terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ouse que vale a pena



Não ligue ao título, na verdade pouco feliz. Pense noutro. Neste, por exemplo: Políticos do meu país.
E lance-se denodadamente  à leitura. Vai ver que não terá sido em vão. Algumas gargalhadas garantidas e certos aspectos da realidade política nacional explicados aos profanos, assim como quem não quer a coisa.
Eis alguns excertos, já da parte final da obra:
"Porém, para além da verdade oficial, existia outra. Quando chegou às urgências do hospital, as enfermeiras despiram-no para lhe colocar uma bata ligeira e, ao retirarem as cuecas, as duas soltaram um grito de espanto. Um médico acorreu e observou o motivo do alarme.
-Santa Maria! Nunca vi um par de tomates deste tamanho! -e perguntou com um sorriso cúmplice ao governante: -É preciso isto tudo para entrar a política?
Gregório esboçou um sorriso ainda dorido e foi então que se soube que o coração dele estava em ordem. Com a piedade dos homens delicados, gemeu a explicação possível.
-Foi a porta do elevador." (Pág. 233)
"Vamos directos ao assunto. O vosso país está na bancarrota e vocês todos ainda não morreram de fome porque o nosso chanceler adora esta terra. Antigamente, até costumava aqui passar as suas férias, mas, com a degradação da vossa vida económica, da última vez apanhou piolhos no hotel onde costumava ficar e a esposa foi picada pelas pulgas. Agora passa férias no Ruanda. A coisa por lá está melhor.
Carlos estava estupefacto. -No Ruanda?! Pulgas? Piolhos?
-É verdade, senhor presidente -explicou o alemão, consternado- O pior é que pegou os piolhos aos seus ministros. Tiveram de interromper várias reuniões do conselho para se catarem uns aos outros. Caiu mal. Os ministros do mais poderoso país europeu carregados de piolhos portugueses." (Pág. 256)
"Se for primeiro-ministro, fica a saber que pode cantar o seu hino nacional e ver desfilar tropas. Quanto ao resto é por nossa conta. Ah! Também pode fazer reuniões com empresários, inaugurar exposições e defender as cores da vossa selecção nacional de futebol. Enfim, ficará com bastantes poderes." (Pág. 257)
"Oiçam o trovão. Até os céus aplaudem o nosso partido! Os temores transformaram-se em palmas, gritos de medo em berros de alegria, e, aproveitando o momento místico, ele cortou a voz do Zé Cabra e entrou a Avé Maria de Schubert, lançando um halo doce, uma pequena fragância, uma pitada de perfume divino." (Pág. 269)
Pode encontrar na BOOKIT, no Continente, ou em qualquer outra livraria. Por menos de 20 euros. Boa leitura!

3 comentários:

HC disse...

Pois prof. Rebelo, o ominipresente Moita Flores sabe muito.

Veja lá que até soube em dois mandatos criar uma dívida de 100 milhões de euros no município de Santarém (pelo menos metade são responsabilidade dos seus mandatos) grande parte gasta em festas e festarolas.

E veja lá que até o soube fazer quase sem lá pôr os pés!...


cumprimentos

Unknown disse...

Este seu comentário surpreendeu-me. Julgava-o mais tolerante. Capaz de entender que uma coisa é o escritor, outra o autarca. Adiante.
Pelo lado da política julgo dever avançar duas pequenas achegas.
Em 2005 Moita Flores interrompeu 30 anos de maiorias socialistas na câmara de Santarém, tendo encontrado uma dívida de 92 milhões de euros, que o forçou a complicadérrimos exercícios de contorsionismo negocial, para não ter que declarar falência. Finalmente lá conseguiu um acordo com a EDP, que aceitou avançar com 25 anos de receitas.
Algo diferente da sua versão dos factos.
A sua gestão terá sido criticável decerto, como qualquer outra. Contudo, quando voltou a candidatar-se, conseguiu uma avantajada maioria absoluta, passando de 4 para 7 eleitos, o que mostra que os escalabitanos não estavam assim tão descontentes. Os socialistas é que me parece que tendem cada vez mais, lá como cá, a descolar da realidade, praticando e apoiando coisas que não toleram nas outras formações. A boa política deve começar pelo exemplo.

Cordialmente

templario disse...

DE Cantoneiro da Borda da Estrada

Os livros que o Dr. Rebelo anda a ler....; os livros que o Dr. Rebelo aconselha...

Presentemente ando a ler sobre Raúl Proença, um intelectual político da primeira metade do século XX (ensaísta, jornalista político, pensador filosófico, bibliotecário, divulgador do nosso patrimonio cultural e natural.

Foi atacado por doença mental no final de sua vida, diz-se que por desgosto de ver o nosso País cair na ditadura e revoltado por as pessoas mais letradas e outras elites, vergarem à ditadura salazarista. Salazar exilou-o em Paris e negou-lhe a presença no funeral de sua filha mais velha.

Sobre Vitor Gaspar, aliás, Oliveira Salazar, escreveu, num manifesto, outubro de 1928:

"Mas Salazar tem todas as audácias dos homens tímidos e abstratos. Para ele o problema é fácil; é aliás sempre fácil encontrar o equilíbrio das finanças quando não se pensa em nenhum outro modo de equilíbrio, e quando, para manter a predominância de uma classe, não se hesita em sacrificar para além dos limites do razoável e do justo todas as outras classes de uma nação.O salvador extirpará pois o défice de uma maneira expedita, rápida e brutal. O milagre será feito à custa da instrução e da assistência, que já deixavam tanto a desejar, e das classes produtoras e populares, já tão sacrificadas, e que vão ser agora oprimidas sob o peso dos mais pesados impostos. O povo geme, mas a clientela fica satisfeita".
[Manifesto de 5/10/1928, "A Luta pela Liberdade em Portugal. O seu Alcance Universal. O que Pretendem os Liberais Portugueses", assinado, entre outros, por A. Sérgio, J. Cortesão, Aquilino Ribeiro). Excerto de uma citação no livro de António Reis, "Raúl Proença-Estudos e Antologia"].

Sugiro este livro, ´sobre um fantástico intelectual político, esquecido; sugiro especialmente aos socialistas que conheçam Raúl Proença.