quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Órfãos políticos

Sei bem que a galeria de autores, cujos escritos aqui tenho reproduzido, não passa afinal de um grupo de cidadãos que vivem no erro por ainda não terem tido acesso à verdade definitiva. (???). Pior ainda: tudo o que escrevem visa objectivos bem dissimulados e altamente condenáveis. Não se sabe bem porquê, pois os acusadores nunca explicaram, mas pronto; é assim e acabou-se.
Vou agora reincidir, citando Pedro Lomba, jurista jovem, cujos pecados políticos ainda não conheço, mas que decerto não tardarão a ser esmiuçados, graças à argúcia dos leitores de Tomar a dianteira. Penso nomeadamente no amigo Cantoneiro da Borda da Estrada.

... ..."Quase dois anos depois, o socratismo mexe-se. Interessa perceber como. Sócrates perdeu as eleições em Junho de 2011, saiu desacreditado e deixou o país in extremis sob tutela estrangeira. Mas o socratismo já não depende hoje do antigo líder. Tornou-se uma espécie de entidade não personificada. Estamos a falar de muita gente na política e à volta dela que quer acima de tudo ajustar contas com o passado, com as instituições e até com o povo que, desgraça, não lhes fez a justiça devida.

... ... ... ..

No nosso Portugal de 2013, esta família de órfãos sonha avidamente em vingar-se das instituições, dos políticos, dos eleitores, de uma sociedade que os rejeitou, porque foi essa mesma sociedade, as suas instituições e eleitores que aqui liquidaram o "rei".
Os socráticos acreditam que foram derrotados, não por incompetência própria, não porque foram democraticamente rejeitados nas urnas, mas por uma conspiração tentacular que juntou Passos Coelho, Cavaco Silva, Pacheco Pereira, José Manuel Fernandes, os mercados, os juízes de Aveiro, Ângela Merkel, Olli Rehn, o BCE, alguns jornais e jornalistas, alguns banqueiros e empresários. Acham-se vítimas desta gente toda. Daí a raiva completamente anormal e desproporcionada que têm contra estas e outras personagens -pensem em Soares dos Santos.
Claro que nos europeus, Merkel, os funcionários troikistas, eles não podem tocar. Mas, cá dentro, esperam poder ser os Bourbons. Por isso, quando acusam António José Seguro de moleza na oposição, ou de não ter absorvido o passado como devia, a família revela os seus instintos. Achando-se genuinamente prejudicados por uma conjura, querem um chefe que não se coíba e não rompa o cordão umbilical. Seguro não serve para esse papel. António Costa, pensam eles, pode servir. Mas este, compreensivelmente, retrai-se."

Pedro Lomba, Os Bourbons, Público, 31/01/13, última página

Nota final
Vivendo e escrevendo longe de Tomar, que se calhar mal conhece de ouvir falar, Pedro Lomba omitiu uma curiosa espécie política nabantina, que pode ser designada por discípulos d'El-rei D. Duarte. Não porque o irmão do Infante D. Henrique aqui faleceu, mas devido à sua obra escrita. Com efeito, particularmente no PS, os dirigentes, militantes e filiados agem como profundos conhecedores da "Arte de bem cavalgar toda a sela". No caso em apreço, aqueles que ainda ontem apoiavam entusiasticamente o "delinquente" Sócrates (Maria Filomena Mónica dixit), defendem agora com unhas e dentes o inapto Tó Zé Seguro, mas logo aplaudirão Costa, quando e se ele conseguir finalmente acostar à direcção do PS. 
Temos assim direito a sucessivas "missas socialistas", (uma delas no Convento de Cristo), para usar a expressão do ex-deputado PS e empresário Henrique Neto, em vez do debate livre, franco e aberto, que poderia regenerar o partido e possibilitar finalmente a recuperação da cidade e do país. Mas por enquanto é o que temos: políticos miméticos, tipo camaleão. Sem ideias nem opções próprias. É pena.

2 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor,

Não conheço o senhor também, nem que instrumento toca, nem em que banda o faz, mas não me custa a estar de acordo com tudo o que escreve, ou quase.
E a minha concordância é a mesma que terei quando e se, este governo do PSD for democraticamente derrotado nas urnas, o senhor escrever algo que, se for intelectualmente honesto, não fugirá muito ao que escreveu agora ,mudando apenas os protagonistas. É que, infelizmente e salvo raras e honrosas excepções, naquilo a que chamam o "arco do poder", vão apenas mudando as moscas...
Quanto ao que o senhor escreve sobre António Costa, não posso concordar mais! Costa sabe mais a dormir, que eles todos acordados!

EnCostado à bananeira,

Cumprimentos

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

José Sócrates foi um político que deu um passo para diante, no caminho da História de Portugal. Chamado pela terceira vez consecutiva a julgamento popular, manteve-se à frente até cerca de 20/15 dias antes do dia das eleições (5/junho 2011). Todas as sondagens apontavam nesse sentido. A bem dizer lutou sozinho durante anos contra todos os partidos da oposição, parte do PS autárquico, contra toda a imprensa escrita e audio-visual, contra grupos de comunicadores organizados nos meios de comunicação (de que faziam parte os sicranos referenciados no post), contra bandos organizados na blogosfera, arreatados pelos interesses atingidos, contra uma camarilha bem organizada na instituição justiça. Há jornais no nosso País que são retretes imundas, sarjetas por onde foram conduzidas todas as injúrias pessoais e todas as violências das palavras.

José Sócrates percebeu que o primeiro ciclo do pós Abril estava esgotado e Portugal mantinha o seu tecido económico (e não só) atrofiado - precisava urgentemente de empreender a criação de um novo Ciclo Histórico, que nunca foi assumido por ninguém na nossa história. Pôs mãos à obra com coragem e determinação, apostou forte no Comércio Externo (Exportação), na Educação e na Ciência, na Inovação, Novas Energias e Novas Tecnologias, e as nossas universidades começaram a parir às centenas de spin-offs e start-ups - antes corrigira o défice deixado pelos governos de Barroso e Santana Lopes. Para levar por diante esta ambição tinha de vencer muitos lobbies e o espírito carunchoso e bolorento que dominava e ainda domina as nossas elites da merda. A sua acção governativa chamou a atenção de toda a Europa e do mundo. As suas movimentações políticas internacionais revelavam um Primeiro Ministro brilhante, descomplexado, sem teias de aranha na cornadura, denotando uma capacidade de perceção da realidade portuguesa e de políticas para a enfrentar, que surpreendeu todos. A mim também.

Em todas as suas políticas revelou ser, na prática, um homem de esquerda, pensando nos interesses das grandes massas populares, um patriota, um apaixonado na luta contra o endémico espírito contra-reformista herdado do passado. O cavaquismo e os bandos de corruptos à sua volta sentiram-se alvo desta obra extraordinária a que tinha lançado mãos. PCP e BE nem queriam acreditar: o PS tinha mesmo um líder que ameaçava a sua existência. Os interesses corporativos renderam-se à liderança do mais vil oportunismo político alguma vez visto em Portugal: para o combaterem e eliminarem venderam deliberadamente a pátria e os portugueses ao estrangeiro, estenderam-lhe a passadeira da vergonha e do vexame para que nos governassem, para que elaborassem programas de governação.

Num golpe de asa magistral, só ao alcance de um político à séria, amarrou os nossos parceiros europeus a um plano, o PEC IV, que, a ter sido aceite, nos colocaria numa situação deveras privilegiada no contexto da crise europeia e internacional, que nos subtrairia à tragédia em que já estamos mergulhados, e que se vai agravar vertiginosamente. Entregaram-nos a um bando de aventureiros canalhas e traidores.

O que derrotou Sócrates foi o povo ter acreditado na mensagem dos partidos da oposição: "Com Sócrates nãos nos aliamos!". O povo, muito bem, optou, na parte final, por uma alternativa de estabilidade, acreditando nas promessas de Passos, Relvas e Portas. Todos estão lembrados do que prometeram fazer e não fazer...

O povo foi enganado! Isso é crime contra a pátria!

E é o debate sobre esse crime que nunca sairá de dentro do PS e da política portuguesa sem esclarecimento, enquanto os traidores não forem desmascardos e acusados publicamente. Este nó tem de ser desatado, e não há taticismo nem falso unanimismo que o impeça.

Não se trai o povo e a pátria impunemente.

Ah! É verdade, parece que entretanto houve uma crise qualquer... - acabei por me esquecer.