Pretexto e encenação
Eis senão quando, a maioria PSD na autarquia resolveu convocar uma conferência de imprensa. É uma iniciativa sempre útil e de saudar, pois não há democracia sólida sem liberdade de informação, nem esta sem fontes credíveis. Disse uma vez o ditador Salazar que "em política, o que parece é". Neste caso, o que parece é que a autarquia, após anos de total calmaria, começou a sentir-ser cada vez mais acossada, e não só pela crise. Ainda bem.
Confrontada com uma situação cujos contornos ou gravidade ignora, a gestão PSD resolveu tirar partido da desgraça, usando a crise como pretexto e encenando uma inesperada reunião com a comunicação social. Ou não fosse um dos seus membros licenciado em Ciências Políticas.
Que a dita reunião foi convocada de supetão, está provado pelo facto de terem sido anunciadas iniciativas que carecem de aprovação prévia pela Assembleia Municipal, o que leva a pensar numa espécie de democracia às avessas. Em vez de debate prévio no local próprio, votação e anúncio público, fez-se exactamente o contrário. Nas barbas do presidente do órgão legislativo concelhio, que nada disse. Isto está bonito, está!
Sobre o conteúdo e a oportunidade das medidas anunciadas, o mínimo que se pode dizer é que não correspondem minimamente à época que atravessamos, ninguém sabe até quando. Trata-se, no meu modesto entendimento, de actos de caridadezinha, de esmolinhas, que até acabam por ferir a dignidade mínima dos destinatários.
Afirmou Corvelo de Sousa que "Apesar da situação não ser claramente de âmbito local, sabemos que esta crise já tem, e terá, impacto na vida das pessoas." Se tivesse pretendido ser mais explícito, poderia ter escrito, por exemplo "Apesar da situação não ser só de âmbito local..." De qualquer maneira, está dito, está dito, e revela que o nosso presidente ainda não entendeu que, encaixada na crise geral, há uma crise especificamente local, que já existia antes e continuará a existir após o fim da crise mundial. Ora esta falha é grave, posto que partindo de falsas premissas, só por mero acaso se poderão alcançar conclusões correctas. Na verdade, a autarquia tomarense, considerada em bloco, sabe pouco, trabalha mal e gasta demasiado. Por isso está numa situação de endividamento que não lhe permite tomar quaisquer medidas significativas de combate a crise local, que impliquem perda de receitas. É dramático, mas é assim e vale mais admiti-lo de vez, tendo em conta a advertência de Cavaco Silva -"As ilusões pagam-se caro".
Não querendo ser demolidor, nem arauto da desgraça, limitar-me-ei a abordar duas das medidas anunciadas. A primeira é a da eventual manutenção do preço da água, para os de menores recursos. Sabendo que no concelho os três primeiros metros cúbicos custam 47 cêntimos cada um, enquanto que em Lisboa custam 16 cêntimos cada um, estamos conversados sobre o alcance social da iniciativa.
Outras iniciativas estão contidas na frase "Vamos gerar eventos e potenciar a nossa MARCA para que haja mais turistas e mais visitantes na nossa cidade." Assim sem mais detalhes, trata-se de mero blá-blá-blá político/eleitoralista. Gerar eventos implica saber gerir eventos e os tomarenses não sabem. Perdem quase sempre dinheiro, bem feitas as contas. Potenciar a nossa MARCA, que marca? Falta de sinalização, falta de informação, falta de apoio, mau acolhimento, falta de qualidade, falta de boa vontade, preços altos? E com isto tudo ainda pretendem aumentar o número dos que nos visitam? Só se viessem enganados, o que obviamente não vai acontecer, visto que, com o agravar da crise, a primeira coisa que se corta são as férias e viagens.
Ou será por mero acaso que, com o descalabro da libra, os turistas ingleses já são menos 20% no Algarve?
Há centenas de anos, Camões, que apesar de zarolho, via muito mais que o comum dos mortais, escreveu que "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades" Com o tempo as mudanças têm vindo a acelerar-ser. De tal sorte que por estes dias, os cidadãos todos têm de optar. Ou dão o corpo à curva, ou são cuspidos. Convinha que os nossos autarcas pensassem nisso...
Sebastião Barros
5 comentários:
Curiosa mesmo é ver a reacção do PS a esta matéria, que logo de seguida na reunião de câmara apresentou 10 propostas concretas para combater a crise.
Não parece ter sido cheque ao Rei mas já se aproximou um bocadito. parece que aquela rapaziada da Voluntários da República finalmente acordou.
É que desde que nomearam lá o Arquitecto ninguém tinha ouvido falar deles.
Dêem uma espreitadela ao blog dos ditos para verem as propostas, é em http://pstomar.blogspot.com
Sibilina esta forma de propaganda do PS de Tomar.
Estes gajos estão a aprender com o papá Socrates!
Ai isso estão!
Realmente são medidas para ingles ver e não para tomarense ver. E ir ao bolso do contribuinte através da água faz pensar que se pratica o feudalismo em Tomar. Porque é que não aumentam a água a quem a rouba? O próprio SMAS sabe quem rouba mas não age. Cremos que, ao invés de um feudo, não há protecção nenhuma. Enfim com uma gestão parola e imberbe só se pode esperar que o resto da cidade caia e a próxima é de vez.Falam muito mas os ouvidos já não ouvem.
Cumprimentos.
JSR.
As medidas anunciadas pelo PS, ainda que bem intencionadas, úteis e mais palpáveis que as do PSD, não passam, mesmo assim, de mera medicina homeopática. Ou, se preferirem, asim uma espécie de pensos em pernas de pau bichocas.
O Luis Ferreira também avança uma música maviosa no seu blogue, que de solfejo sabe ele. De política local nem tanto. Pelo menos a julgar pelos resultados práticos.
A sua crença do designado cabeça de lista PS, não passa disso mesmo -uma crença alicerçada não se sabe bem em quê. E os tempos não vão para aventuras, não não!
A água está cara? Bebam vinho, seus aguadeiros!
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