sexta-feira, 24 de junho de 2011

NÃO SERÁ MELHOR MODERAR A BASÓFIA E TRABALHAR MAIS E MELHOR?

Foto Jacques de Givry/ML Bernard/Thierry Nava/Groupe F/Le Monde

É infelizmente demasiado recorrente ouvir tomarenses convencidos de que com o nosso património monumental, com o rio e a Festa dos Tabuleiros, havemos de vir a ser um grande centro turístico. Subentendido: nem vale a pena fazermos qualquer esforço, pois os turistas não terão outro remédio senão visitar-nos. 
Agora que se aproxima mais uma edição da Festa dos Tabuleiros, cai que nem sopa no mel esta local do Le Monde de hoje sobre a animação do Palácio de Versalhes, que está para Paris como Sintra para Lisboa. Ora leia e faça o favor de tirar as suas conclusões, respondendo depois a estas duas questões: 1 - Seremos mesmo europeus? 2 - Jogamos na mesma divisão do países da Europa mais a norte em relação a nós?

"Gôndolas e baile de máscaras em Versalhes para encantar as "noites venezianas"
Concertos, espectáculos e festas, de 24 de Junho a 17 de Julho, à volta de um encontro Luis XIV-Vivaldi"

"Vivaldi nunca pôs os pés em Versalhes, nem Luis XIV em Veneza. Nunca se encontraram sequer. Mas o marketing faz milagres: o músico e o rei encontrar-se-ão por ocasião das faustosas Festas venezianas, que o director Jean-Jacques Aillagon organiza no seu palácio de Versalhes.
De 24 de Junho a 17 de Julho, haverá óperas, concertos, recitais, baile de máscaras, fogo de artifício e espectáculo náutico. Tudo pela modesta soma de 3,5 milhões de euros.
Há decerto um lado fantasista nestas festas venezianas, com preços de entrada por vezes exagerados, mas igualmente uma operação de sedução em relação ao público potencial. O projecto data de 2008, quando Patrick Zelnik, o dono de Naïve, produtor de uma integral de Vivaldi, propôs a Versalhes organizar uma exposição e vários concertos. Três anos mais tarde, a ideia deu frutos: o traço de união entre Versalhes e Vivaldi será Veneza.
O fantasma da festa veneziana nunca deixou com efeito de assombrar o imaginário europeu. Em Versalhes, o parque do palácio tem o seu Grande Canal e uma Pequena Veneza -conjunto de construções e pequenos jardins onde habitavam marujos, gondoleiros e carpinteiros.
Os espelhos da Galerie des Glaces rivalizam de ingeniosidade com os dos mestres vidreiros da Sereníssima. Veneza fascina, como cidade de prazeres e de luxúria, onde pululavam cortesãs e escudeiros, esses jovens que os idosos maridos punham a acompanhar as suas jovens esposas, como meio de pelo menos saberem quem lhes punha os cornos. Veneza é igualmente a cidade onde o número de recém-nascidos abandonados era tal, que houve necessidade de instituir orfanatos, entre os quais a célebre Pietá, onde Vivaldi foi mestre de capela.
Já não há em Veneza jovens orfãs escondidas atrás das grades do coro, para dar concertos que arrastavam toda a Europa melómana da época. E a igreja de la Riva degli Schiavoni já dá só alguns concertos de medíocre qualidade, mesmo ao lado do luxuoso Hotel Métropole, no interior do qual se podem apreciar as colunas do antigo altar-mor, servindo agora de enquadramento ao balcão do Oriental Bar, onde as garrafas de bebidas fortes substituiram velas, luminárias e tabernáculos.
"Há no inconsciente colectivo de Versalhes a memória dos famosos Prazeres da ilha encantada, disse-nos Laurent Brunner, o responsável pelos espectáculos de Versalhes. "Não pretendemos de modo algum igualar esses oito dias de loucura festiva, que o jovem rei de 25 anos ofereceu, em Maio de 1665, à sua amante Louise de la Vallière, mas simplesmente apresentar uma espécie de transposição moderna e popular desse acontecimento histórico."
Para isso havia necessidade de gôndolas em Versalhes. Que Laurent Brunner foi obrigado a deixar em Veneza. "Não conseguimos convencer nenhum gondoleiro veneziano. Não conseguimos rivalizar com o rendimento que auferem durante os meses de verão." Houve portanto necessidade imperiosa de contactar coleccionadores por essa Europa fora e até associações de antigos gondoleiros. Tal como no tempo da flotilha de Luis XIV, Versalhes até comprou duas das quinze gôndolas, que desfilarão ao som das Quatro estações, de Vivaldi, no Grande Canal, com efeitos pirotécnicos do Grupo F e os jogos de água dos "plasticiens" do Grupo Cristal.
Laurent Brunner parece muito divertido por tudo isto ter lugar às sextas-feiras ao cair da noite, a menos de 400 metros da La Lanterne, uma das residências presidenciais.
Um baile de máscaras, tendo por tema obrigatório o Carnaval de Veneza, começará à meia-noite de 9 de Julho, no Laranjal do palácio. Naturalmente com forte conotação barroca, mas sem exclusivismo. "Não será um baile do século XVII, com música e danças da época, mas sim com música tecno. E por volta das seis da manhã será oferecido um pequeno almoço "café-croissants", no pequeno bosque Luis XIV, chamado Sala de Baile", concluiu Laurent Brunner. Sem esclarecer se também será possível mergulhar no Grande Canal, ou regressar a casa de gôndola."
Marie-Aude Roux, Le Monde

Programa geral dos festejos e respectivos preços de entrada:

Festival Veneza, Vivaldi, Versalhes, Palácio de Versalhes, Metro RER C, estação Versalhes Rive Gauche, telefone 01 30 83 78  89, de 24 de Junho a 18 de Julho, Bilhetes de 25 a 495 euros.
Concerto Vivaldi, 24 e 26 de Junho, de 45 a 150 euros.
Vivaldi sagrado e profano, 5 de Julho, de 35 a 130 euros.
Glória, 27 de Julho, de 45 a 80 euros.
Festas venezianas;espectáculo náutico; 24 de Junho, 1, 8 e 15 de Julho; de 25 a 55 euros
Carnaval de Veneza, baile de máscaras no Laranjal, entrada única 250 euros.

Nota final
E pensar eu que Filipe II de Espanha, Filipe I de Portugal, o mais poderoso soberano da cristandade, foi proclamado e aclamado rei em Tomar, por aqui tendo ficado depois durante mais de 3 meses...
Dá Deus nozes...

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