sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

HÁ COISAS REALMENTE ESTRANHAS

Este é o magnífico aqueduto dos Pegões, ou Pegões Altos na linguagem popular. Orgulho da freguesia arrabaldina de Carregueiros, sucessora da freguesia de S. Martinho, mais tarde S. Miguel de Porrais, a imponente construção data do chamado período filipino, ou dos reis espanhóis. Foi edificado entre 1596 e 1613, para resolver o problema do abastecimento de água corrente ao Convento de Cristo, naturalmente graças aos rendimentos da opulenta Ordem de Cristo, de longe a mais rica do país. Classificado como Monumento Nacional desde a primeira metade do século passado, é parte integrante do Convento, e infelizmente uma espécie de enteado do IGESPAR, a entidade que administra a antiga casa da ordem. Certamente apenas por desconhecimento, e não por desmazelo ou desprezo, a referida entidade tutelar insiste de forma estranha na ideia de proceder à limpeza/lavagem da Janela do Capítulo, iniciativa cujas vantagens estão por demonstrar, quando no mesmo monumento há situações de bradar aos céus, a necessitar de providências urgentes.


É certo que para os menos conhecedores, o aqueduto já há muito deixou de ter qualquer utilidade para o Convento, até porque a água que nele deveria correr é agora desviada pelo caminho. Trata-se, contudo, de uma visão superficial das coisas, conforme pretendemos demonstrar no próximo post.
Para já, fiquemo-nos por este tristérrimo aspecto parcial do interior da primeira "casa da água", a contar da velha Cerca do Convento. Datada no exterior de 1613, com uma excelente porta em ferro forjado e esta magnífica abóbada em meia esfera que se vê na fotografia, encontra-se há décadas de porta escancarada, à mercê de todos os vandalismos. A antiga e bela decoração pintada, de tipo geométrico, cujos indícios ainda são visíveis, é agora praticamente irrecuperável na totalidade. A própria abóbada, vítima do tempo e da incúria dos homens, um dia destes fará a sua derradeira viagem, rumo ao solo. Seguir-se-ão os habituais lamentos, do tipo "ninguém previa uma coisa destas", ou "eu bem avisei, mas ninguém ligou nenhuma..."

Uns quilómetros mais adiante, a grande casa da água e nascente da Porta de Ferro, junto aos Brazões, uma construção de 1610, com abóbada de berço e um engenhoso sistema de repartição das águas, está neste estado miserável. Parece um edifício colonial abandonado, numa qualquer planície africana ou sul-americana. O que aqui vemos são duas paredes exteriores e a respectiva cobertura. Onde devia estar um telhado de telha romana, ou de canudo, há um autêntico bosque do tipo mediterrânico. Deverá ser o resultado do tal desconhecimento do IGESPAR. O que se compreende. Apesar de relativamente perto do Convento, não há qualquer estrada decente que chegue até aqui. Tem de se andar um bocado a pé, depois de perguntar o caminho à reduzida população local. E em tempo de chuva sujam-se os sapatos, situação sempre aborrecida, já que ninguém gosta de passar por borra-botas. Quanto a sinalização para turistas, nem falar ! Se até na cidade há falta dela, estavam à espera de quê, aqui no meio de uma mata rural, onde os turistas nunca chegam ?


3 comentários:

Anónimo disse...

Realmente é muito estranho, tanta beleza e tanto património Às urtigas mais a mais na comemoração dos Mil Anos de Sabedoria. Parece-me mais que serão necessários Mil Anos de Saboaria.

Anónimo disse...

Tristeza

Pensamentos soltos disse...

O Sr Rebelo, já esá a seguir os meus concelhos, neste caso as aldeias, já começa a sair um pouco daquela "cova" que neste tempo torna-se muito humida e fria. Bem haja e que ventos o levaram até aos pontos mais altos e ver que há uma imensidão de coisas que aparentemente até podem ser boas, mas visto ao seu redol talvez até não, continue ...