segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Espanha, a Irlanda, Portugal e nós

Numa daquelas tiradas acéfalas a que infelizmente já nos vai habituando, o Seguro líder socialista foi directo: A Espanha acaba de obter condições de empréstimo melhores que as nossas, pelo que o primeiro-ministro deve exigir imediatamente tratamento idêntico. Santa ignorância, ou oportuno fingimento? Na verdade, como bem sabe qualquer principiante em economia, o problema espanhol é diferente do português e semelhante ao irlandês tal como o português é homólogo do grego. Por miúdos: Na Irlanda e em Espanha, a crise é dos bancos. Em Portugal e na Grécia é do Estado, que gasta em demasia, aumentando cada vez mais o défice público.
A partir destes dados indesmentíveis, pode-se naturalmente escrever que na Irlanda, na Grécia e em Portugal, onde também se verificou e está em curso a recapitalização bancária, os fundos para esta vieram incluídos no resgate geral (72 mil milhões no caso português, dos quais 12 mil milhões para os bancos), enquanto para Espanha houve nítida separação. Duas justificações são possíveis, uma técnica, outra política.
Para os peritos económicos, desta vez foi possível separar o Estado dos bancos porque Espanha tem por enquanto uma dívida pública inferior a 90% do PIB, ao contrário do que acontece nos restantes países já resgatados. Em contrapartida, para os analistas de esquerda, a explicação é bem entendido outra e ideológica. Na Grécia, na Irlanda e em Portugal era a esquerda que governava aquando da assinatura dos memorandos respectivos, sendo óbvio que a troika procurou criar condições objectivas para a vitória da direita. O que de resto veio a acontecer. Carecem por conseguinte de base os remoques do líder socialista, que de resto guardou de Conrado o prudente silêncio, quando o seu antecessor negociou e subscreveu o memorando agora em vigor. Porque terá sido?
Esta envolvência internacional e nacional muda alguma coisa nas margens do Nabão? Infelizmente não. Rima e é verdade. Com ou sem resgate bancário, com ou sem evolução favorável a nível nacional, vamos continuar a afundar-nos cada vez mais. Arrastados por uma autarquia que caso não existisse tornaria tudo bem mais fácil. Querem uma prova evidente? Um ano depois, ainda não se conhecem as contas da Festa dos Tabuleiros. O que permite perceber, entre outras coisas, porque  é que a nossa Festa Grande só se realiza de quatro em quatro anos. Caso fosse anual, com semelhante ritmo frenético, teríamos as respectivas contas encavalitadas umas nas outras, o que muito agradaria a alguns... Mas temos de convir que, na era da informática, necessitar de tantos meses para apresentar umas simples contas de merceeiro, deve trazer água no bico. Disso não duvido.

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