segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A PULGA E OS ELEFANTES

As posições de Michel Rocard, antigo primeiro-ministro francês, que constam dos dois posts anteriores, mostram que é abusivo comparar a crise portuguesa, e sobretudo a tomarense, com a crise internacional. Há, no entanto, pelo menos três aspectos comuns: todas resultam da falta de coragem para mudar de modo de pensar e da evidente falta de ideias fecundas; todas implicam necessariamente mudanças drásticas, sob pena de dramáticas consequências.
A nível internacional, a sucessão de desastres com origem próxima em bolhas especulativas. A nível nacional, as inevitáveis repercussões desses desastres. A nível local, a inexorável caminhada para o abismo da falência e do desaparecimento como comunidade relativamente autónoma. Com é óbvio, preocupa-nos sobremaneira a crise local. Conforme já aqui foi referido anteriormente, designadamente na série "Para tentar perceber a crise", do ano passado, a decadência tomarenses conheceu até agora duas fases: o lento definhamento económico entre o 25 de Abril e a primeira presidência de António Paiva; o vendaval Paiva e as suas consequências.
O lento mas constante definhamento da cidade e do concelho entre 1974 e Paiva resultou sobretudo da conjugação de dois factores primordiais -a drástica redução da componente militar e o costumeiro imobilismo/acomodamento/conformismo local. Terá sido esta irritante situação de facto que parece ter impelido António Paiva a desencadear o seu vendaval. Homem de acção, não conseguiu suportar sem agir a pasmaceira tomarense. Algo eufórico com os primeiros fundos europeus, mas não dispondo de projectos locais consistentes e articulados, remediou a situação à portuguesa -procurou desenrascar-se. "Fez" assim muitas obras, conseguindo convencer a maioria dos eleitores concelhios de que era um salvador, assim ganhando largamente as eleições e acabando por obter alhures um lugar de prestígio e bem remunerado.
Infelizmente para os tomarenses, Paiva errou em toda a linha, conquanto tenha agido convencido de que estava a proceder da forma mais favorável para as populações. E se caiu nas graças dos seu pares, terá sido unicamente porque a cultura política, económica e mesmo tout court, nunca foi nem é o forte dos nossos autarcas, salvo algumas excepções. Os que habitamos na cidade e nas freguesias rurais, percebemos agora que a maior parte da obras do período Paiva e posteriores apenas serviram para sacar fundos europeus e elevar a dívida camarária para níveis preocupantes.
Para mal dos nossos pecados, a actual maioria circunstancial 3+2 não dá mostras de ter planos ou sequer de almejar tê-los. É mais uma maioria de acomodados, que fará sempre o necessário para que nada mude, ou mude apenas o menos possível, não vá dar-se o caso de virem a perder as confortáveis posições que agora ocupam. Os três laranjas seguem as orientações do duo Relvas/Paiva, agora acossados pelo preocupante défice e pelo fim do maná de Bruxelas. Os dois rosas limitam-se a cumprir o acordo que assinaram, não para benefício das populações, mas apenas para obter vantagens pessoais. Não vemos assim, salvo imprevisto trambolhão, qualquer luz ao fundo do túnel para os próximos quatro anos. Até porque, pensando bem, nas últimas autárquicas, o único candidato que apresentou um programa minimamente adequado à actual envolvência política, foi Bruno Graça, pela CDU. Todos os outros alinharam pela clássica chapa 2 -o povo quer é comida, obras e festas. Que não haja dinheiro para custear tudo isso, não parece ter qualquer importância para a generalidade dos nossos políticos. Só a candidato da CDU teve a coragem de admitir implicitamente o b a bá da economia: para poder distribuir riqueza, primeiro há que produzi-la.
Enquanto os nossos concidadãos persistirem em não aceitar a realidade tal como ela é, teremos de continuar a afirmar que é impossível salvar o concelho sem os tomarenses, mas infelizmente também não se pode contar com os tomarenses para essa tarefa. Por enquanto ? Quase sempre o que tem de ser tem muita força.

6 comentários:

Anónimo disse...

Portugal está mais bem classificado que o Reino Unido, Grécia, Eslovénia, Mónaco, Suécia, Polónia, Irlanda e mesmo o Japão, na lista da revista International Living.

http://www1.internationalliving.com/qofl2010/

Anónimo disse...

A lista dos melhores países para se viver é liderada pela França, com a Austrália em segundo lugar e a Suiça a ocupar a terceira posição.

Anónimo disse...

Boa tarde.
Espero sinceramente que se engane e que a nova vereação resolva os problemas de que Tomar padece. pelo menos faço votos de que tal aconteça e como sempre tenho dito, se for para trabalhar para melhorar Tomar contem comigo como certamente contarão consigo.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Triste sina, a de "sacar fundos". O último a sair que desligue a luz..-

Anónimo disse...

Já que estamos numa de filosofia política, aqui vai um exercíciozinho de quem nunca estudou filosofia em escola nenhuma.

Li as declarações de Michel Rocard, traduzidas neste blogue, e agradeço essa oportunidade. Gostei. Mas...

Nem sempre a extrapolação de um pensamento de uma personalidade (francesa, pois claro) encaixa na nossa realidade, menos ainda quando estamos imbuídos de exacerbado pessimismo, uma cultura espalhada nas elites e camadas politizadas de ver apenas o seu quintal ou a quinta da família e amigos de onde colhem "vitualhas" para sustento. Esta filosofia, chamemos-lhe assim, ganha peso e influência em Grupos e Agrupamentos de "Status". Seria bom não esquecer que temos as nossas singularidades, decorrentes em parte dos nossos movimentos políticos externos de séculos, tantas vezes joguetes de interesses das potências europeias (onde se pensa profundo...) e das cambalhotas que continuamos a dar para manter a existência e identidade, e achei até muito curioso um dia, ao ler um livro de história, Mattoso ou Joel Serrão, não sei precisar, que o nosso atraso estava também condicionado desde a Idade Média, por falta de produção de Bosta... (os nossos campos não eram, por isso, tão propícios como os da restante Europa para a pecuária, os terrenos eram menos férteis). Resumindo, apelamos demais ao que pensam os lá de fora e escaqueiramos cá dentro quem se atreva a ameaçar esses bens instalados que vivem do trabalho dos pobres e explorados, a que a nossa "inteligência" e pequena burguesia conservada (a conservada) dedica quase sempre um ódio inusitado, ao pressentirem que o seu futuro exige mais empenhamento e qualificação, maior responsabilidade e disponibilidade solidária, análise centrada no bem colectivo. Amiudadas vezes boicotam a governação por diversas formas.

Há diversos tipos de bosta, a de origem animal, fertilizante excelente para a lavoura, e a de origem espiritual - esta de produção abundante em Portugal quando alguém ousa enfrentar de caras as dificuldades, pondo em causa privilégios muitos que sugam o erário público e o fruto do trabalho dos que não são pagos pela Dir. Geral do Tesouro. É nesta contradição que chafurdamos e se alguém surge expedito e ambicioso para, pelo menos, a amenizar, aqui d`el rei... Procuramos na filosofia política de pensadores de outros países, que nos exploraram e continuam a condicionar, conceitos e vias que redicularizem os xicos espertos portuguesitos.

Indo ao concreto, e para despoletar ira nos estratos acima citados, vivemos um período em que apareceu um Primeiro Ministro que ambicionou tocar em algumas situações de privilégio alapadas na esfera estatal, dinamizar indústrias modernas, distribuir computadores às crianças, inglês no ensino básico, apoios ao Ensino Superior, investir na investigação científica, verbas apoio natalidade, apoio empresas, reforma nos agentes de ensino, criar mais creches, diversificar mercados pra exportação, investimento público avultado, etc.etc.. E vejam só!... Não há quase cão nem gato, que viva do OE, que não manifeste a mais profunda revolta contra este Primeiro Ministro, numa desesperada tentativa de sabotar a governação. Porque será que temos esta tentação intelectual de ir beber ao estrangeiro, de querer seguir paradigmas estrangeiros, quando conhecemos bem a razão das nossas dificuldades e até as soluções para os nossos problemas? Só que quando começam a ser implementadas ergue-se o reacionarismo que habita dentro de nós - pior ainda, no sistema partidário.

Ser do contra é aliciante..., mas no estado em que estão o país e os portugueses (em geral) é altura de começarmos a puxar para o mesmo lado, se o movimento é reformista e rompe com dogmas e filosofias desajustadas. Estou-me nas tintas se este ou aquele partido, mesmo que seja aquele em que costumo votar, venha a perder deputados ou influência social.

(O comentário é longo, deve-se à minha dificuldade na escrita. Desculpe).

Anónimo disse...

Caro comentarista anterior:

Tal como não se deve confundir Filosofia com retórica, não se deverá confundir "Política" com "politiquices" que é o que temos por cá.
É a falta de conhecimento e de escola política (ciência política, economia política, etc) dos que se dizem nossos líderes políticos que nos impele a ir ao estrangeiro e aos políticos estrangeiros, buscar directrizes para as nossas ideias, os nossos comportamentos, as nossas ambições. Enfim a nossa identidade política.
A Política é demasiado séria para ser deixada nas mãos de quem não a pensa. De quem não a compreende.
É que Política não é o que vemos entre nós. É defender a causa pública. É colocar o interesse colectivo à frente dos interesses mesquinhos e individuais. É, reconhecidamente, uma tarefa difícil. Mas nós facilitamos e depois temos o que temos: Uma classe dirigente sem ideais nem princípios, capaz de se vender por um mísero prato de lentilhas.
Por último, não chegam boas ideias. A Política é uma matéria séria, é uma ciência nobre. Não deveria ser deixada nas mãos de amadores. Contudo, estes "aprendizes" têm conseguido destruir a sua magnificência junto do povo. E com isto têm apunhalado continuamente a democracia...