"UM TERÇO DO PATRIMÓNIO UNESCO EM PORTUGAL EM RISCO DE DERROCADA"
"O Convento de Cristo ameaça ruína"
Algo de estranho parece estar a ocorrer no ou com o Expresso. Habitualmente circunspecto, o semanário de referência para largas camadas de portugueses, desta vez excedeu-se e parece ter adoptado um estilo alarmista, mais adequado ao Correio da Manhã, ou ao 24 Horas. Ainda mais inesperado é facto de, nitidamente, o corpo da notícia/reportagem não corresponder muito nem ao título, nem à chamada de título.
Para citar apenas alguns exemplos, todos sabemos que o mosteiro da Batalha está de boa saúde, apesar da proximidade da antiga nacional 1, agora IC 2, de cujo desvio se fala há mais de 30 anos, sem que entretanto o monumento tenha sofrido assim tanto como se dizia então, caso não se fizesse o tal desvio. Da mesma forma, a Abadia de Alcobaça não parece nada em risco e apenas se fala na Ala Norte, durante anos ocupada por uma instituição de carácter social, mas agora devoluta, onde se pretende instalar um hotel de charme.
Quanto ao nosso Convento, a "jóia da coroa" segundo o autor do texto, não é por morrer uma andorinha que se acaba a Primavera. Por outras palavras, não é por haver um fecho de abóbada amparado por escoras de madeira, num claustro com mais 450 anos, que o monumento ameaça ruína. Nem lá perto. Conhecendo bem a velha casa da ordem, há mais de 50 anos, devo dizer que, no âmbito da conservação e restauro, está muito melhor agora do que já esteve. Há problemas vários e graves, mas são de outra ordem. São da área da gestão e da exploração racional e digna de todos aqueles espaços.
Logo à chegada, os visitantes ficam desagradavelmente surpreendidos com o estado miserável do Parque de Estacionamento. Depois, admitindo que tenham conseguido estacionar, coisa que no Verão não é nada fácil, entram jardim fora e dão com o Portal da Virgem, cuja porta está sempre fechada sem qualquer explicação(1ª foto). Olhando à volta, lá vislumbram uma indicação da entrada. E aí é o espanto e a estupefacção -num monumento Património da Humanidade, uma entrada realmente monumental. Tal monumental que nem lá cabem obesos, nem cadeiras de rodas, nem macas (2ª foto). Os mais cínicos, que já terão vindo da Portaria Nova, na fachada norte, onde lerem o pequeno aviso (3ª foto), não podem deixar de rir baixinho, olhando a porta sempre fechada da igreja. Nota-se que há boa coordenação de serviços...
Paga a entrada, que é puxadota, cada qual que trate de si, pois não há visitas guiadas, salvo casos especiais. Actualmente com mais de 30 funcionários, alguns dos quais com funções mais teóricas que práticas, o IGESPAR nunca conseguiu implementar um serviço contínuo de visitas, argumentando os funcionários com os protestos do Sindicato dos Profissionais de Turismo. Trata-se de mera desculpa sem base real, uma vez que, não havendo guias oficiais em Tomar, o problema nem sequer se coloca. Antes da transferência para o antecessor do IGESPAR, 4 guardas sempre asseguraram visitas guiadas e nunca ninguém reclamou por parte dos guias. Dá é trabalho, isso é verdade. Ao fim do dia uma pessoa está estafada, enquanto que sem visitas guiadas...
Há, igualmente, a questão da parte em tempos ocupada pelo Hospital Militar, onde alguns curiosos advogam a instalação de um estabelecimento hoteleiro de luxo. Na minha opinião seria um erro, pois impediria a futura remodelação das estruturas de acolhimento dos visitantes, as quais deverão situar-se alí. Mas creio que tal só acontecerá quando o IGESPAR decidir, ou for forçado a decidir, entregar a gestão turística do monumento a quem tenha experiência dessa empreitada. Caso contrário mais vale estar quedo.
No que diz respeito à Janela do Capítulo, façam um favor ao monumento -limitem-se a visitar e abstenham-se de palpites tecnicistas. Aquela obra-prima do manuelino sempre assim esteve, coberta de líquenes, que protegem os poros da pedra das chuvas ácidas. Se um dia resolverem levianamente limpar os musgos, ficará concerteza mais bonita para os novos ricos, que gostam de tudo limpinho e a brilhar, mas durará pouco mais tempo, que o ácido e o calcário dão-se bastante mal. Por isso, deixem lá estar em sossego a patine de quase 500 anos, que não se consegue assim do pé para a mão, e é isso que não agrada aos do "dinheiro recente".
13 comentários:
Aplaudo TODO o conteúdo deste V. post.
Claro, lúcido, conciso e didáctico.
Subscrevo na totalidade e aplaudo.
Mas que este "alarmismo" sirva para, como dizia o Rui Ferreira, dar umas "lapadas" ao Estado, ie. aos que têm que zelar pela melhor conservação deste património.
E que tal contratarem uma das magníficas equipas de projectistas que estiveram envolvidas no Polis de Tomar?!
Iriam requalificar o Convento com um arrojado moderno projecto, como fizeram cá em baixo na cidade (escadarias da Igreja de Santa Maria, Mouchão, ruas do Centro Histórico).
Claro que, esse projecto era para candidatar aos fundos do QREN!
O IGESPAR está-se "borrifando" para o conjunto do Castelo, Convento e Mata, e, muito provavelmente, ainda bem - porque são um fiasco pegado
MP
E tem razão relativamente aos líquens, são eles que protegem a pedra; e sim, para terem aquela consistência, foram 'precisos muitos anos'.
Já os fungos e bolores, são outra história, e existem devido a restauros de 'arrenque'! Mal feitos, que não respeitam a pedra, nem tão pouco a natureza, e que levam ou suscitam todo o tipo de corpos estranhos, que levam à doença, asfixia e possível morte da pedra.
Uma tristeza.
MP
Mas é exactamente isso que se prepara. Um vasto projecto para sacar verbas europeias. Felizmente, e tanto quanto se sabe, resolveram ficar-se pela envolvente do conjunto monumental e pela requalificação da Mata. Como é que chegaram à conclusão que requalificando a antiga cerca do Convento, os turistas começariam a vir à baixa, é para mim um mistério. Ouso até pensar que os defensores de semelhante ideia não conhecem bem o perfil do relevo entre a Mata, a muralha sul e o terraço da Charola. Se conhecessem, saberiam que poucos ousarão por ali passar, qualquer que seja a solução, excepto o ascensor.
Ainda bem que não há ascensor, e que a maior parte daquela gentinha que (pensa) que manda, não destituidos de neurónios!! Valha-nos isso
Quem tem na cabeça um projecto de ascensor está, pura e simplesmente, a delirar.
Para anónimo de 7:17
Parece haver equívoco. Julgo que ninguém ousará defender um ascensor, ou qualquer outro transporte fixo de superfície, para aquele bosque multicentenário. O que pretendi dizer foi apenas que o perfil do terreno não é nada propício para percursos pedestres cidade/castelo. Sobretudo quando se considera que os turistas mais frequentes não são propriamente jovens.
Aproveito para acrescentar que tenho muito receio perante a ideia, dominante no seio do actual poder local, de que o aludido caminho será a panaceia para a vinda dos turistas à cidade. Tanto entusiasmo e tanta certeza parecem-me suspeitos. Ouso até formular um princípio de explicação: Tal como dizem que a nova ponte é muito bonita para responder aos que lhes apontam várias encrencas; tal como o Expresso de ontem fala de ruína, quando o problema é de organização, também no caso da mata parece prevalecer o princípio de que a prometida requalificação vai resolver senão todos os problemas, pelo menos os principais. Acontece que nada indica que assim será, bem pelo contrário. Limitar-se a ampliar o parque de estacionamento da Cerrada dos Cães, a arranjar como deve ser a Calçada de S. Tiago, e a cuidar da Mata de modo sustentado, ficaria muito mais barato e daria muito melhores resultados. Menos para os lóbis dos concursos públicos, claro!
AR
Um ascensor para subir? Tudo bem! Então e para descer? Ninguém se lembra disso? Será preciso um descensor, não é?
Tchhhhhhhh!!!
É uma pena esse monumento estar em autogestao.
Funcionarios nao sao precisos, ponham maquina de cobrar bilhetes eo visitante faz tudo e é se quer, assim poupa-se tempo e dinheiro.
Quem gere o convento é o homem/mulher invisivel ?
E a camara nada faz so serve para cobrar uma exorbitancia na agua que cobra aos municipes?
Tomar está bem entregue.
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