Tomar a dianteira sempre enzima do conhecimento...
Sylvie, 54 anos, engenheira informática, Toulouse (França)
"Não bebia por me sentir mal; apenas por dependência do álcool"
"2009 foi há um século, à escala da história do baclofeno. Por essa altura os médicos franceses ainda não receitavam tal medicamento contra o alcoolismo. Sylvie, alcoólica desde os 16 anos, resolve atravessar a fronteira e comprar algumas embalagens em Espanha, após ter descoberto num artigo de uma revista que o baclofeno, receitado como relaxante muscular, podia ser eficaz na cura do alcoolismo. Farta de empinar até três aperitivos e uma garrafa de tinto ao jantar, conseguiu encontrar assim o remédio de que necessitava, convencida de que o seu problema não é de ordem psíquica. "Não bebia por me sentir mal; apenas por dependência do álcool."
Resolveu então auto-medicar-se, tomando até 110 mg de baclofeno por dia. Actualmente, seguida por um médico, baixou para 60mg/dia e bebe moderadamente "dentro das normas da OMS". "Resolvi não optar pela abstinência total, pois não cheguei a ter o fenómeno de rejeição, como aqueles que viram as suas vidas e as suas famílias destruídas pelo álcool", disse-nos com ar satisfeito.
Em 2011 fundou, conjuntamente com outros doentes, a Associação Baclofène, à qual preside e que conta já com mais de 200 aderentes. Acabam de pedir solicitar autorização de comercialização do baclofeno como medicamento contra o alcoolismo. A petição já recolheu quatro mil assinaturas."
Virginie, 35 anos, actriz, Paris
"A minha vida era um puzzle no qual faltavam três quartos das peças"
"Comecei a empinar com 18 anos. O álcool era para mim um ansiolítico. Ajudava-me a vencer o meu mal-estar em sociedade. Não podia passar sem ele à noite, sob pena de ficar muito corada. Depois comecei a beber sozinha, em casa. Geralmente uma garrafa de rosé, ou então duas ou três latas de cerveja, da mais forte. Começaram os problemas durante as soirées. Era uma rapariga parisiense e era muito perigoso regressar a casa bêbada. Comecei a ir de buraco negro em buraco negro. A minha vida transformara-se num puzzle no qual faltavam três quartos das peças. Tinha um enorme sentimento de culpabilidade. Comecei a tomar baclofeno no dia 24 de Novembro de 2011, após ter lido o livro de Olivier Ameisen [médico, ex-alcoólico, autor do livro "Le dernier verre", Denoël, Paris, 2008]. Fui aumentando a dose até 170 mg/dia e senti-me curada cinco semanas mais tarde. Agora já não bebo em casa, só quando saio à noite. E mesmo assim, em vez de empinar um copo em cinco minutos, dura-me para mais ou menos hora e meia. E com três copos já não quero mais."
Nouvel Oservateur, 24/05/2012, página 56
Nota final
É claro que em Portugal -e sobretudo em Tomar- não há alcoólicos. Tanto assim que as televisões continuam a publicitar livremente a cerveja e outras bebidas alcoólicas, quase sempre associando-as ao desporto, sobretudo ao futebol. E a autarquia até autorizou um barzinho no ex-estádio, agora campo de treinos. Em todo o caso, se algum leitor tiver problemas de dependência ou de drogas, deve consultar quanto antes um médico, pedindo-lhe que lhe receite baclofeno, que é a designação internacional do princípio activo. Em Portugal o baclofeno em comprimidos é comercializado sob a marca LIORESAL, dos laboratórios NOVARTIS. Mas consulte o seu médico antes! O baclofeno pode ter efeitos secundários nada agradáveis.
3 comentários:
É interessante que, ao procurar "tratamento do alcoolismo com baclofeno" em português, em Portugal, apenas encontro o meu site profissional como médico e este BLOGG!
É uma vergonha o boicote que os órgãos de comunicação social (sobretudo as TVs) fazem a REVOLUCIONÁRIO método de tratamento, que TORNA DESNECESSÀRIO O INTERNAMENTO, CURA (completamente) mais de 50% dos pacientes e apresenta resultados muito bons (e apenas bons...) em mais de outros 40%, sem que nunca haja risco de o doente entrar em síndrome de privação! Compreende-se que muitos outros médicos e/ou instituições tenha CONFLITOS DE INTERESSE! Mas este boicote dos media é insólito. Parabéns pela vossa coragem! Podem contar sempre comigo, pois considero que a divulgação deste método é um DEVER CÌVICO E MORAL, face às consequências catastróficas do alcoolismo na saúde física e mental das pessoas, nos seus cônjuges e descendentes e na sociedade (incluindo muitos aspetos económicos).
Ramiro Araújo (médico-psiquiatra).
Ontem, 01/09/2013, o CORREIO DA MANHÃ e a CM TV "quebraram" o silêncio sobre o método do falecido (em 18/07/2013) Professor Olivier Ameisen para o tratamento da alcooldependênicia, ao publicarem notícias e apresentando uma pequena peça sobre o meu trabalho profissional, em que prescrevo o baclofeno em elevadas posologias, no hospital onde trabalho,no Porto: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/saude/tirar-a-vontade-de-beber-alcool. Assumi como dever profissional e moral divulgar este método no meu país e estarei disponível para ajudar a criar um SERVIÇO OFICIAL (se possível num Centro de Saúde, integrado no S.N.S. ...) na vossa cidade. Ramiro Araújo (médico-psiquiatra).
Olá Dr. Ramiro, sou brasileira e li o livro do Dr Olivier e seus relatos. Como aqui também não temos acesso a tratamentos contra o alcoolismo com baclofeno eu resolvi, por mim mesma, aderir ao mesmo para meu marido que se encontrava em estado crítico e muito debilitado por causa do abuso do álcool. Ele já havia tentado de tudo assim como dr Olivier sem resultados. Hoje, após 1 mês, ele se encontra muito bem e com sua saúde a cada dia melhor. Agradeço a todos que divulgaram o uso do baclofeno com seus estudos e relatos. Gostaria muito de visitá-lo em Portugal com meu marido. Parabéns pelo excelente trabalho!
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