O mais recente comentário chegado aqui ao blogue acusa-me de ter perdido a esquerda e de me ter virado para o PSD mais liberal de sempre. (Ver comentário das 10:21, no post anterior). Peço licença para apresentar o meu ponto de vista.
De forma sucinta, é meu entendimento que os principais partidos concorrentes às legislativas de 5 de Junho pertencem a dois grupos praticamente opostos. Num temos o BE, a CDU e o PS, que tentam convencer o eleitorado de que tudo pode continuar como tem sido até aqui. Todos mentem, está claro, mas enquanto Louçã e Jerónimo parecem sinceros e até preconizam a expansão do sector público, designadamente através de novas nacionalizações, o que se coaduna com o seu ideário de sempre, Sócrates mente descaradamente ao arvorar-se em defensor das grandes conquistas de Abril, que ele sabe bem serem insustentáveis. Não por má vontade, por manifesta perversão política ou por adesão serôdia à Escola de Chicago e aos seus ultraliberais. Singelamente porque, na situação para a qual o governo PS arrastou o país, já não se trata sequer de ser a favor ou contra o Estado Social, mas tão só de se adaptar à realidade envolvente, evitando recorrer a desculpas de mau pagador e outros argumentos da treta. O Estado pode ou não pode pagar? Se afirmativo, como, quando e com que recursos? O resto não passa de música de embalar.
O outro grupo é constituído pelo PSD e pelo CDS, ambos nitidamente mais respeitadores do actual contexto sócio-económico. Há apenas entre eles, parece-me, uma diferença de abordagem, ditada por questões de educação e de experiência, de tarimba afinal. Economista e gestor, PP Coelho mostra-se um político sincero, aberto, com dúvidas, não hesitando em anunciar algumas medidas que irá ser forçado a tomar, caso vença a próxima compita eleitoral, mesmo que isso não lhe grangeie para já simpatias. Mais vale prevenir que remediar. Já Paulo Portas se mostra nitidamente mais cauteloso, mais cordato, alardeando a sua excelente educação nos Jesuítas. Ao final, porém, nem um nem outro ousam iludir o potencial eleitorado com promessas que depois não poderiam cumprir, caso venham a formar governo, uma vez que -dizendo as coisas de forma brutal- quem nos vai governar de facto durante os próximos 4 anos, no mínimo, são os representantes da troika. E estes apenas procuram assegurar que os nossos credores, cujos interesses eles representam, continuarão a receber o principal e a respectiva retribuição. De resto, mal de nós quando assim não for. Caso haja reestruturação, alongamento de maturidades ou incumprimento, mesmo que parcial, ficaremos arredados dos mercados durante dez ou quinze anos, no mínimo, conforme já referi no post anterior. Já pensou o leitor no que será então a vida neste país, quando o Estado não tiver acesso ao crédito nem aos fundos europeus, que acabam em 2013? Se até o Município de Tomar, apenas um dos 308 que conta o país, necessita de pelo menos 800 mil euros mensais, além das receitas previstas...
Nestas condições, opinar balelas sobre viragens à direita, políticas liberais, defender Portugal, garantir o Estado Social, Conquistas de Abril, direitos dos trabalhadores, SNS, educação pública, etc., poderão continuar a iludir alguns, menos atentos ou incapazes de entender o mundo em que vivemos. Para mim, porém, correndo o risco de estar a ver mal, parecem-me apenas guitarras a tocar atrás de um enterro... o da usual qualidade de vida em Portugal. As asneiras dos governantes pagam-se caras e não há almoços grátis. O pagamento é que pode ser em dinheiro ou em géneros.
10 comentários:
Vale a pena consultar o jornal Publico da ultima 5ª feira:Julgamento Portucale. Relvas é testemunha e diz ao juiz que tentou que o Grupo Ascendi (BES) reduzisse 100 milhões de euros (uns trocos)ao Estado em troca de mais uns anos de concessão de AE.
Pergunta o juiz ao nosso Relvas: Mas o sr. metia-se em assuntos do Governo e nos negócios do EStado, como Secretário geral do PSD? Resposta do tomarense: era tudo pelo interesse nacional !
Economista e gestor, Passos Coelho? Contava-se que os filhos-família de outros tempos, acabavam o colégio (quando acabavam), iam para a empresa da família e passavam a ser tratados como Sr. Dr. (Sr. Eng. era mais difícil porque aí era preciso saber fazer qualquer coisa, nem que fosse mudar o fusível). Na Univ. de Coimbra, pública, Passos nada fez. Concluiu um curso numa privada como Vara, Coelho e Relvas.
Chegou a qualquer lugar por mérito profissional?Por concurso público?As empresas onde trabalha e trabalhou são relevantes? Não. São as empresas do "tio" Angelo que vivem à conta do Estado e da legislação ambiental que vai saindo. Contratos para tratamento dos lixos das autarquias conseguem-se nos "corredores".
Não é preciso ser muito inteligente e ter muita experiência política para deduzir que o Dr. António Rebelo nunca foi da área da esquerda política portuguesa. Se por lá andou, terá feito um enorme esforço para suportar as contradições altamente conflitantes no seu seio desde a revolução francesa. Elas refletem as contradições no seio do próprio povo, através de muitos instrumentos que só os poderosos controlavam (e controlam).
Não tem mal nenhum ser de direita num regime democrático. Só alguns tolos em alguns momentos da História, e ainda hoje em Portugal, pretenderam espalhar a ilusão de que nos partidos ditos do povo não havia espaço para a manifestação da ideologia burguesa capitalista.
O que me arrepia, em pessoa que se assume com sobejo saber e experiência, é a repentina mudança para a direita, pondo a Roda do Mouchão a despejar alcatruzes de encómios sobre os actuais líderes da direita portuguesa.
Mas quem são esses senhores?
Um deles é bem conhecido em Tomar. É só atentar nessa inusitada situação de o Sr. Paiva, independente (ex-presidente da CMTomar) renunciar ao mandato e ter, para sua substituição, um outro independente. Não é isto uma manobra de um grandessíssimo oportunista político?! Pensem bem na manha de tal político.
O outro é o que sabemos... - mete dó!
Mais um profeta da desgraça!...
O pessimismo nunca fez as coisas andar para a frente. Tão pouco constituirá agora motor da retoma...
Passos Coelho não tem ideias para Portugal. Com ele a governar será mais difícil Portugal encontrar dinheiro para pagar ao FMI/UE.
Para anónimo das 16:19
Vale a pena ir ao "WEHAVEKAOSINTHEGARDEN.BLOGSPOT" de 22 de Maio para ver o nosso Relvas todo catita. Agora percebe-se porque o "homem de Estado" desapareceu da campanha. Calhou mal a data do julgamento do caso Portucale, de 2004, ao tempo do saudoso governo PSD+CDS.
O A. Rebelo perdeu a esquerda, sem que possamos confundir Esquerda com Partidos. Essa é a sua vulnerabilidade, meu caro. Perdeu-a, vimos agora, porque nunca a encontrou. Talvez em sonhos...confundir socrates, ps's e coisas dessas com esquerda...e alinhar por liberal sem consistencia como o coelho...pobre de si e de sua coerencia proclamada.
O Rebelo, andas a ver mal as coisas !
O Pedro Passos Coelho se ganhar as eleições vai um joguete no meio dos lobbys e influências. É um frouxo, sem personalidade .
Deus nos livre !
Para o anónimo das 8:48,
É o tal banana a liderar o banda de malfeitores ...
O Dr. Rebelo devia ter sido sempre do PSD.
Ele sempre foi de direita só que,não sei porquê,teve sempre vergonha de se assumir.
Se fosse do PSD à mais tempo,já hoje era Presidente da Câmara,o grande objectivo da vida dele.
E,como militante do PSD,dou-lhe um conselho: inscreva-se no PSD o mais rápidamente possível. E terá todas as hipóteses de ser o próximo Presidente da Câmara.
Acredite em mim. Eu sei o que estou a dizer e porque é que o estou a dizer aqui,públicamente.
JF
Para JF
Bem haja pelo seu comentário. Eis a minha resposta sucinta: 1 - Está redondamente enganado se pensa mesmo que o grande objectivo da minha vida é ser presidente da câmara. Repito aquilo que já disse e escrevi inúmeras vezes: Se os tomarenses entenderem que deva ser cabeça de lista nas próximas autárquicas, com fortes hipóteses ganhadoras, aceitarei. Mas só nesse caso. Os tempos já não estão nada fáceis e vão piorar seriamente.
2 - Futuro cabeça de lista ou não, está fora de causa filiar-me em qualquer partido ou organização política.
3 - Tem todo o direito de me considerar de direita ou de esquerda. Só respondo perante a minha consciência e, se alguma vez for eleito, perante os eleitores.
4 - Tendo em conta a actual situação e a evolução previsível a nível local, não estou particularmente interessado em encabeçar uma lista para a autarquia. Os tomarenses e as formações políticas é que poderão vir a achar conveniente que eu a encabece. Quem quer bolota trepa.
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