quarta-feira, 11 de maio de 2011

NA IMPRENSA INTERNACIONAL DE REFERÊNCIA

A tradução seguinte, do editorial de Laurent Joffrin, director do Nouvel Observateur, interessa sobretudo aos jornalistas e a todos aqueles que estão preocupados com a evidente crise que assola a imprensa portuguesa, sobretudo a regional e local. Julgo que, na sua concisão, o escrito de Joffrin faculta pistas interessantes para quem queira realmente tentar debelar a doença crónica da comunicação social portuguesa. No fim de contas, em que outro país europeu se convida uma personalidade para ser entrevistada na TV, para depois  lhe cortar sistematicamente a palavra?

O mundo muda, o Nouvel Observateur também

As más línguas vão falar de uma esquerda mole...
Pois bem, a esquerda mole reage!

Para continuar fiel aos seus princípios, o Nouvel Observateur muda. Este número que tem nas mãos é o primeiro da nossa nova fórmula. Defende os valores jornalísticos, políticos e culturais que sempre foram os nossos. Aqueles que o seu fundador Jean Daniel relembra com vigor no seu editorial [Ver post "Aquilo em que acredito"]. Mas a maquete da revista, a sua formatagem, o seu âmbito e as suas rubricas, são novos. Ao mesmo tempo o nosso site é melhorado. Enriquecido pela fusão das duas redacções, a do jornal e a da internet, completadas com um serviço participativo de discussão de fundo, "Le plus" Observateur. 
Após 25 anos de uma fórmula que elevou o Nouvel Observateur à liderança dos "news magazines" franceses, iniciamos assim uma nova etapa na longa marcha da nossa revista, iniciada por Jean Daniel e Claude Perdriel, fundadores de ontem, dirigentes actuais.
Pôr a ideias no coração da actualidade, praticar um jornalismo de escrita e de cultura, levar a sério o frívolo, quando exprime a mudança, dar cor à vida e aos problemas mais árduos, continuar intransigente nos nossos compromissos, sem todavia hesitar uma vez que seja em pensar contra nós próprios: são estes os nossos preceitos. Acrescentamos-lhe formatos contemporâneos, uma exigente preocupação de inquéritos originais, bem como uma vivacidade nova, no tom e na implicação.
Este tempo de descrédito das políticas e dos políticos, continua a ser, não obstante, mais do que nunca político. A sociedade francesa está cheia de crises, de injustiças e de cóleras. Temos a obrigação de as compreender, de as exprimir e de as combater. Este tempo é intenso, inquieto, cheio de angústia, mas também de esperança. Elaborámos a nossa nova fórmula em função destas realidades novas. Mais do que nunca, os princípios de liberdade e de justiça são indispensáveis; mais do que nunca, o reformismo radical está na ordem do dia.
Mas esta visão crítica da sociedade é inseparável de uma lucidez realista e de uma preocupação de apresentar propostas. As más línguas vão falar de uma esquerda mole... Pois bem, a esquerda mole reage! Não acreditamos nem na falsa modernidade de uma classe financeira cínica e ávida, nem nos fumos demagógicos de uma extrema-esquerda perdida nos seus sonhos e nos seus ódios de estimação. Dizemos sim à economia de mercado; dizemos não às extravagâncias da finança. Dizemos sim ao espírito empreendedor, à competência, ao risco calculado e ao êxito; dizemos não à concorrência de todos contra todos, à arrogância dos mais fortes e às desigualdades ilegítimas. Dizemos sim à abertura, ao mar alto, ao internacionalismo e à Europa; dizemos não à mundialização sem freio nem alma. Aceitamos a fidelidade às culturas e às raízes, mas recusamos a obsessão nacionalista, assim como a intolerância identitária. Dizemos sim à exigência cultural, não ao elitismo, sim ao jornalismo, não aos media. Rejeitamos uma democracia oligárquica no seio da qual o dinheiro é a medida para tudo. Queremos restaurar o espírito da República!

Laurent Joffrin, Nouvel Observaeur, 05/05/2011, página 4

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