terça-feira, 7 de junho de 2011

RECORTES DA IMPRENSA INTERNACIONAL


Do "Nouvel Observateur" de 2/06/2011, página 57, com a devida vénia e os nossos agradecimentos:

"Um segurança interroga: "Há professores de Educação Física e Desportiva?" Levantam-se vários braços."Podem entrar", acrescenta. A fila reorganiza-se, disciplinada. Hoje, 26 de Maio, é dia de grande afluência ao Centro de Informação e de Orientação Profissional do Boulevard Montparnasse, em Paris. Em parceria com  o Polo Emprego [equivalente do nosso IEFP], a Reitoria parisiense do Ministério da Educação pretende constituir um stock de professores reservistas, para assegurar as substituições durante o próximo ano escolar. Esta espécie de feira de emprego é uma novidade. No passeio, militantes sindicais distribuem panfletos. "O ministério da educação reduz os lugares do quadro -grita indignado o delegado sindical do SNES- e quer sistematicamente recrutar contratados a 1.500 euros mensais a tempo inteiro, que acabam por nunca conseguir, ou, pior ainda, a auxiliares eventuais, que ficam ainda mais baratos."
Os candidatos da longa fila nem sequer o ouvem, ou fingem não ouvir. O que querem é trabalhar, mesmo mal pagos. Quinhentas pessoas responderam ao anúncio da Reitoria. Com um fato completo que já conheceu melhores dias, e de gravata, Jean Charles, 54 anos, foi despedido de um colégio privado de Neuilly [equivalente da Lapa, em Lisboa]: "Procuro um lugar de conselheiro de orientação."
Um homem de rabo de cavalo, de origem iraniana, vai vegetando com um doutoramento em artes plásticas. Só pede para poder ensinar a sua especialidade... Antes da sua licença de maternidade, Sarah era vendedora. Agora quer ensinar espanhol. "Como não tenho qualquer experiência de ensino, é capaz de ser uma desvantagem." No átrio do Polo Emprego, funcionários vão verificando os processos de candidatura: habilitações, carta de motivação, currículo...Logo a seguir, três empregadas da Reitoria vão perguntando a cada um: "Nome?, disciplina?" Os candidatos vão passando docilmente, respondem às perguntas, preocupam-se com o seguimento. Agora, cada um tem de afrontar o inspector da disciplina que escolheu. Um quarto de hora apenas, para o convencer. Rafael, 24 anos, cabelo curto, físico de rapper, deve passar a agregação de matemática este ano [tem portanto licenciatura + mestrado+ dois anos de preparação = 19 anos de escolaridade].Conta ao inspector o seu percurso de jovem da cintura de Paris, com pai de poucos estudos: apenas 15 anos de escolaridade. "Tive sorte, encontrei professores que me inculcaram a vontade de aprender e de ensinar." O inspector gosta. Entre os "aprovados", os "recusados" e os "a rever", coloca-o na primeira lista, em primeiro lugar e destacado.
Mas a Reitoria não faz promessas. Só virá a ser chamado quando e se houver necessidade. O trabalho precário será pago a 26,70 euros por hora. É pegar ou largar!"

Caroline Brizard


Nota final
No país do facilitismo e numa terra onde para chegar ao Paraíso basta subir a antiga rua principal, pareceu-me fundamental traduzir esta pequena reportagem. Não vá dar-se o caso de haver já por aí respeitáveis cidadãos (sobretudo jovens) a pensar que agora, com a nova maioria, os bons velhos tempos da fartura, dos subsídios, do dolce fare niente, dos empregos para toda a vida, das promoções automáticas, dos aumentos anuais superiores à inflação e das reformas  a 100% dos últimos cinco anos de ordenados, são já ali em baixo ao virar da esquina... O sonho comanda a vida, mas raramente enche os bolsos, ou garante sequer as refeições.

4 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Rebelo,

Conhecendo as suas ideias sobre Tomar e a posição que esta cidade deveria ter no panorama nacional, atrevo-me a deixar aqui um apelo:

Está na hora de avançar com um movimento cívico para a fusão dos concelhos de Tomar, Entroncamento e Barquinha.
Esta fusão permitiria criar um polo de atracção no centro do país - que é algo que tarda - e possibilitaria inverter a tendência de queda económica e social desta área.
Tomar deveria aproveitar este tempo de mudança para liderar esta mudança e não, e mais uma vez, ser ultrapassada pelos acontecimentos.

O Lacrau do Nabão

Anónimo disse...

De acordo. O tempo de "subir a rua principal", subsídios, promoções, aumentos maiores que a inflação e reforma a 100% (quando não a 120% líquido), foi o tempo do autor do blogue. Era bom mas acabou-se.E vai piorar.

Anónimo disse...

TERÁS SIDO...POR ACASO...UM DOS QUE AINDA ABOCANHOU NA VACA GORDA?


"...e das reformas a 100% dos últimos cinco anos de ordenados, são já ali em baixo ao virar da esquina..."

Anónimo disse...

Agora que as legislativas estão resolvidas, vamo-nos virar aqui para o nosso burgo.
O que queremos ser, cidade de turismo, de serviços ou industrial, talvez um pouco de cada dizem alguns, mas assim não estaremos a repartir esforços e recursos que não temos, julgo que devia-mos abrir um amplo debate ao que queremos ser. Até porque em turismo desportivo começamos a ter algumas possibilidades, o turismo baseado na visita do monumento histórico está esgotado, podemo-nos virar para o turismo cultural já começa a haver alguma coisinha mas falta muito a fazer. Ainda recente um artigo num jornal local dizia-nos que estudam em Tomar 10.000 alunos, não incluindo o ensino básico e pré-primário, mas os professores envolvidos também contam como mão-de-obra é pena é que mais de 50% viva no Entroncamento. Será que queremos uma cidade como Coimbra apostada no ensino?...... teremos apetências naturais para isso, somos uma cidade a 1.30 H de Lisboa e um pouco mais do Porto , vamos apostar nesta ideia !!!