segunda-feira, 27 de junho de 2011

VERBAS, MANUTENÇÃO E OBRAS VISTOSAS






Um dos aspectos surpreendentes, tanto para os turistas como para os indígenas mais atentos a estas coisas, é a realização por estas bandas de grandes obras, ao mesmo tempo que modestas tarefas de conservação, manutenção e limpeza ficam por fazer. Naturalmente "por falta de pessoal" ou "porque não há verbas disponíveis". Os aproveitadores do sistema, que pertencem a três grupos (os que ganham por cima da mesa, os que lucram por baixo da mesa e os que embolsam nos dois casos), argumentarão que é uma situação normal. Segundo eles, para as grandes obras há fundos europeus disponíveis, mas para os restantes casos não.
É verdade, sem contudo ser toda a verdade. É verdade que os fundos europeus podem financiar até 80% dos projectos apresentados. Mas não financiam nem os restantes 20% nem os 23% de IVA, o que vem a dar algo à volta de 43%... Apesar disso, continua a haver disponibilidade para as obras mais estranhas.
As duas primeiras fotos mostram outros tantos casos de manifesta falta de manutenção, de limpeza, nestes exemplos. No adro da Capela da Conceição, é vergonhoso constatar não só que a vegetação cresce a olhos vistos na juntas das lajes, mas também e sobretudo que ainda há lá detritos que ficaram na sequência do tornado do ano passado... Quanto à sapata do castelo, é ainda mais grave. Além do desmazelo evidente, testemunha também não ter havido adequada fiscalização aquando da empreitada para limpeza e revestimento com argamassa de cimento das juntas dos blocos calcários. Só assim se explica que vegetação espontânea consiga furar as ditas frestas.
Casos isolados? De modo nenhum. O ambiente é desolador para onde quer que um pacato cidadão se desloque, ao redor ou mesmo dentro da cidade. Nem sequer há disponibilidade para pintar a fachada da Igreja de S. João Baptista ou da sede da Assembleia Municipal. Como também não parece haver para limpar a cornija do Prédio Vieira Guimarães, onde funciona a Comissão da Festa dos Tabuleiros.Tudo mazelas evidentes, que todavia não obstam à continuação  de onerosas obras de fachada, cuja utilidade prática está por demonstrar.
As outras três fotos, sobretudo a última, mostram onde já se chegou no domínio da patetice e do inútil, aparentemente pelo menos, só para dar nas vistas e esbanjar dinheiro. Junto ao Convento, naquele tradicional cotovelo da estrada de acesso à fachada norte, procede-se agora à edificação daquilo que mais parece um troço da muralha do Atlântico, do Muro de Berlim ou da Barreira de Defesa de Israel. Para quê? Muro de sustentação não será, pois não sustentará nada, uma vez que, mesmo sem ele, nunca ali houve desabamentos, de contenção, também não, pelo mesmo motivo... Acresce que, tratando-se na realidade de uma língua de terra em declive, tipo fatia de queijo -como bem mostram as fotos- era quanto a mim (que sou leigo na matéria) muito mais simples, prático, proveitoso, rápido e barato terraplanar tudo aquilo, o que teria dispensado o citado paredão. Só não dava era tanto nas vistas, lá isso é verdade! Realmente, não é europeu nem pensa à europeia quem quer. É uma prática que requer muito tempo, muita vontade, muita leitura e muita reflexão, não ficando mesmo assim garantida a médio e longo prazo. Alguma vez lá chegaremos? Para já, estamos na fase dos estrangeirados -aqueles que completaram a sua formação no estrangeiro. O presidente da República, o ministro das finanças, o ministro da economia...

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é... não há dinheiro para estas pequenas obras de manutenção mas continua a haver para distribuir por colectividades e organizações e ainda na promoção de eventos de cariz duvidoso.

Anónimo disse...

Finalmente é conhecido o Governo de Passos Coelho/Miguel Relvas.
Depois dos Ministros, sabemos os Secretários de Estado.

O grande capital agradece e regozija-se!Já era de prever que o grande interesse de derrubar Sócrates era pura e simplesmente entregar ao grande capital - e de preferência ao mais baixo valor - o que resta do sector público, RTP, TAP, águas, electricidade, banca, transportes, etc., etc., com o inevitável e já anunciado aumento significativo do desemprego na maioria dessas empresas, mas este povo não se enxerga, deixa-se levar com facilidade no canto da sereia, quando der por ela já não há nada a fazer.

Preparem-se que agora vai começar a doer...

P.M.

Anónimo disse...

Vai começar a doer ? Ja me doeu que chegasse os anos do Xuxa, nao vao ser estes que me aleijam mt

Anónimo disse...

Uma das minhas mais recentes (e maiores) mágoas é não ver no governo qualquer um dos nossos conterrâneos (salvo seja) a integrar a lista de secretários de Estado.
Nem Paulino, o Paiva da Trofa, foi para Secretário do Tesouro e Orçamento, nem o inefável Carlos Carrão foi eleito para a área das Feiras e Romarias, ou mesmo para a Cultura, mercê das suas inesquecíveis "seashore Chronicles" escritas por entre pacotes de batatas fritas, cheiro intenso a bronzeador de côco, e mijadelas no fundo da barraquinha no buraquinho cavado à mão para o efeito...

A política é por vezes muito injusta...