povos,das nações.
Tudo controlado por 3 agências de rating americanas,pelos vários governos dos EUA e pela Alemanha,apoiados pela França e pelo Reino Unido.
O resto da "União" Europeia,o Japão,a China e os restantes emergentes "não jogam,nem dão cartas" neste póker restrito.
Hoje,a acção concertada da S&P,da Moody's e da Fitch,arruinam qualquer empresa,economia ou país em poucos dias ou até horas.
E parece que ninguém acorda...
Ao que isto já chegou.
Resta saber onde vai chegar e o que vai vir a seguir...
Quando...
Os de baixo já não aguentarem e os de cima já não puderem...
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