terça-feira, 19 de abril de 2011

VENDE-SE O COLISEU DE ROMA PARA EVITAR A SUA RUÍNA - 2

Antes do início da acção de mecenato da Tod's o Coliseu de Roma tinha 10 funcionários para receber os 15 mil visitantes diários


[O Convento de Cristo dispõe de 37 funcionários e recebe em média 315 visitantes/ dia (150 mil/ano), mas visitas guiadas só a pedido, embora cada bilhete de ingresso custe 6 euros.]

"Algumas vozes alertam que se trata de mais uma estratégia populista, destinada a converter  a conservação do património em emergência permanente, o que permite adjudicar contratos com privados, sem concurso nem qualquer controlo, ao mesmo tempo que se efectuam cortes orçamentais e se reduzem os quadros de técnicos e outros profissionais especializados na conservação e restauro. O alerta sobre a incúria com que Itália cuida do seu património já foi lançado várias vezes pelo próprio Presidente da República, Giorgio Napolitano, até agora em vão.
Uma recente reportagem do programa televisivo Ballaró, revelou que no Coliseu de Roma, o monumento mais visitado de Itália, apenas estão colocados 10 funcionários. Entretanto, os negócios das empresas privadas de serviços culturais vão de vento em popa. As bilheteiras e as visitas guiadas do anfiteatro romano, tal como as da maioria dos museus e zonas arqueológicas do país já estão nas suas mãos. De acordo com os convénios celebrados, cabe-lhes uma percentagem de 30% sobre os bilhetes vendidos. Só no Coliseu de Roma registam-se diariamente entre 15 e 20 mil visitantes, a 12 euros por bilhete. O mercado italiano dos chamados "serviços culturais complementares" é muito fechado. 10 a 12 empresas repartem entre si o bolo nacional.
Recentemente, numa ceia de quatro horas com os correspondentes estrangeiros acreditados, o primeiro-ministro italiano arranjou tempo para falar durante uns segundos sobre cultura e património. Há duas semanas, aceitou a demissão do ministro dos bens culturais, Sandro Bondi -o seu poeta de cabeceira- que se retirou desesperado com os constantes cortes orçamentais na área da cultura (quase mil milhões de euros na última década). Para o seu lugar, Berlusconi nomeou o anterior ministro da agricultura, Giancarlo Galan.
Na referida ceia, o primeiro-ministro italiano limitou-se a recitar a cartilha habitual, acrescentando-lhe outro dado mágico: "Temos 70% do património europeu classificado pela UNESCO".  Logo a seguir acrescentou que Galan -até agora conhecido como especialista em gado bovino- "é um homem muito culto e será assessorado por eminentes conselheiros independentes, como o nosso Sgarbi, que é mesmo um génio." Sgarbi é na verdade o crítico de arte mais polémico do país, mas defensor de Berlusconi na televisão estatal.
"É uma situação que me enfurece. Como quem assiste à reiterada violação da própria esposa", desabafa Gian Antonio Stella, jornalista do Il Corriere della Sera, que assina com o colega Sergio Rizzo o livro de investigação Vândalos: o ataque às belezas de Itália, no qual os dois repórteres fazem uma análise demolidora da degradação do património local, provocada  pela cegueira de uma política demasiado focada na sua própria sobrevivência para cuidar dos problemas do país.
A imagem de abertura da reportagem dos igualmente autores de A casta é fulminante: os pneus dos bólides oficiais rodam a grande velocidade sobre as calçadas da Via Ápia, a Regina Viarum, uma das mais importantes estradas romanas do império, aberta em 312 antes de Cristo, pelo cônsul Ápio Cláudio, O Cego.
Actualmente está encerrada ao trânsito urbano, para evitar danos num piso pensado para ferraduras de cavalos ou pés de viajantes. Contudo, a antiga via de ligação de Roma a Brindisi, pode ser usada pelos veículos oficiais e as ambulâncias em serviço urgente. Por isso se transformou no percurso preferido pelos políticos que pretendem chegar rapidamente ao aeroporto, todas as quintas-feiras à tarde, uma vez terminados os trabalhos parlamentares, pois assim conseguem evitar os engarrafamentos da capital.
"Os pneumáticos dos veículos oficiais blindados, pisando um frágil pavimento construído há 23 séculos para as quadrigas, são a perfeita metáfora da forma como a classe dirigente deste país ofende cada dia que passa os grandes tesouros italianos", escrevem os autores. "Não temos petróleo. Não temos gás natural, nem ouro, nem diamantes. Apenas possuímos uma única, grande e até imerecida riqueza: a beleza dos nossos sítios arqueológicos, a beleza das nossas medievais, a beleza das nossas mansões patrícias, a beleza dos nossos museus e das nossas cidades de arte."  E estão a desperdiçar tudo. "É um suicídio lento e obstinado, porque se está a sufocar pouco a pouco o recurso nacional mais abundante", argumenta Stella. (Continua)

7 comentários:

Anónimo disse...

CONTAS DA SAÚDE

«Tem-se desenvolvido na opinião publicada a ideia de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma boa, mas dispendiosa conquista social.

Seria até a melhor das conquistas de Abril. Todavia, relatórios e estudos de ‘think-tanks' têm injectado a ideia de que o SNS é financeiramente insustentável. O PSD acolheu acriticamente esta ideia e logo a seguinte, a da privatização progressiva. A noção de privatização foi agora substituída pela de livre escolha. Para ideólogos da direita não haverá uma sem a outra. Vamos aos números recentes da Conta Satélite da Saúde (INE 2010).

O SNS nunca foi um sistema inteiramente público. Em termos de financiamento, a parte pública representou, em 2008 (últimos valores disponíveis) 66% da despesa corrente em Saúde. A despesa corrente privada das famílias estava em 29%, sendo a diferença entre ambas (5%) atribuível a subsistemas e seguros privados.

Quanto à prestação, o SNS foi desde a origem um sistema misto, a cargo de operadores públicos e privados. Em 2008, o SNS encaminhou 68% do seu gasto para prestadores públicos - hospitais (52%) e centros de saúde (16%); e os restantes 32% para privados - basicamente farmácias (19%) e convencionados (10%).

O que diferencia o SNS de um sistema convencionado é a universalidade e equidade, garantidas pelo funcionamento público de hospitais e centros de saúde. Se estes fossem privatizados, ainda que parcialmente, como a cobertura financeira da população tem outras fontes para além do SNS, nos serviços anteriormente públicos assistiríamos à discriminação imediata no ponto de tratamento, em função da capacidade de financiamento de terceiros pagadores e do valor de co-financiamento pelo próprio utente. Nos serviços de prestação privada alargar-se-ia a lamentável diferença de acolhimento entre doentes a cargo do SNS e doentes pagos pelo próprio bolso ou por terceiros.

As redundâncias, quer na cobertura, quer no acesso aumentariam, com o correspondente disparar da despesa.

Assim se destruiria rapidamente a universalidade, a equidade e a desejada sustentabilidade.

O SNS pode ser racionalizado e tornado mais eficiente, de melhor qualidade e mais bom pagador. Prova-o a evolução da despesa entre 2000 e 2008. Até 2005, a despesa suportada pelo SNS cresceu, em média 5,7% por ano, com aumentos máximos de 7,1% em 2002 e 6,5% em 2005. Em 2006, a despesa diminui 3,9%, aumentou ligeiramente 4,1% em 2007 e apenas 0,9% em 2008. Tal foi conseguido em simultâneo com grandes ganhos de efectividade, avanços na qualidade, redução das listas de espera e criação de novos programas (unidades de saúde familiares, cuidados continuados, cheque dentista, cirurgia de ambulatório, saúde reprodutiva da Mulher). Desmantelar o SNS, mais que uma agressão ideológica, seria um grave erro económico.» [DN]

Autor:

António Correia de Campos.

Jumento blogspot

Anónimo disse...

Desmantelar o SNS ou, melhor, fazer sair o Estado sem dar nas vistas, aos bocadinhos, é um grande negócio. Qualquer cidadão aflito sem saúde, vende o que tem para se tratar (nos EUA vende-se a habitação para pagar cirurgias). Aí está um caso em que o Estado só atrapalha os "investidores". A educação é outro caso, apesar de menos interessante. Atenção às ideias para o País de Passos & Relvas.

Anónimo disse...

EM NOME DA TRANSPARÊNCIA ... Organograma da ONG AMI, do Dr Fernando Nobre

Organograma da ONG AMI, do Dr. Fernando Nobre O organograma da Fundação AMI - Assistência Médica Internacional (retirado do seu site), cujo presidente vitalício é Fernando Nobre, é deveras elucidativo. Os dirigentes dos órgãos da Fundação são quase t...odos, da mesma família NOBRE. Na Direcção, por exemplo, em 7 elementos, 5 são da família NOBRE. São eles Fernando Nobre, Leonor Nobre (irmã), Carlos Nobre (irmão), José Luis Nobre (irmão) e Luísa Nemésio (mulher de Fernando Nobre). As duas directoras adjuntas são familiares de Fernando Nobre: Leonor Nobre é irmã e a outra directora, Luísa Nemésio, é mulher de Fernando Nobre, que em 1992 aderiu à Causa Monárquica e mais recentemente candidatou-se à Presidência da República. O Conselho Fiscal é controlado pelo cunhado (Manuel Dias Lucas) - sim, o marido da irmã, Leonor Nobre ! A AMI recebeu ao longo dos anos avultados apoios, quer do Estado Português, quer da União Europeia. As contas desta Fundação nunca são conhecidas dos Portugueses… Inúmeras empresas portuguesas têm contribuído, activamente, com apoios muito significativos para a AMI. O candidato Nobre fala tanto em transparência, contra a classe política, porque não coloca em prática o que proclama nos seus discursos? Quanto recebe (salário mais ajudas de custo) como Presidente da AMI ? Os seus familiares quanto recebem na AMI ? Fernando Nobre dedica-se exclusivamente a AMI ? Qual é o seu património e o rendimento anual declarado ? A transparência é só para os outros políticos que tanto critica ? O discurso de moralização da política deve ser verdadeiro. Os Centros Porta Amiga estão encerrados durante os fins-de-semana e os feriados; os sem-abrigo e os excluídos socialmente não podem comer e tomar banho, durante estes dias. O Estado Português e a sociedade civil apoiam estes centros... Usar, numa campanha política, uma Fundação que não deve ter opções partidárias, religiosas ou de outros géneros, é reprovável à luz dos princípios que devem reger as Organizações Não Governamentais (ONG). Muitas questões nunca foram colocadas a este ex-candidato presidencial, quem só agora descobriu a politica e se julga muito mais sério do que todos os outros. Ver mais

Por: Antonio Manuel Teixeira

Anónimo disse...

Para solver o concelho de Tomar não se podia vender a Câmara com o recheio?

Anónimo disse...

Eu nem precisava de saber isto. Desde o princípio do mês decidi não mais fazer donativos à AMI.
De qualquer forma obrigado pelo esclarecimento.

Anónimo disse...

Os italianos parece que têm o que merecem. Ao que parece nós também. Quem manda eleger mafiosos put***** para dirigir os seus destinos.

Anónimo disse...

isso, defendam lá a máfia parola! Vá lá andem.....