terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PIOR A EMENDA QUE O SONETO

António Rebelo
PRÓLOGO
Para evitar eventuais equívocos, que são sempre aborrecidos, parece-me útil começar hoje com um Aviso à Navegação.
Aqui fica escrito, para os efeitos tidos por convenientes, que nunca suspeitei o anterior presidente da Câmara, nem suspeito os actuais membros do executivo de agirem deliberadamente em proveito próprio. Erram, como eu e como todos, mas estou persuadido que agem com recta intenção, dentro dos limites impostos pelos compromissos políticos anteriormente assumidos. Julgo conhecê-los o bastante, e há tempo suficiente, para poder garantir que se esforçam por fazer o melhor que sabem e podem. As minhas discordâncias com eles são, portanto, exclusivamente questões de diferentes opções políticas à partida. Que fique claro!
Da mesma forma, reafirmo que não ajo guiado pela cobiça, nem pela inveja, nem na mira de obter benesses, quaisquer que elas sejam. Apenas persigo aquilo que julgo ser o bem comum e a melhor maneira de o alcançar em cada caso. Por isso, peço aos leitores um acto de humildade. Têm todo o direito de me criticar, mas façam-no, por favor, nos limites daquilo que eu escrevo ou faço. Não de acordo com o que julgam que eu penso ou tenciono fazer. Até porque me habituei a dizer o que faço e a fazer o que digo. Oxalá todos agissem de igual modo. E vamos à crise e às propostas crismadas de anti-crise.
AS TRÊS CRISES
Já tive ocasião de escrever (Ver neste blogue "Tentar compreender a crise") que grassa actualmente no mundo aquela que é já a mais grave crise desde 1929, podendo até vir a ser a mais grave de sempre, mas que antes dela já o nosso país e a nossa cidade estavam em crise.
Temos, por conseguinte, três crises distintas, as quais, no meu entendimento, apenas têm em comum a principal causa: o comportamento económico moderno.
Como é sabido, o sistema capitalista no qual vivemos, é pragmático e não científico ou simplesmente planeado. Acrescente-se que, até ao presente, ninguém conseguiu modelá-lo de forma importante ou durável, nem tão pouco evitar as suas crises. Aceite este axioma fundamental, olhando para o século passado, designadamente para antes de 1974, os que então já estavam na vida activa lembram-se concerteza do comportamento económico clássico. Pode resumir-se na frase fascista "Produzir e poupar, manda Salazar." Por outras palavras e em "economês", primeiro produzir e depois consumir, ou primeiro ganhar e depois gastar. E assim foi durante muito tempo. O crédito era raro e caro, as mentalidades diferentes, pelo que cada qual só comprava aquilo para que tinha dinheiro, salvo raras excepções.
Como a segurança social ainda nem existia e as seguradoras eram raras, caras e com um leque muito reduzido de opções, os cidadãos nem sequer gastavam tudo o que ganhavam, a não ser por exiguidade de recursos. Caso contrário procuravam poupar, para uma doença, para um acidente, para o desemprego, para a velhice. E tudo o que de durável compravam, era usado até à última, sem preocupação de moda, em termos de vestuário, calçado ou acessórios.
No seu inexorável desenvolvimento não controlado, o capitalismo acabou por tornar necessária a cada vez maior expansão do mercado. Na Europa sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, em Portugal sobretudo após o 25 de Abril. Em ambos os casos, as matérias-primas baratas e a superioridade tecnológica europeia, tornaram possíveis margens de valor acrescentado bastante confortáveis, as quais permitiram sucessivos aumentos de salário, assistência na doença, subsídio de desemprego e férias pagas, base do actual "modelo social europeu", o qual resultou da resposta pragmática do patronato ao perigo comunista (nalguns países os PCs chegaram a conseguir, nos anos 70 do século passado, resultados eleitorais acima dos 20%). Não foi por mero acaso que o princípio das férias pagas foi adoptado, pela primeira vez, pelo governo francês da Frente Popular, em 1936, que incluia dois ministros do PC.
Como que correspondendo a todas essas regalias, a banca expandiu-se e facilitou cada vez mais o crédito, no que foi seguida por todas as grandes empresas. Chegou-se assim ao axioma inverso do comportamento económico clássico. Em vez de ganhe primeiro, consuma depois, passou a ser consuma agora, pague depois. É o chamado comportamento económico moderno, o qual veio a provocar as actuais crises. Com efeito, deslumbrados com tanta facilidade, nem as empresas, nem os governos, nem os consumidores se lembraram que "as árvores nunca chegaram nem chegam ao céu." Noutros termos, sempre foi óbvio que a espiral salários/preços, ou as bolsas em crescimento contínuo, não iam durar para sempre.
Desaparecidas as matérias-primas baratas, perdida a superioridade tecnológica e até a liderança política; invadidos pelos produtos baratos dos países emergentes, os ocidentais (Europa, USA) não resistiram. A prática aberrante dos subprimes, que obrigava quem menos podia a pagar os juros mais altos, foi a primeira peça a cair. Seguiu-se um gigantesco efeito dominó, que ninguém sabe neste momento quando e se vai parar.
A CRISE TOMARENSE
Posto que os tomarenses não têm qualquer influência, política ou outra, na crise mundial, europeia ou nacional, interessará mais tentar esmiuçar a crise tomarense. Embora com uma causa comum, a crise nabantina tem aspectos particulares. É mais antiga, mais grave e menos conhecida nos seus detalhes. Para além de resultar, como acabámos de ler, do comportamento económico moderno, engloba uma variante que nos é própria, embora não exclusiva. Além do já referido "consuma agora, pague depois", há em Tomar, desde há anos, uma variante específica do sector público. Pode ser resumida na frase "consuma à vontade que alguém há-de pagar." Para desgraça nossa, também neste caso a evolução natural não fora prevista. Face aos encargos obrigatórios cada vez mais altos, empresários e cidadãos começaram e continuam a debandar, numa espécie de "voto com os pés". Restam, essencialmente, aposentados e reformados, funcionários públicos e as grandes superfícies. Ainda por cima, estas cedo aproveitaram a euforia reinante para implantar pela calada um sistema moderno ligeiramente diferente de tudo o resto. Aos fornecedores, acenam com grandes encomendas todas as semanas e todos os meses, assim obtendo preços mais baixos e prazos de pagamento a 90 dias. Praticam o "compre agora, pague depois." Aos clientes exigem exactamente o contrário: "pague primeiro, consuma depois."
Graças a tais práticas, conseguem não só trabalhar exclusivamente com o dinheiro dos consumidores, mas igualmente colocar a bom recato o valor acrescentado, entretanto conseguido. Um parte considerável do rendimento dos tomarenses viaja assim para paragens mais rentáveis, em vez de contribuir para o desenvolvimento local. Porém, como as referidas empresas são bons empregadores e contribuintes, a autarquia nada pode fazer para modificar tal estado de coisas. Resta-lhe, portanto, como já referi anteriormente, arranjar maneira de aumentar as receitas e diminuir as despesas correntes. Por isso estou tão pessimista face ao futuro. Até agora, as propostas dadas a conhecer, vão todas no sentido inverso -diminuem as receitas e aumentam as despesas. Estamos, assim, perante um caso típico de "Pior a emenda que o soneto". Cabe, por isso, perguntar -Quem vai pagar?
Paulatinamente, vai-se aproximando o dia em que a autarquia nem sequer terá fundos próprios ou do Estado para pagar atempadamente os vencimentos e subsídios diversos. De momento ainda vão jogando com a retenção temporária de verbas para pagamento a fornecedores e com alguns empréstimos. Mas são práticas condenadas, designadamente pelo aumento dos encargos bancários. E o facto de procurarem vender o antigo Convento de Santa Iria no pior momento do mercado, mostra involuntariamente que o aperto é grande. Mais uma razão para mudar de rumo e começar a pensar em políticas adequadas à época, em vez de projectos prontos a montar.

12 comentários:

Anónimo disse...

"E o facto de procurarem vender o antigo Convento de Santa Iria no pior momento do mercado, mostra involuntariamente que o aperto é grande."

Pois é, Sr. Dr. António Rebelo, a Câmara perdeu o processo de expropriação do ex-Colégio Feminino que terá voltado "à estaca zero".

E agora ainda mais é preciso carcanhol para tapar um grande buraco.

O Sr. Engenheiro queria apanhar o ovo no rabo da galinha e deixou a Câmara pendurada no pau da roupa com a brilhante compra que fez de dois prédios, um só com as paredes inteiras, o outro com a miolo a degradar e em risco de queda.

Claro que o homem se passou para a Lusa Atenas a todo o vapor e ainda ficou a ganhar o dobro, mais o que escorropicha.

E o burro "semos" a gente, nós!!!

Tomar que é democrático.

E com neste novelo legou-nos o Corvelo (rima e é verdade).

Anónimo disse...

O Campos e Cunha, "reputado" economista e professor catedrático da UNL, foi ministro das finanças de Sócrates. Não aguentou pois deveria possuir características próprias para a posição.
O Teixeira dos Santos apresenta, ao contrário do antecessor, uma resistência militar e não tinha a "reputação" académica do Campos e Cunha quando iniciou funções.
Ora não é necessário saber muito de economia política para apresentar propostas como se vê. Pedro Marques estudou economia política na sua licenciatura; ensinou economia; tem um profundo conhecimento da realidade tomarense pelos cargos que desempenhou durante quase 12 anos e dispõe de características singulares, a que à maioria dos economistas de "escritório" faltam: conhece o terreno de trabalho e o campo de guerra como mais ninguém em Tomar. Igual a ele só António Paiva até no mau feitio (sempre necessário para as ocasiões especiais). Portanto AR concorre pelo Bloco de Esquerda e apresenta-te como assessor em economia, cultura, educação e mais coisas que queiras.

Anónimo disse...

Mas é que o homem não tenciona apresentar-se a coisa nenhuma! Diz que ainda não está farto de estar bem!

Porco Preto de Tromba Rija

Anónimo disse...

Para anónimo em 20/01 07:04


Só acredito naquilo que você
escreve quando tiver a hombridade de assinar por baixo com o seu nome de bilhete de identidade. Exactamente como eu faço. Caso contrário, faça um favor à malta aqui do blogue: abstenha-se de comentários do tipo deste. Olhe que quem diz o que gosta, arrisca-se a ouvir ou ler o que não gosta. E quando menos se espera.Homem prevenido, vale por dois. Depois não se queixe...

Respeitosamente,

António Rebelo

Anónimo disse...

“Amigo” Tó:

- Os blogues foram feitos para as pessoas escreverem livremente, tal como os heterónimos para esconderem formas e personalidades literárias. Lembras-te do Álvaro Cunhal? O que é que ele e outros fizeram durante a sua vida? E alguns milionários como Harold Hugues? Não sabes quem é? Go to the Wikipédia! Apesar de vivermos numa democracia disfarçada ainda somos sujeitos a muitas pressões e por isso preservo a minha vida privada para preservar a minha actividade profissional e vice-versa, mantendo o anonimato. E é com muito prazer, satisfação e obrigação intelectual que escrevo sem nome. Quem me obriga a mudar? Tu, Tó? O Manuel Faria? O Luís Ferreira? O Pedro Marques? O Sócrates? O Obama? Assina com o teu nome completo (o do BI), dá a cara (foto tipo-passe) ou coloca vídeos como o Luís Ferreira (mas pessoais, para aferirmos da tua originalidade e verdadeira personalidade). O que me pedes a mim deves empandeirar, por favor, para os teus parceiros deste blogue — Dêem a cara e assinem como tu mas nome completo, please! Pedes aos outros que façam o que não queres que os teus correlionários façam? Vai dar uma curva, artista.
- Depois quem se pica alhos trinca e tu não gostas de ser incomodado! Nem eu amigo Tó.
- Os teus pretensos intentos ameaçadores só me fazem continuar pois havemos, por certo, de ter um encontro olhos nos olhos, frente a frente e nessa altura “amigo” Tó quero ver a hombridade do apelido "Rebelo".
- Continuo a achar que tens tanto de homem como de puto pois no teu último post perdeste a compostura e mostraste, a quem te lê, a criança que vive em ti apesar da provecta idade.
- Também lamento a tua falta de humildade para ensinares às pessoas, que te lêem, o que é um ciclo económico. Escreves sobre crise e depressão mas as pessoas não sabem o que é um ciclo económico. Há um grande white noise em Tomar para fazeres um vídeo de apresentação sobre ciclos económicos e colocares no youtube. Faz o que te pedem pois ainda és mais presunçoso que o Hugo Cristóvão e o Santana Lopes. Humildade é o que precisas. Já te esqueceste da humildade científica que vestias aquando da defesa da tua tese de doutoramento? Ainda não apanhaste um susto… porventura? Mas quem sabe um dia és um dos habilitados.
- Por fim, endereço-te um “Mata Leão” daqueles que tu adoravas dar a quem te faz frente, mas lamento dizer-te que és um incompetente em técnicas de defesa pessoal, “amigo” Tó.

Anónimo disse...

Correcção atempada do post anterior: deve-se substituir o vocábulo "correlionários" por "correligionários".
Penitencio-me, humildemente, pelo erro. Sempre ao serviço da comunidade.

Anónimo disse...

Thanks my dear "friend" Mr. Diogo de Arruda.
My best regards!
Tive um professor que fazia questão de projectar e distribuir apontamentos com erros. Qual era o objectivo deste aparente paradoxo? Obrigar os alunos a estudar ao pormenor, a corrigir os tópicos do Mestre e a irem mais além.
Senhor DA eu passei, incorrectamente, o nome próprio do Hugues mas o senhor DA escreveu erradamente "diretor". Cada bobo no seu galho mas é assim que gosto: ir ao detalhe. Thanks one more time, "amigo" DA.

Anónimo disse...

Senhor "amigo" DA escreva qualquer coisa que eu prontamente lhe farei a correcção como vossa senhoria o fez com o meu "preservo a minha vida privada para preservar a minha actividade profissional e vice-versa, mantendo o anonimato".
Preservar duas vezes serve para reforçar que efectivamente preservo, "amigo" DA.
O senhor "amigo" DA nunca escreve nada de "jeto" é só bitaites. Escreva que eu tentarei dar o meu melhor.
O senhor e meu "amigo" Tó fazem cá uma Vara. Olha que dois.
Bom, vou passar pelas brasas que logo tenho que fazer baldes de massa para o pedreiro.

Anónimo disse...

Era para não responder. Todavia, como acertou numa coisita, mudei de intenção.
Continua realmente a existir em mim uma parte da criança que já fui. Ainda bem, penso eu! Pena é que nem todos tenham a humildade de se assumirem, embora a aconselhem aos outros.
Essa insistência no meu nome completo e na fotografia deixa-me perplexo. As diversas polícias e outros organismos de segurança é que costumam tentar sacar tais elementos, para constituirem ficheiros monumentais, que não têm em vista ajudar os cidadãos ou a democracia. Feitios...
Não vislumbro o que me poderia levar a escrever sobre ciclos económicos, posto que nunca leccionei nem tenciono leccionar economia, mesmo política e não empresarial. Tomando como referência aquilo que dele já disse, quem é bom para isso é seu amigo Dr. Pedro Marques.
Presumo, mas admito poder estar equivocado, que a grande questão é outra, bem diferente. Por portas travessas, são várias e de diversas origens as provocações no sentido de me levarem a dizer/escrever mais sobre o projecto global que afirmei e reafirmo ter para a cidade. Se tal é o caso, não vale a pena insistir. Mais detalhes, só quando estiver em posição de poder implementar o dito projecto. Caso contrário irá comigo para a cova. Para não ir sozinho, mas acompanhado com um projecto e a ilusão de que poderia ter contribuído para o renascimento da cidade, caso os homens fossem mais humildes e menos obstinados nas suas erradas opções politico/económicas.
Conforme dizem os chineses há séculos: Se tem remédio, por que te queixas? Se não tem remédio, para que te queixas?

António Rebelo

Anónimo disse...

Ok "amigo" Tó percebe-se agora que tens um projecto mas não o submetas a Pedro Marques pois é muito teimoso: sabes como ele é.
Também Einstein foi criança senão nunca teriamos a teoria da relatividade geral e estrita.
Por fim, sei que és o mais competente, em Tomar, para explicar o que é um ciclo económico. Quem mais pode ser? Um professor do secundário ou do superior? Não Tó, tu és o melhor e ninguém escreve e sabe tão bem destas coisas como tu, pelo menos cá. Agora só falta transformar o discurso em "miúdos" para os tomarenses te perceberem.

Anónimo disse...

Para anónimo de 21/1, 5:31

Muito agradecido pela suas imerecidas palavras, pouco correntes nos blogues tomarenses. Dito isto, permita-me um pequeno reparo. Foi necessário ultrapassar os 65 anitos para alguém me tratar por Tó. Não é que seja desagradável, mas tem dois inconvenientes.O primeiro consiste em fazer crer aos leitores que somos amigos, o que não pode ser o
caso. Os meus amigos, mesmo os de infância, nunca usaram tal termo para me designarem ou chamarem. O segundo é mais subtil: Como decerto deve saber, um tó é um porco, embora a toa não seja uma porca. Por exemplo: Os autarcas de Tomar andam à toa, não significa que andem atrás de alguma porca. Ainda que...como há quem use a designação "a porca da política"...
Quanto ao resto, quem sou eu para dar lições a quem quer que seja. Procuro apenas exercer os meus direitos de cidadania, e chega. Obrigado pela informação sobre o Dr. Pedro Marques, que julgo conhecer quanto baste. Fui, durante 8 meses, chefe da divisão municipal de cultura, quando ele era presidente. Parece-me melhor ficar por aqui.
Cumprimentos,

António Rebelo

Anónimo disse...

Sim, e ele ficou farto de ti, ao ponto de...