Nas recentes comemorações do 10 de Junho, o reitor da Universidade de Lisboa, Sampaio da Nóvoa, soube honrar a instituição que por eleição dirige. Numa brilhante intervenção, que pode ser ouvida aqui, o ilustre catedrático foi de uma precisão cirúrgica: "Se não nos salvarmos, ninguém nos salvará!" E apontou a via -trabalho, persistência, ética, cultura, conhecimento, inovação...
Ontem, o pouco apreciado mas eficaz e corajoso ministro Gaspar falou de uma ligeira claridade ao fundo do túnel, que poderá vir a constituir o primeiro e principal farol a iluminar um futuro melhor. Anunciou ele que há agora uma folga, que vai permitir incluir no orçamento para 2013 um redução da TSU, a taxa social única, que os patrões são obrigados a pagar sobre cada retribuição salarial. O que equivale a dizer que o governo tenciona enveredar pela indispensável e urgente redução dos custos do trabalho sem recorrer à degradação salarial.
São duas excelentes ocorrências, para o País e sobretudo para Tomar. Oxalá aqui pelo Vale do Nabão as saibam ter em conta. A primeira porque condena a pasmaceira reinante, incitando ao trabalho honesto e produtivo em prol da comunidade, na qual infelizmente impera o oportunismo reles, a inépcia, o conservadorismo, o imobilismo doentio e o cada vez mais evidente abandalhamento. A tal ponto que se pode afirmar, sem ponta de exagero, que sem os tomarenses não é possível salvar Tomar, mas com eles também não. Entretidos alguns dos mais activistas com a questão do hospital, parecem negar-se a aceitar o óbvio.
Há quarenta anos, Leiria e Tomar eram urbes equivalentes, tanto em economia como em população. Quartel-general e RI 15 em Tomar, RAL 4 e RI 7 em Leiria. Quarenta anos mais tarde, em Tomar resta o RI 15 e em Leiria o RAL 4, nas instalações do desaparecido RI 7. Mas entretanto Leiria subiu para 110 mil eleitores e Tomar caiu para 38 mil mil. Porque terá sido? Porque será que ninguém fala em desmantelar, privatizar, ou fechar o Hospital de Leiria? Em reduzir valências e/ou camas? Quando será que em Tomar se compreende e aceita finalmente que nenhum governo sem poços de petróleo pode financiar hospitais polivalentes e de qualidade em desertos humanos? Podendo parecer que não, em Abrantes e em Torres Novas o fisco arrecada bastante mais IRC do que em Tomar, o que não explicando tudo, pelo menos esclarece algo.
Há depois a criação de incentivos aos investidores e empregadores, sem os quais não haverá retoma possível, que é como quem diz criação de postos de trabalho e produção de bens negociáveis. Necessidade urgentérrima em Tomar, um concelho pouco a pouco reduzido a uma reserva de reformados e de funcionários públicos, muitos deles angustiados, por já terem percebido que o império burocrático municipal enxotou com as suas práticas nefastas todos aqueles que eram susceptíveis de facultar valor acrescentado.
Resta agora encontrar quem tenha ideias, audácia e gabarito para propor outra via, começando por "partir a espinha" à burocracia autárquica e restabelecendo o ordenamento democrático normal: São os eleitos que dirigem os funcionários e determinam a política municipal, e não o inverso, como tem vindo a acontecer desde os anos 90. Com os excelentes resultados que estão à vista de todos.
3 comentários:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
O "Público" está a publicar às quartas feiras um estudo (hoje publicou o terceiro artigo, "A Economia sustentável") assinado por três pensadores/investigadores, Sandro Mendonça (Economista), Gustavo Cardoso (Sociólogo), João Caraça (Físico), sob o tema ECONOMIA E CULTURA.
Como o Post do Dr. Rebelo versa sobre a intervenção de um Reitor universitário da nossa praça (bem conhecido, graças a deus...), nada melhor que facultar outras visões sobre a nossa vida política e económica e social.
Cito alguns excertos do artigo de hoje:
" (...) A opinião mediatizada nos últimos anos destacou sempre a questão do «custo de contexto» em Portugal: Isto é, que haveria entraves desnecessários aos despedimentos, que a regulação pública era sempre um onstáculo à iniciativa dos privados, etc., etc.,. Mas a realidade desmascarou a retórica: afinal, o desemprego explodiu ao mesmo tempo que se provou que o Estado era demasiado fraco perante interesses instalados e plutocráticos. Aliás, os jovens têm estudado (e agora são empurrados para emigração), os trabalhadores têm produzido (mesmo sem bónus milionários) e o Estado modernizou-se (e hoje tem as suas estruturas asfixiadas, desnorteadas e desbaratadas). Os custos fixos que pesam sobre quem produz vêm, sim, de quem faz as maiores acusações. Foram as grandes teias organizadas de interesses económicos (leia-se megagrupos empresariais) que se especializaram em negócios baseados na importação (como os modernos supermeecados «venha cá»), em obras aparatosas e não remunerativas (feitas à conta do orçamento financiado por todos nós) e em serviços protegidos da concorrência externa (que depois se vendem a preços de ocasião a potências estrangeiras não-democráticas)."
E mais adiante:
"Contrariamente ao discurso que nos tem anestesiado, não pode haver mais desculpas: as injustiças feitas às pessoas têm mesmo agravado o desempenho da economia como um todo. Em Portugal.é preciso procurar soluções transformativas precisamente no campo de opções que elevam virtuosamente a competitividade económica e equidade social. Esta economia tem pessoas dentro. E uma boa economia é uma casa em que todos cabem. Uma economia saudável depende de uma sociedade saudável."
C O N T I N U A .....
DE: Cantoneiro da Borda da EStrada
....... C O N T I N U A Ç Â O
Só mais um pedacinho (o Dr. Rebelo que me desculpe...):
"O Estado precisa de capital intelectual para intervenções diversificadas e dinâmicas que permitam desenhar e implementar políticas de melhoramentos imateriais das forças produtivas do país - negrito meu.
O artigo (estudo) termina com estas palavras:
"É disto que precisam Portugal e a Europa: de eficácia e inteligência, não de austeridade grosseira e autodestrutiva."
Os partidos, a nível concelhio, deviam debater estes temas em reuniões com seus militantes e simpatizantes, reuniões abertas, convidando, obviamente, especialistas para trocarem por miúdos estes trabalhos (a que eu não faltaria para melhor aprender). Estou a referir a necessidade de formação e educação políticas há muito posta de parte pelo sistema partidário português.
Se o Tomar a Dianteira (o Dr. Rebelo) estiver disposto a abraçar um trabalhinho destes, pode contar comigo: o Dr. Rebelo escolhe os seus temas e especialistas, e eu escolho os meus. Uma sessão pública por mês, a partir de meados de Setembro. Organizador: Tomar a Dianteira. Quer melhor promoção e colaboração? Para assegurar maior divulgação, pede-se a colaboração da imprensa local, que dará conhecimento depois do que foi debatido e respectivas conclusões.
Isto não custa nada. Sem dificuldades mobilizo aí em Tomar mais 3 ou 4 pessoas para apoiarem a realização de um plano de debates durante todo o ano (exceto no verão). Um motivo para ir mais vezes a essa santa... terra.
Caro professor,
Assisti com muita atenção ao discurso que refere, em directo.
Se quer que lhe diga, escutei-o embevecido! há muito que não ouvia ninguém, com tamanha clareza, fazer um diagnóstico, prescrever a mezinha e antever uma cura, para a desgraçada doença deste país. Aquilo a que pensava ir assistir, enquanto preparava o almoço de Domingo, "mais uma seca de intervenções", não foi nada disso, com Sampaio da Nóvoa; admirável, é o adjectivo que me ocorre.
Pode ser que a luz que o Gasparzinho Xanax indica, seja para um futuro melhor; a questão está em saber se assim, com o estrangulamento a que estamos sujeitos, com o desemprego a aumentar, chegaremos ilesos a 2013...o que, desculpe-me o cepticismo, acho muito difícil!
Deixe-me continuar com mais um reparo que não posso deixar passar em claro: enquanto se persistir em considerar os ordenados e encargos dos trabalhadores como custos de produção, não vamos a lado nenhum! apresente-me uma única empresa que produza algo, sem trabalhadores.
Já agora, porque não diminuir antes o IRC, em vez de descapitalizar ainda mais a segurança social? assim sim, premiar-se-iam as empresas que mais produzissem e diminuia-se a fuga aos impostos. Esta possível redução da TSU é a mais simples; não é preciso pensar muito e duma cajadada matam-se dois coelhos: acentua-se a difícil situação da SSocial e fomenta-se os seguros de saúde nas companhias dos amigos; estarei enganado?
Já quanto a Tomar e a quem dirige quem, dou-lhe um exemplo concreto: antes ainda da década de 90, "metemos" um projecto para construção duma moradia unifamiliar, com dois pisos, em S. Miguel, Madalena; o projecto era assinado por um prémio Valmor, por acaso meu amigo e que me fez a coisa por um jantar e uma noite de cavaqueira e copos em Nafarros, bem ao lado da casa do "Marocas". Era portanto, digamos, engraçado, o projecto; foi reprovado! dirigimo-nos à Câmara e fomos informados por um funcionário do urbanismo de que "o projecto foi chumbado, porque o vereador não gosta da casa!". Bonito! tivemos depois uma conversa interessante entre o sr. vereador e o autor do projecto; resultado, perdeu-se um ano, chegou-se a uma situação de compromisso, a casa ficou igual, com orientação diferente e toda a filosofia da casa tendente ao aproveitamento de luz e energia solares ficou irremediavelmente comprometida, com os custos associados aos previstos anos de vida da casa.
Quero eu com isto dizer que, concordando consigo, acho que cada "macaco" deve estar no seu galho, a apreciação técnica deve ser feita por técnicos, competentes de preferência e a aprovação final, a cargo do político, ser baseada na confiança na referida competência e na legalidade, tão simples quanto isso!
As directrizes, serão dadas em plano de actividades e aferidas com o seu cumprimento; haja competência para o fazer e o seu reparo, deduzo que justo, deixará de fazer sentido.
Quanto ao Hospital, acho já conhecer o que penso, não vale a pena maçá-lo mais.
Cumprimentos
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