sábado, 16 de junho de 2012

Para arrefecer os ânimos

A recente vitória do socialista moderado François Hollande, (que hoje será confirmada nas urnas pelos franceses, na segunda volta das legislativas), desencadeou em Portugal e nas hostes da esquerda ondas de entusiasmo. Prematuras quanto a mim, pois uma coisa é vencer um eleição, outra bem mais complicada é demonstrar na prática que há outra via menos dolorosa e mais profícua. Eis o essencial da crónica de Crhistophe Barbier, director do L'Express.
Após citar uma série de acontecimentos históricos ocorridos em França e simbólicos sobretudo para os gauleses (Juramento do "Jeu de paume", tomada da Bastilha, discurso das Pirâmides, Ponte de Arcole, apelo do 18 de Junho, direito de voto para as mulheres), que os leitores portugueses teriam muita dificuldade em situar, prossegue o brilhante comentador político:
"À sua escala, pois os tempos já não são assim tão dramáticos, o holandismo instala-se decapitando alguns privilégios, que caem no cesto da igualdade sob os aplausos. Paraquedas dourados, reformas complementares, indemnizações diversas, bónus e outros prémios: ninguém vai lamentar tão onerosa quinquilharia, que tentava fazer passar por mérito o que era apenas reles ganância. Falta agora convencer o capitalismo privado a adoptar a nova virtude do sector público: seria para o poder uma extraordinária façanha...
Se a busca de um capitalismo justo, sem abutres nem especuladores, honra a esquerda, designar a empresa privada como inimiga é a sua funesta tentação. Ao pragmatismo bem disposto de Hollande vão opôr-se -estão já a opôr-se- os dogmas anti-liberais mais serôdios. Ninguém duvida que o presidente e a sua equipa vão resistir. Desde meados da década de 80 que a esquerda deixou de agir explicitamente contra a iniciativa privada. Mas também não age a favor, o que constitui, uma vez mais em 2012, a filigrana da sua acção.
Nos próximos meses, caso os socialistas apliquem o seu programa, muito será pedido às empresas: aumento da TSU, aumento do salário mínimo, aumento do IRC, contratos de geração...Porque não? A crise exige um acréscimo de solidariedade e o povo votou. Em contrapartida, competitividade, investimento e criação de riqueza são por assim dizer ignorados pelo poder, como se a sua preocupação fosse lutar contra os efeitos mais perniciosos da crise, mais do que sair da própria crise. Contudo, são as empresas que terão de desencadear a retoma da economia francesa, mais do que um Estado exausto. É por isso urgente dar-lhes os meios de agir e de inovar, de arriscar, de edificar a prosperidade futura sobre as ruínas do conforto do passado.
As finanças públicas não permitem qualquer ajuda monetária ao patronato, nem sequer às PME, mas há outras formas de agir que seriam excelentes e não custariam um cêntimo ao erário público. Antes de mais, matar o temível polvo burocrático que asfixia a economia com os fortes e longos tentáculos dos seus procedimentos, tornando-a cega com os sucessivos jactos de tinta legislativa. O ministro que conseguir tal proeza será merecedor de uma estátua. Depois, há que facilitar a contratação e o despedimento. Reumatismo em situação normal, esta doença francesa transforma-se em esclerose nas alturas de crise. Mercúrio, deus do comércio tinha os pés alados; hoje em dia os dos empresários arrastam bolas de ferro de condenados.  O governo que conseguir melhorar a situação merece ganhar as eleições.
Gestionária e prudente, a esquerda pode escolher a via audaciosa das referidas reformas, servindo as empresas privadas sem abjurar o socialismo. Basta-lhe compreender que em economia, se a eficácia sem equidade prepara a revolução, a equidade sem eficácia conduz à falência."


Crhistophe Barbier, Les pieds de Mercure, L'Express, 13/06/2012, página 3

Penso que o excerto a azul caracteriza na perfeição o drama tomarense. Há mais de 20 anos que andamos a ser sistematicamente tolhidos, emasculados, sodomizados explorados por uma medonha burocracia municipal do tipo "quero, posso e mando", que os labregos políticos têm consentido sem um protesto sequer, por manifesta ignorância do chão que pisam e que deviam defender.
Perante a galopante preocupante evolução da desgraça local, é inevitável que um dia destes os tomarenses tenham um acordar violento. Mas quando? 

1 comentário:

Luis Ferreira disse...

Já ontem era tarde.

Com esta gente não vamos, naturalmente, a lado nenhum. Ou por outra vamos: para o fundo e muito rapidamente. Vidé os últimos 15 anos. Agradeçamos ao PPD de Relvas e às suas "brilhantes" soluções para Tomar.

E no País igual: os mesmos problemas, as mesmas soluções, os mesmos resultados. De que estavam à espera?