terça-feira, 24 de maio de 2011

ENTALADOS PELO ESTADO INSACIÁVEL

Quatro factos díspares merecem referência esta semana: 1 - A Fitch e a Standard & Poor's, agências de notação financeira, avisaram respectivamente a Bélgica e o Itália que, se entretanto nada  fizerem para conter o défice e a dívida pública, sofrerão a curto prazo uma degradação da sua nota financeira; 2 - Falando em Portalegre, Jerónimo de Sousa lastimou que empresas portuguesas sejam praticamente forçadas a mudar-se para Espanha, pois em Portugal os combustíveis, a electricidade, os veículos e o IVA são mais caros, o que lhes retira qualquer hipótese de competitividade; 3 - Francisco Louçã, tem preconizado em sucessivas intervenções a reestruturação da dívida portuguesa; 4 - Um responsável por uma entidade que luta neste momento para sobreviver, conhecido militante de uma formação de extrema-esquerda, procurou conseguir junto de um seu empregado que aceitasse uma transitória redução de horas de trabalho e do respectivo salário, como forma de "tentar aguentar o barco até melhor maré". A resposta foi seca e pronta -"Tenho os meus direitos, que têm de ser respeitados."
Ponto comum a estas quatro ocorrências, o facto de em todas elas haver responsáveis de alguma maneira entalados pelo Estado insaciável entre o possível e o desejável. O aviso à Bélgica e à Itália, na sua aparente banalidade, marca na realidade o início de mais uma etapa na cavalgada do sistema capitalista, rumo a algo por enquanto totalmente desconhecido. Trata-se, com efeito, da primeira vez que "os mercados" implicam com países do núcleo duro da UE - o dos seis fundadores do então Mercado Comum Europeu. Doravante, apenas estão imunes às agências de ratinge com notação AAA, a Alemanha, a França, a Holanda e o Luxemburgo. Sendo do conhecimento geral que França luta com sérias dificuldades para conter o seu défice orçamental, pode-se dizer sem exagero que para a zona euro o futuro não é nada promissor.
Num tal contexto internacional, que evidencia o progressivo aumento das despesas públicas, dos défices e dos impostos cobrados, em concomitância com uma nítida redução e degradação das contrapartidas proporcionadas pelos diversos estados, os líderes políticos dos vários partidos portugueses vêm revelando alguma imaginação para iludir o essencial que, sendo muito desagradável, não dá votos.
Jerónimo de Sousa foi acutilante e justo no caso dos custos de produção em Portugal, mas absteve-se de continuar a raciocínio, que o levaria inevitavelmente à problemática do Estado Social/Estado Insaciável. Ficará quiçá para melhor altura, mas quanto mais tarde pior. Em política os não-ditos raramente beneficiam os seus autores.
Catedrático de economia, Francisco Louçã sabe bem que é inevitável, mais cedo que tarde, a reestruturação da dívida portuguesa.Todos os grandes economistas estrangeiros são dessa opinião. Por isso a vai preconizando em plena campanha eleitoral. Para mais tarde poder dizer "Conforme fui o primeiro a prever..." Infelizmente, faz como o líder da CDU: evita prosseguir o seu raciocínio. Que tipo de reescalonamento? Com prejuízos ou menos-valias potenciais para quem? Com que objectivos? Com que argumentos? Quando?
Finalmente, simpatizante comunista, o supracitado responsável empresarial, sofre agora no seu local de trabalho as consequências daquilo que a CGTP e o PCP vêm defendendo, praticamente desde o 25 de Abril: "Emprego com direitos". No caso em apreço, se calhar o direito de deixar de receber o ordenado, por falta de recursos.
Governantes, líderes partidários, empresários ou simples cidadãos, todos estão agora confrontados com uma crise de grande magnitude, que vai obrigar a escolhas bem dolorosas, tornadas indispensáveis pela repentina e louca aceleração da história. Historiadores económicos e outros economistas conhecem bem uma das grandes contradições inerentes ao desenvolvimento do sistema capitalista: Quanto mais evolui, mais os cidadãos reivindicam medidas de carácter socialista, financiadas pelo Estado (ensino, saúde, alojamento, transportes, cultura, desporto, 3ª idade...). Uma vez que é impossível haver almoços grátis, todo o problema consiste em saber até que ponto estão os contribuintes dispostos a pagar, para que todos possam beneficiar, sendo certo a experiência demonstrar o carácter insaciável da máquina estatal, que quanto mais tem, mais necessita.
Se ao que antecede juntarmos as oportunas evasivas do CDS, PSD e PS, todos adeptos da manutenção das actuais facilidades aos cidadãos por parte do Estado, sem contudo esclarecerem de onde contam vir a obter os fundos indispensáveis, não só ao seu funcionamento eficaz, mas também à absorção dos gigantescos défices já existentes; se aditarmos outrossim a doutrina Schumpeter da "destruição criadora"; teremos de concluir que após 5 de Junho vamos mesmo ser obrigados a mudar de vida, como não se cansa de recomendar Cavaco Silva.
Cá por coisas, eu se fumasse, se tivesse telemóvel, TV Cabo, SportTV ou MEO, se tomasse o pequeno almoço no café, se costumasse ir ao futebol,  se andasse na vida nocturna, se tivesse a prestação da casa para pagar ou dívidas do cartão de crédito e outras...procuraria quanto antes abster-me de todas essas coisas. Os tempos que se avizinham vão ser duros, agrestes e dolorosos. Durante largos anos. E o pior ainda está para vir.

5 comentários:

Anónimo disse...

"Cá por coisas, eu se fumasse, se tivesse telemóvel, TV Cabo, SportTV ou MEO, se tomasse o pequeno almoço no café, se costumasse ir ao futebol, se andasse na vida nocturna, se tivesse a prestação da casa para pagar ou dívidas do cartão de crédito e outras...procuraria quanto antes abster-me de todas essas coisas. Os tempos que se avizinham vão ser duros, agrestes e dolorosos. Durante largos anos. E o pior ainda está para vir".
Prezado Professor:
Caramba, nem a ver a ver navios ficamos, porque também acabaram com a nossa frota e os grandes estaleiros que davam trabalho a muita gente e traziam dinheiro para Portugal. Se calhar, há algum exagero em tudo. Ou continuam a enganar-nos. O Senhor Primeiro Ministro respondeu hoje a um discurso alarmante do Senhor Ministro das Finanças com a tranquilidade de quem parece viver num País maravilhoso, onde tudo são rosas.

Anónimo disse...

E ainda não viste nada.
Sabes bem que vais levar mais uma redução da tua aposentação. Tu e todos os fucionárioz públicos aposentados ou no activo.
Só para pagar os juros vamos precisar de 4 mil milhões de euros por ano, que se vão ter de ir buscar onde há dinheiro.
Por isso, meu caro, acabou.
Agora é pagar!

Anónimo disse...

HOJE ALGUÉM TE MANDOU um e-mail com cópia de um artigo dum jornal francês que denuncia a "austeridade" reinante nos CHULOS DE BRUXELAS,porventura tocando algum dos negociadores da troika.

E NÃO TE ESQUEÇAS:

A chulagem social,os privilegiados em que te incluis,são os responsáveis pela aparente INVIABILIDADE do ESTADO SOCIAL.

10% DE PRIVILEGIADOS SECAM O ESTADO E OS SISTEMAS DE SEGURANÇA SOCIAL,SACAM 90% DA RECEITA A REDISTRIBUIR.

ONTEM ALGUÉM DIZIA ISTO :


"O Rebelo e outros papalvos Drs. ainda não perceberam o que está a acontecer,as suas causas,os seus artífices.

Só perceberão alguma coisa quando o garrote dos especuladores e suas agências sem escrúpulos,nem regulação,se apertar nas goelas dos Espanhóis,Italianos,Belgas e talvez Franceses.

Quando a União Europeia e o euro tiverem soçobrado.

Quando os EUA e a Alemanha se ajoelharem aos pés dos credores da sua dívida soberana,designadamente a China.

Teremos uma nova Ordem Mundial ditada pelos BRICS às velhas potências.

Presumo que a História vai correr muito mais rápida do que os grandes gurus do neo-liberalismo imaginam.

Vão morrer "ENFARTADOS",intoxicados pelas suas próprias receitas.

E teremos um novo salto no progresso da Humanidade,ditado pela 1ª vez pela Economia,em detrimento da violência e da guerra.

Até porque todos sabem que não pode haver uma nova GUERRA à escala global.

Porque seria o FIM DE TUDO e o instinto de sobrevivência vai prevalecer.

Mas o Mundo vai mudar de DONOS.

23 de Maio de 2011 23:04


PARA QUE CONSTE!....

Anónimo disse...

"
Cá por coisas, eu se fumasse, se tivesse telemóvel, TV Cabo, SportTV ou MEO, se tomasse o pequeno almoço no café, se costumasse ir ao futebol, se andasse na vida nocturna, se tivesse a prestação da casa para pagar ou dívidas do cartão de crédito e outras...procuraria quanto antes abster-me de todas essas coisas. Os tempos que se avizinham vão ser duros, agrestes e dolorosos. Durante largos anos. E o pior ainda está para vir.
"

Felizmente que já vendi o automóvel e agora ando a pé... (eu também já conheci um personagem que se gabava de não conduzir,... )

Anónimo disse...

Temos mesmo que mudar de vida, como diz o Sr. Prof. Cavaco e Silva! Vamos começar pelos 20 administradores que ocupam 1000 (mil) lugares. E pelos administradores das empresas do PSI 20 que ganham em média 30.000 euros POR MÊS. E não venham com histórias que são empresas privadas. Tirando 2 ou 3, todas têm negócios com o Estado (construção de obras públicas, bancos que as financiam; EDP, EDP-R, Galp, REN, GdP, PT que praticam tarifas fixadas ou autorizadas pelo Estado). Aí é que está o Estado Insaciável, não são os funcionários que o que recebem vão entregar logo ao comércio, alimentando o IVA.