sábado, 3 de janeiro de 2009

MAZELAS TOMARENSES -A mania das caixas


Recordo que esta série de mazelas visa demonstrar que as asneiras já detectadas na Ponte do Flecheiro e obras envolventes, não são nem um caso isolado, nem obra do acaso. Antes mais um exemplo das consequências de falta de projectos adequados, de fiscalização conveniente, de oposição eficaz, etc. etc. Por outras palavras: São o habitual pão nosso de cada dia.
Antigamente, no século passado, antes do 1º mandato PS/Pedro Marques, ainda S. João era a cidade velha e os velhos prédios eram simplesmente arranjados, podiam-se fazer obras de conservação com pouco dinheiro e poucas formalidades. Apareceu então determinada pessoa, nitidamente garganeira e temperamental, que tudo procurou mudar, de acordo com as suas coinveniências. A cidade velha passou a ser, pomposamente, "Centro Histórico", este foi classificado, e começaram os grandes problemas. Os prédios velhos até deixaram de ser arranjados, conservados, ou adaptados. Passaram a ser reabilitados, requalificados ou redignificados. Para qualquer obra passaram a ser indispensáveis projecto de estruturas, projecto de arquitectura, projecto de cores e paramentos, projecto de água, projecto de telecomunicações, projecto de esgotos, projecto de isolamento térmico, acompanhamento por arqueólogo, licença de demolição, licença de obras, licença de ocupação da via pública, fotos da fachada do prédio, etc. Quando determinado requerente reclamou contra a exigência do projecto de arquitectura, alegando que não pretendia alterar o exterior do imóvel, a tal criatura, que dispunha de delegação de competências, enviou ao referido munícipe, como resposta, uma fotocópia da página do Diário da República, onde constavam os honorários dos arquitectos...
É claro que com tanta exigência para satisfazer a crescente voracidade da estrutura burocrática, muitos cidadãos foram desanimando e desistindo. Por isso há cada vez mais prédios antigos em ruínas. Os outros, os mais corajosos, são cada vez mais pressionados com exigências de toda a ordem, as quais não contestam porque são naturalmente submissos, por herança sociológica. Aparecem então os casos mais insólitos, como o documentado na fotografia que encima este texto. Sem oposição acutilante, sem protestos dos interessados, sem reclamações na imprensa, os técnicos competentes, os tais que dominam a estrutura burocrática, convenceram-se de que têm sempre razão. Vai daí, conseguem impôr soluções que acabam por ser inestéticas e ridículas. Neste prédio de dois andares pequenos, a fachada ostenta nada menos de 12 caixas de visita. Com mais três no solo, são 15. Convenhamos que, para dois inquilinos, é obra! Num outro prédio do mesmo lado, mas alguns metros mais abaixo, o proprietário parece ter tido mais sorte. Como requalificou (ou reabilitou?) mais cedo, só teve de instalar 7 caixas de visita.
Para dizer toda a verdade, até estou convencido de que, com a evolução galopante a que assistimos, um dia destes as caixas de visita serão um dos indicadores de "status". O vendedor de imóveis poderá então dizer ao potencial comprador -Olhe que é um prédio excelente. Tem 30 caixas de visita, já pode ver! E pensar que, durante milénios, a humanidade viveu sem caixas de visita! Entretanto, a autarquia, que tantas exigências faz aos cidadãos, nem acaba as obras naquela zona, nem explica qual ou quais os impedimentos. E a oposição e a imprensa acham tudo tão natural que se vão calando. Desde Março de 2008... Ganda País! Ganda terra!
Cão Tinhoso


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