John Maynard Keynes
Milton Friedman
Nota prévia:
Tradução e nota prévia de António Rebelo
Fotos Nouvel Observateur
Nota prévia:
Michel Rocard é um dos grandes pensadores políticos franceses actuais. Produto da prestigiada ENA, que forma desde 1945 a élite dos dirigentes gauleses, foi inspector de finanças, fundador do PSU, primeiro-secretário do PS e primeiro-ministro. Ultimamente tem elaborado relatórios sobre assuntos sensíveis (taxa carbono, grande empréstimo) para o presidente Nicolas Sarkozy, seu adversário político.
As declarações que a seguir reproduzimos são de leitura difícil e exigem, para o seu cabal entendimento, uma bagagem prévia que nem todos possuímos, mas que poderá ser complementada com a ajuda da internet. Basta ter a paciência de googlar com cada um dos nomes mencionados e saber ler os resultados. Permitem igualmente perceber quão grande é a distância que nos separa das "grandes cabeças" do nosso tempo, a qual nos impõe a maior humildade possível perante os homens e as coisas.
"-A crise já está ultrapassada ?
-Deve estar a brincar ! Ainda vamos sentir alguns solavancos antes de extrairmos conclusões do que estamos a viver. O mundo capitalista conheceu uma profunda revolução desde há trinta anos. E é isso que agora é posto em causa. Não se anda para trás. Após a segunda guerra mundial, três grandes estabilizadores económicos foram instalados. A segurança social: um terço dos rendimentos das famílias em França ( um quinto nos Estados Unidos), passa pelas transferências sociais; por conseguinte, as crises económicas deixaram de ser trágicas, já ninguém morre de fome e Steinbeck já não escreve outra vez "As vinhas da ira". Segundo estabilizador: a intervenção económica do Estado. É Keynes. Os governos utilizam os poderes monetários e orçamentais para corrigir as oscilações do sistema. Enfim, terceiro estabilizador, a política salarial. É Henry Ford e a sua célebre tirada "Pago bem aos meus operários para eles poderem comprar os meus automóveis". A forte distribuição do poder de compra às famílias apoiou o consumo e alimentou a poupança, permitindo financiar o investimento.
-E foi tudo isso que derrubaram a pouco e pouco durante os últimos trinta anos ?
-O fenómeno mais visível foi a expansão da esfera financeira. Em 1971, o dólar americano desliga-se da referência ouro. As paridades entre as diferentes moedas começam a flutuar. Para se protegerem, as empresas solicitam aos bancos e às seguradoras que inventem instrumentos de protecção contra os riscos de câmbio. Dez ou doze anos mais tarde, tais instrumentos transformam-se em produtos financeiros sofisticados -os chamados produtos derivados- que se podem vender e comprar livremente, para especular. Em 1970, quando circulava no mundo um dólar para as operações da economia real, circulava outro dólar para a economia financeira. Trinta anos amis tarde, a mesma relação é de 1 para 120 ! Uma loucura total, os mercados virtuais onde se começam a construir fortunas em total desconexação com a economia real, e mesmo podendo brutalizá-la. As revoltas da fome em África, em 2008, são o resultado da irrupção dos produtos derivados nos mercados do trigo e do leite. Ao mesmo tempo, tais produtos permitem ao sistema bancário deixar de se preocupar com a solvabilidade dos devedores, o que aumenta ainda mais a liquidez virtual e a bolha especulativa. Empresta-se a qualquer um, proclamando "todos proprietários, todos capitalistas, todos investidores na bolsa, fim da luta de classes". É o discurso do presidente Bush filho. Inventam-se veículos financeiros nos quais se disfarçam alguns créditos duvidosos, no meio de créditos seguros. E retira-se tudo dos balanços dos bancos. A crise explode quando em conjunto os bancos se apercebem de que deixaram de poder avaliar a cada momento a fiabilidade dos seus parceiros bancários. Deixaram de emprestar mutuamente e foi o bloqueio geral do crédito, incluindo a letra ou livrança de fim do mês do comerciante da esquina. E foi assim que a crise passou da esfera financeira para a economia real.
-Mas porque é que as economias reais são tão sensíveis aos choques financeiros ?
-Porque sofrem de forte anemia. O aumento do desemprego começou em 1972, com o choque petrolífero. É o outro aspecto desta revolução du capitalismo. Escavacaram o motor "salário" do crescimento ! Os accionistas tomaram o poder. Até ao princípio dos anos 70, os dividendos eram fracos e os accionistas os prejudicados do sistema. Mas quando começaram a ser representados por fundos de pensões, de investimento, de arbitragem, passaram a exigir rentabilidades bem mais elevadas das empresas. Começou então a "externalização" de praticamente todas as funções de mão-de-obra intensiva. Os construtores automóveis, por exemplo, limitam-se agora à montagem final do produto. Fabricam 20% do valor acrescentado daquilo que nos vendem, contra 70 a 75% há 25 anos. Daqui resulta a subida vertiginosa do trabalho precário e do desemprego. É muito poder de compra a menos. Bem como a origem do afrouxamento do crescimento e da terrívrel situação social. As proporções entre desempregados e precários variam. No universo anglo-saxónico, mais precários = menos desempregados. Na Europa, exactamente o contrário. De qualquer forma, são por todo o lado 25% dos trabalhadores. E é por isso que temas a constante estagnação económica.
Por outro lado, o estabilizador "Keynesiano" foi pulverizado. Milton Friedman recebeu o Prémio Nobel de Economia em 1976. Foi o triunfo da doutrina económica segundo a qual o mercado se auto-equilibra, sem qualquer intervenção estatal, e este equilíbrio é o mais perfeito. Este sistema de pensamento tomou conta do FMI, do Banco Mundial, dos governos americano, japonês, inglês... Posto que os mercados se auto-optimizam, quanto menos estado melhor. Foi a doutrina Reagan-Thatcher. Baixaram os impostos, aumentaram os défices, provocaram a explosão da dívida pública..."
(Conclui no próximo post)
Tradução e nota prévia de António Rebelo
Fotos Nouvel Observateur
11 comentários:
Excelente post!Leitura fácil e compreensível à maioria dos leitores.(a contrariar a indicação prévia no início.) Aguarda-se a continuação.
Cumprimento-o pela selecção sábia e oportuna do artigo.
Alice Marques
O M. Friedman e o "mercado" tambem intoxicaram a Comissão Europeia...daí o estado e os rumos da Europa.
ALS
Uma boa "lufada" de ar fresco...Obrigado Rebelo. Espero próximos capítulos... jorgeneves
Meu caro António Rebelo, é sempre um enorme prazer ler os seus textos e a mensagem que neles vem reflectida.
O seu contributo para a formação de uma opinião correcta e exigente é, talvez, o mais lúcido e o mais límpido a que tenho assistido nos últimos anos por terras do nabão.
Muito gostaria que o velho ditado "água mole em pedra dura tanto bate que até fura" fizesse escola em Tomar para sairmos desta mediocridade reinante em que vamos vivendo.
Eu sou um positivista, sou daqueles que acha que vale a pena dizermos mil vezes ao vento que O REI VAI NÚ!
José Soares
Meu caro António Rebelo, é sempre um enorme prazer ler os seus textos e a mensagem que neles vem reflectida.
O seu contributo para a formação de uma opinião correcta e exigente é, talvez, o mais lúcido e o mais límpido a que tenho assistido nos últimos anos por terras do nabão.
Muito gostaria que o velho ditado "água mole em pedra dura tanto bate que até fura" fizesse escola em Tomar para sairmos desta mediocridade reinante em que vamos vivendo.
Eu sou um positivista, sou daqueles que acha que vale a pena dizermos mil vezes ao vento que O REI VAI NÚ!
José Soares
Bom dia António Rebelo,
Milton Friedman é o pai do liberalismo selvagem, doutrina que conduziu as economias ao estado em que estão na maioria dos países do mundo. Quem mais sofre são os países em vias de desenvolvimento como o nosso, que se encontra numa situação de beco sem saída, qual barco amarrado ao cais.
Esse "ilustre" americano utilizou os países da América Latina como cobaias da sua teoria "revolucionária" e veja-se no que deu.
Ler a obra desse "economista" é como ler o Mein Kampf, por isso, não lhe dou os parabéns pela escolha que fez...
...é apenas uma (a minha) opinião!
Não, sr. Jo$é $oare$, o $enhor não é um po$itivi$ta. O $eu negócio é outro, e o$ seu$ intere$$e$ já estão mai$ que entendido$. Por i$$o não faça de nó$ parvos, porque percebemo$ muito bem onde o $enhor quer chegar.
Afinal quem é que vai nu?
Jo$é $oare$, António Rebelo, Milton Friedman, John Keynes, Michel Rocard, José Barroso ou José Sócrates?
Eu gostava era mesmo de ver a Soraia Chaves em pêlo...
Para anónimo da 10:40
Uma das vantagens do sistema capitalista é que pagando consegue-se tudo. Já falou com ela a esse respeito ? Até pode ser que...
Sempre pode ver o "Crime do Padre Amaro". Ela passeia-se por lá tal qual veio ao mundo...
Acho que a Soraia Chaves, por muito desesperada que ande não descia tão baixo e vir por-se a saldo em Tomar! E logo em Tomar...
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