terça-feira, 10 de maio de 2011

PAREM MAS É COM A BASÓFIA!

Que me perdoem de antemão os bem intencionados, que também os deve haver, mas achei lamentável, para não dizer de vómito, aquele video sobre o que os finlandeses devem saber sobre Portugal. Tudo aquilo cheira a basófia, a mania das grandezas, a exibicionismo doentio, a estilo Sócrates despojado das crónicas aldrabices. Trata-se, bem sei, de responder ao ultraje que foi, para o nosso amor-próprio e a nossa conhecida susceptibilidade à flor da pele, a hipotética recusa da Finlândia em associar-se ao volumoso empréstimo europeu. E vá de lhes bater em cara com o auxílio dos nossos país em 1940, quando eles tinham fome. Suprema prova de falta de chá, da parte de quem, no dito vídeo, se vangloria justamente de ter introduzido tal bebida na altiva Albion. Ele há coisas! Terão introduzido! Mas agora, manifestamente, já não bebem tal coisa, terão pensado lá pelos lagos escandinavos.
Aquela enumeração de maravilhas por nós conseguidas, em mais de oito séculos de história é, para mim, de uma infantilidade chocante. A tal ponto que, em busca do maravilhoso e do mirobolante, olvidaram algo de que ainda hoje nos podemos mesmo orgulhar e que ainda se nota na nossa singular maneira de ser e de estar: fomos os primeiros a abolir a pena de morte, o que não é pouca coisa. Quanto às outras proezas, as nossas grandes viagens, por exemplo, são uma coisa vistas daqui e outra a partir de Londres, de Los Ângeles ou de Luang Prabang.. Enquanto nós atribuímos grande importância ao Tratado de Tordesilhas, por exemplo, os grandes especialistas da evolução humana creditam-nos sobretudo a invenção do leme de cadasto, que permitiu iniciar a navegação à bolina.
Mas o ponto fulcral nem sequer é esse do bom senso e bom gosto. A asneira monumental consiste, como quase sempre, em atirar ao lado do alvo. Que neste caso é a descomunal dívida portuguesa ao estrangeiro. A demonstrar uma vez mais que, tal como há dois mil anos, não nos sabemos governar, nem queremos que nos governem. Claro que os finlandeses se mostram renitentes em despejar aqui mais euros! Limitam-se a dizer publicamente aquilo que pensam todos os governos da UE além-Pirinéus. Para todos eles, somos exactamente aquilo que para nós representam os ciganos, os beneficiários do RSI, os das falsas baixas médicas e os alentejanos. Estamos fartos de sustentar calaceirões? Pois os finlandeses e os outros também! Deixem-nos portanto em paz e tratem mas é de aprender a poupar, a viver com o que têm, a pensar antes de dizer ou fazer e a votar "como deve ser". Com a cabeça.  Não com a vista ou com o estômago.
Têm dúvidas? Façam o favor de ler e meditar este último parágrafo do editorial do caderno Negócios, do EL PAÍS de domingo passado, o equivalente em Espanha do caderno Economia do EXPRESSO, intitulado "Portugal inicia a penitência": 
"Mesmo que o próprio Sócrates use como argumento eleitoral o facto de o plano imposto pela troika ser o menos duro dos três países já resgatados, uma vez que não inclui a redução dos vencimentos da função pública, nem do salário mínimo nacional, o certo é que também não constitui propriamente um aliciante para o crescimento económico a curto prazo. E não será de grande conforto o facto de a economia portuguesa ter crescido em média apenas 1% ao ano, durante a década terminada em 2007, antes portanto da crise financeira e económica global. Tão ou mais importante do que as reduções nos rendimentos privados e no investimento público, deveria ser a adopção de reformas tendentes a fortalecer as capacidades de uma força de trabalho manifestamente melhorável, caso se pretenda realmente que a recuperação económica seja induzida pelo aumento da competitividade em relação ao exterior.
É de esperar que, apesar do resgate agora em curso, Portugal continuará a provocar mais cepticismo do que expectativas favoráveis. O que não é nada bom para a economia espanhola."

Julgavam que eram só os finlandeses a ter muitas dúvidas? Quem esteve no ensino durante muitos anos, sabe bem quão complicado é aturar crianças mal formadas e birrentas. Como os portugueses em geral.

8 comentários:

Anónimo disse...

Os espanhóis, que AINDA não têm o FMI já alteraram hábitos de consumo, passaram do novilho e do porco para o frango e trocaram as Caraíbas por Málaga e Marbella.
E os portugueses?... ~
Na Páscoa foi vê-los embarcar em charters para Cuba e Brasil e continuam a encher os restaurantes comendo bitoques.
Assim não vamos lá...
A.A.

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

Dr. Rebelo,

A sua recente fixação em apedrejar o nosso Primeiro Ministro começa, isso sim, a ser um "exibicionismo doentio" que lhe fica mal - na minha maneira de ver.

"Tudo aquilo cheira a basófia, a mania das grandezas, a exibicionismo doentio, a estilo Sócrates despojado das crónicas aldrabices." - diz o senhor.

Às veze nem quero acreditar que um homem da sua idade, "cheio de mundo" se dedique a esse estilo de análise política. O modo mais baixo de o fazer. "Crónicas aldrabices"...

Felizmente que o povo português não é aquilo que o senhor pinta frequentes vezes aqui. Tanto assim é, que toda a oposição, usando de todos os meios postos à sua disposição, selecionando todo o ripo de apedrejadores, não desarma na defesa daquele que, para mim, por muito que lhe custe a si, foi o mais arrojado Primeiro Ministro de Portugal pós Antigo Regime.

Pode o senhor e muitos outros usarem o tipo de linguagem que quiserem, e Portugal, mesmo que ele perca as eleições, nunca mais será como dantes.

Às vezes penso para comigo: há certas pessoas neste nosso Portugal que vivem preocupados com a qualidade dos seus acompanhantes rumo à ultima morada.

Aldrabices é o que tem produzido nestes últimos anos toda a oposição, especialmente desde o rebentar da crise internacional. Pelo que sabemos (até agora), não grangearam, em média, mais apoio que aquele que sempre obtiveram nos últimos 30 anos, apesar de terem a imprensa toda, controlada pelo punhado de capitalistas desta terra, contra um Primeiro Ministro apanhado numa tempestade política e económica de que não há memória na nossa geração.

José Sócrates é um Diamante que surgiu na política portuguesa.

José Sócrates é, neste momento, não só o representante da esquerda portuguesa, mas também de todos os estratos da nossa sociedade que desejam um Portugal Novo, Moderno.

Nunca na minha vida apoiei um Primeiro Ministro. Gosto deste porque gosto do meu país e tenho a honra de pertencer ao povo mais experiente, sábio e trabalhador da Europa, ao contrário do que o senhor, inacreditavelmente, propaga.

Gosto do meu Zézito exatamente porque ele provoca artigos como este que escreveu.

É por isso que gosto do meu Zézito.

No dia 5 de Junho "on verra", Dr. Rebelo!

Os portugueses conhecem os aldrabões e oportunistas pelo cheiro e por muitas outras manifestações.

"On verra"!

Anónimo disse...

Ó amigo Cantoneiro! Começo a não saber por que ponta hei-de pegar naquilo que escreve, que realmente é do domínio não só da fé, mas até da fé dogmática, semelhante à dos fundamentalistas islâmicos. Não vale portanto a pena contrariar, uma vez que a fé não é, nem pode ser, algo de racional.
Nestas condições, limito-me a pedir-lhe um favor: Vote lá em quem quiser e defenda quem entender, mas conceda-me ao menos o direito ao pensamento livre, sem estar amarrado à estaca de um partido ou de um líder partidário. Pode ser?
Quanto ao seu adorado e idolatrado Zezito, tenho muita pena mas mesmo no estrangeiro não conheço ninguém de jeito que o apoie. Aqui tem mais um exemplo: "Não é possível gerir uma união monetária com pessoas como o sr. Sócrates..." Wolfgang Münchau, jornalista do Financial Times.
Não se enerve, homem! Já o estou a ouvir: "É mais um alemão direitista, estava à espera de quê?"
Continue por essa via que vai longe.

Cordialmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

De tanto zurzirem no Zé Sócrates acabam por o elevar à categoria de mártir e ele, que é fino como a seda, vai aproveitando para ganhar pontos ao Coelho/Catroga/Relvas e outros que tais.

Cá por mim não o zurzo mais e voto no Jerónimo até para seguir os do Obama que o publicitaram (operação Jerónimo a que matou o Osama).

Aliás, Jerónimo era o nome deum índio que lutou (e muito bem) contra os yanquees!!!

Anónimo disse...

De ninguém de jeito para António Rebelo.

Como não me deixo condicionar pela sua opinião e salvo alguma catástrofe de que nenhum de nós está a salvo votarei em José Sócrates (mais do que no PS), registo o facto de a partir de hoje V/Exa me considerar alguém sem jeito.
Mas não fico triste com isso. Aproveito aliás para lhe transmitir a reciprocidade. Também eu não lhe acho jeito nenhum a si...
João sem jeito

Bravura Lusitana disse...

Se votam no Sócrates é porque recebem subsídios para estar em casa na Internet a escrever baboseiras.

Por Tomar, Por Portugal,
PNR SEMPRE PRESENTE.

Anónimo disse...

Para comentário em 16:06

Só lhe fica bem essa susceptibilidade à flor da pele, que corresponde exactamente ao que os estrangeiros pensam de nós. Pode considerar-me como entender, que haverá sempre uma diferença entre nós: Enquanto eu dou a cara, mesmo sem saber de quem se trata, você abriga-se no habitual e confortável anonimato. Mais uma das características dos portugueses: tacanhos, desconfiados, conservadores, susceptíveis e medrosos.

Anónimo disse...

"
Mais uma das características dos portugueses: tacanhos, desconfiados, conservadores, susceptíveis e medrosos.
"

Registei que o articulista considera os portugueses, tacanhos, desconfiados e susceptíveis e medrosos.
Mas fiquei com pena de os não ter considerado também merdosos. Afinal só fazemos merd... , perdão, cáca grossa.