segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

NÓS TOMARENSES E AS CRISES ACTUAIS

Morrer da cura?
António Rebelo
Na sequência da minha análise anterior, um dos amáveis leitores e posteriores comentadores, mostrou-se agastado. Segundo escreveu, limito-me a apresentar opiniões alheias e a falar de sentimentos, sem nunca apresentar dados de natureza técnica, pelo que não passo de um generalista.
Devo dizer que aceito tais opiniões críticas de boa vontade, pois elas apresentam uma das vertentes da minha actividade neste blogue. Cuido realmente de apresentar variadas opiniões, além da minha, de modo a que os leitores possam optar. Foi assim que me ensinaram. É assim que se procede nas sociedades realmente abertas e tolerantes, desde há pelo menos dois séculos. Naturalmente, outra é a educação nos países profundamente intolerantes, que professam ou professaram princípios contrários aos direitos humanos. Nomeadamente aquele que proclama que todos os homens nascem iguais...
Sou, também, um generalista, pois sempre me inclinei, no quadro da minha formação, para a vertente macro, embora nunca tenha gostado das curvas de Kondratief. Dito isto, que não é pouco, alegra-me que um ex-autarca procure informar-se sobre o mundo exterior e os seus cidadãos. Pode ser que assim consiga um dia ser menos egocêntrico e autocrático, marcas profundas deixadas pela sua formação académica e prática posterior. Adiante.
Decidi voltar ao tema da crise, que sei não ser nada popular, por estar seriamente preocupado, não só com o futuro próximo, mas também com o mais afastado. Como sabemos, a nível local, tanto a maioria PSD como a oposição PS apresentaram propostas ditas "contra a crise". Só os IpT mantiveram até agora um prudente silêncio. Ora acontece que estes são, também, a única força política que dispõe de adequado suporte na área da economia, o que pode muito bem estar na origem da sua atitude, que antes julguei revelar apenas algum embaraço.
Na verdade, tanto o PSD/Tomar como o PS/Tomar se limitaram, ao apresentarem as referidas medidas, a seguir a tendência governamental, em Portugal e na União Europeia. Agiram assim nos termos do chamado "desejo homólogo", ou "desejo mimético", segundo os quais tendemos sempre a desejar aquilo que os outros já desejaram e conseguiram. No caso em apreço, as medidas governamentais. Procedendo assim, é óbvio que não estão minimamente preocupados com a crise a nível local, mas apenas com os futuros resultados eleitorais. Trata-se portanto, no meu entendimento, de mera politiquice, que nem sequer denunciaria, caso não me parecesse tão perigosa.
A questão é a seguinte: Face a uma crise de contornos ainda não totalmente definidos, e com uma origem ainda algo obscura, os diversos governos, na esteira do estado-unidense, decidiram agir no sentido minimizar tanto quanto possível os danos previsíveis. No quadro da União Europeia aprovou-se a necessidade de assegurar a solvabilidade bancária e de fazer o possível para evitar o aumento do desemprego. As medidas tomadas pelo governo de Sócrates obedecem a essas normas, tendo obrigado o primeiro-ministro a um volte-face completo. Ainda recentemente, a prioridade era a austeridade, tendo em vista a redução do défice orçamental. Bruscamente, passou a ser exactamente a oposta. Gastar o mais possível, para manter a actividade económica. Quanto ao défice máximo de 3%, imposto pela UE, depois logo veremos, uma vez ultrapassada a violenta crise.
Neste consenso comunitário europeu de combate aos efeitos da crise, há três grupos de países para outras tantas situações diferentes. Até ao momento, os mais atingidos e com maiores problemas são os que não fazem parte do Euro. Incluem até a orgulhosa Inglaterra, cujo banco central se viu forçado a baixar a taxa de juro de referência para o nível mais baixo dos últimos trezentos anos. A Islândia, que desvalorizou a sua moeda em 45%, os países bálticos, que baixaram vencimentos e pensões, bem como a Polónia, estão igualmente entre os casos mais complicados.
Temos depois o chamado conjunto do Euro, que convém dividir em dois grupos, consoante a situação anterior de cada um. Antes, porém, vale a pena lembrar que, aquando do aparecimento da moeda única europeia, no final do século passado, o insigne economista americano Milton Friedmann, Prémio Nobel de Economia e papa da denominada "Escola de Chicago", prognosticou que, aquando da primeira crise grave, o euro não resistiria. Afinal, passa-se exactamente o contrário. Os países da zona euro são os que melhor têm resistido à crise, de tal forma que até a Inglaterra, tradicionalmente contra, começa agora a encarar a hipótese de aderir. Bem dizia o outro jogador que "prognósticos só no fim do jogo". Sobretudo na política e na economia, acrescento eu. Tudo bem, portanto? Antes pelo contrário.
Embora usando o euro como moeda, imediatamente antes da crise havia países com uma economia saudável e outros que nem tanto. No primeiro grupo figuravam a Alemanha, a França, a Holanda, Espanha, a Finlândia, todos com crescimento aceitável, défice baixo ou mesmo inexistemte e dívida pública inferior a 60% do PIB. O outro grupo integrava Portugal, Itália, Grécia e Irlanda, caracterizando-se por défices elevados e assustadoras dívidas públicas, todas superiores a 80% do PIB.
Volvidos uns meses, o horizonte económico é negro por todo o lado, particularmente naqueles países que, como Portugal, são forçados a aumentar muito a dívida pública para assegurar os fundos necessários às tais medidas de apoio. Há até já três casos exemplares. A Irlanda, que de melhor aluno da UE está agora na contingência de ter de solicitar a ajuda do FMI, tal como nos aconteceu nos anos 80 do século passo. A Grécia, que acaba de ser castigada por uma conceituada empresa de rating, o que vai encarecer os empréstimos a solicitar. A Espanha, enfim, que tinha, no início da crise, um excedente orçamental de 2,8% e agora já admite abertamente que o défice poderá vir a atingir os 6% e o desemprego uns astronómicos 16% (em Portugal a previsão é de menos de 10%). Tudo isto com um PIB a cair 1,6%."Caminhamos para algo de muito excepcional", disse o ministro espanhol da economia.
Os mais apressados, os menos atentos, bem como os que gostam mais de ler jornais desportivos, perguntarão com ar de desprezo -E que temos nós a ver com isso? Nada, evidentemente! A culpa é sempre dos outros! Todavia, se me permitem, gostaria de lembrar que, já antes da crise internacional, havia uma grave crise local, a qual continua a piorar. Provas daquilo que afirmo? As dezenas de casas para arrendar, as dezenas de apartamentos para vender, as dezenas de estabelecimentos para trespassar, as empresas que encerram, os eleitores que vão morar para outros concelhos mais acolhedores e dinâmicos. Afinal, basta andar nas ruas, olhar, saber ver e interpretar.
Tal como a nível nacional, os contornos da crise local são conhecidos. Elevadas despesas correntes custeadas pelos impostos, elevadas dívidas públicas, a liquidar com os impostos, diminuição das receitas e aumento dos diversos encargos. Sendo assim, como poderá a autarquia aumentar as despesas ou reduzir as receitas para acudir à crise, sem aumentar a sua dívida para com os bancos? E assim sendo, se já antes da crise era urgente, mas muito difícil, reduzir as despesas e aumentar as receitas, a que propósito vêm as medidas anunciadas? Para fazer como o governo? Mas o governo a isso foi constrangido pelos seus parceiros europeus. O executivo tomarense foi constrangido por quem ou por quê? Pela necessidade de propaganda eleitoral?
Continuo a olhar o horizonte tomarense e o que vejo deixa-me muito apreensivo.

12 comentários:

Anónimo disse...

Ao que é dado saber os IpT enunciaram (por escrito) na reunião da Assembleia os princípios que defendem e algumas das opções que irão ser propostas em concreto no local próprio - o executivo camarário.
Outros preferiram o "show off" na comunicação social.

Métodos, são métodos e cada é como cada qual.

O Sr. Dr. António Rebelo pode ler esses textos que foram distribuidos à bancada da imprensa (após a sua leitura).

No fim se verá o "que isto tudo vai dar" e para quem vai sobrar.

Anónimo disse...

A Assembleia Municipal não é um local próprio?!!!!
E cuidado com o show off, porque se é isso, o que faz o líder dos IPT num programa de rádio? Discos pedidos?

Anónimo disse...

O exemplo de propor em sede própria e por escrito é de louvar, seja por quem quer que seja. Quem não acha assim não é defensor da democracia. Sabemos de antemão que a Comunicação Social vive na cauda dos interesses e não na informação credível ao cidadão, o que é pena, pois já não temos, e felizmente, a censura. De louvar tal iniciativa e todos deviam seguir o exemplo.
Cumprimentos a todos os tomarenses.
JSR.

Anónimo disse...

AR não sabes do que escreves... são só intenções.
Dívida pública para aqui, impostos para acolá, tatatetetititototutu.
Coitado do Paiva mas mais coitado de ti. O Paiva foi o melhor Presidente de Câmara que alguma vez Tomar adoptou e saiu como queria... aliás ele não saiu vai voltar em breve.

Anónimo disse...

Queria apenas assinalar ao anónimo em 17:17 , cuja inteligência não me parece ser a sua principal qualidade, que em português, coitado é um indivíduo sobre o qual alguém praticou o coito (acto sexual explícito). Não me consta que algum dos mencionados tenha hábitos sexuais menos correntes.

Tromba Rija

Anónimo disse...

Que se saiba quer o PSD, através de Vitor Gil, que é economista, quer o PS, através de Hugo Costa que é também economista, têm na Assembleia Municipal pessoal político preparado para as questões económicas.

Os IpT não têm ninguém com essa formação ou apetência: João Simões é advogado, o José Júlio é o que é, Américo é um distinto motorista da PJ de Leiria e o José Vasconcelos as únicas noções de economia que tem, devem ser da economia das grainhas da uva...

Tenha dó ò Rebelo, que essa de considerar a 'incapacidade dos IpT' como cautela, pelos "altos especialistas" que têm na área da economia não lembra ao diabo.

E já agora os sítios certos para apresentarem as propostas são a câmara municipal e a assembliea municipal. Quem apresentou nessses dois orgãos propostas? IpT apresentaram 1 na reunião de Câmara e o PS apresentou 10. Posteriormente na assembleia PS apresentou mais 7, CDU apresentou uma recomendação, IpT, PSD e BE apresentaram de forma oral um conjunto de princípios.

Aguarda-se pela próxima reunião de Câmara para ver se o PSD apresenta finalmente alguma proposta concreta.

Ou não está preocupado com isso ó Rebelo?

Está visto!

Anónimo disse...

o Hugo Costa é aquele rapazinho que, de vez em quando, aparece na bancada do PS a substituir um faltoso?

Realmente um político de grande gabarito e quanto a conhecimentos económicos ficaram demonstrados na reunião da Assembleia da semana passada.

Gente ilustre, sim senhor!

Assim vamos longe!

Anónimo disse...

Nestas coisas como em tudo, é preciso usar de cautela e pensar um bocadinho antes de dizer ou escrever. Bem sei que, enquanto eu estou a dar a cara, os adoráveis contraditores acham melhor reguardar-se num sempre confortável anonimato. Mas mesmo assim! Se tanto o PSD como o PS têm na AM pessoal devidamente habilitado em economia, devo dizer que não se nota. Se calhar porque como há alguns licenciados em medicina que não são médicos, é capaz de também haver casos homólogos em economia.
Não sou nem tenciono vir a ser advogado ou sequer adepto dos IpT, até porque já estão servidos, mas informo que quando escrevi o que agora criticam, sabia bem o que estava a fazer, como sempre acontece. Mas cabe aos IpT decidir se devem ou não revelar quem é o seu principal assessor político, porque nunca tive nem tenho vocação para "bufo".
Saudações cordiais,

António Rebelo

Anónimo disse...

Na minha mensagem anterior, onde se lê assessor político, deverá ler-se assessor em economia política. Peço desculpa pelo lapso.

António Rebelo

Anónimo disse...

Rebelo como sei que não és burro e sabes a tabuada... acho que os IpT têm o Viana mas podiam ter outros como tu, por exemplo. Embora eu prefira um microeconomista pois vive na terra.
Já agora quantos trimestres teve a maior recessão da economia portuguesa do século XX? Sabes? Quando tiver tempo leio os teus posts.

Anónimo disse...

O Campos e Cunha, "reputado" economista e professor catedrático da UNL, foi ministro das finanças de Sócrates. Não aguentou pois deveria possuir características próprias para a posição.
O Teixeira dos Santos apresenta, ao contrário do antecessor, uma resistência militar e não tinha a "reputação" académica do Campos e Cunha quando iniciou funções.
Ora não é necessário saber muito de economia política para apresentar propostas como se vê. Pedro Marques estudou economia política na sua licenciatura; ensinou economia; tem um profundo conhecimento da realidade tomarense pelos cargos que desempenhou durante quase 12 anos e dispõe de características singulares, a que à maioria dos economistas de "escritório" faltam: conhece o terreno de trabalho e o campo de guerra como mais ninguém em Tomar. Igual a ele só António Paiva até no mau feitio (sempre necessário para as ocasiões especiais). Portanto AR concorre pelo Bloco de Esquerda e apresenta-te como assessor em economia, cultura, educação e mais coisas que queiras.

Anónimo disse...

O Pedro Marques percebe tanto de economia, macro e micro, como o Vitorino de mecânica.

Ou como o Corvelo de pintura...

Ora vão mas é aprender a regressão linear e descobrir a diferença entre a média e a mediana.

Se os IpT têm assim tantos conhecimentos de "contabilidade" "economia" e ciências afins, porque é que ainda não apresentaram uma qualquer proposta com pés e cabeça que se visse contra a crise? Ou é para levar a sério aquela de não aumentar a água? É isso que ajuda as famílias contra a crise em Tomar? Ora... É com isso que eles pretendem fazer oposição ao Corvelo e PSD?

Melhor, mas bem melhor é a proposta, em forma de recomendação, apresentada pela CDU, de alteração às Grandes Opções do Plano. Essa proposta em conjunto com algumas das propostas já anunciadas pelo candidato do PS Vitorino, podem ajudar efectivamente à melhoria da economia local.

Vejam por exemplo o que a Câmara do Cataxo já decidiu sobre isso.