terça-feira, 3 de maio de 2011

A POLÍTICA TOMARENSE É DE ESTILO MANUELINO


Esta foto, obtida ontem junto ao antigo hospital, parece-me constituir uma boa metáfora para caracterizar o comportamento político dos tomarenses. Entendendo-se neste caso por comportamento político a actuação de cada cidadão no que concerne aos assuntos da polís = da urbe = da cidade.
Uma grua monumental iça umas vigas em betão pré-esforçado, de 3 ou 4 metros cada, por cima do telhado da igreja de Nª Sª da Graça, vulgo da Misericórdia, depositando-as no seu local definitivo, no primeiro andar do prédio contíguo em construção. Temos assim, em termos de despesa, o aluguer da grua + o combustível da dita + o trabalho do manobrador + 2 trabalhadores na camioneta, para atar as vigas + 3 lá dentro, para as desatar e colocar nos respectivos locais definitivos. São portanto 6 homens e uma grua, para uma tarefa que podia e devia ser feita por apenas três ou no máximo 4, entrando as vigas pela porta situada no enfiamento vertical da janela aberta. Com muito menos estardalhaço e menor despesa.
Sei muito bem o que estou a dizer. Em tempos fui o terceiro trabalhador na colocação de vigas semelhantes mas de 5 metros, em três casas diferentes, todas na cidade antiga. Porque me ficou muito mais barato? Certamente. Mas também e sobretudo porque nunca tive a mania das grandezas, nem gosto de espalhafato ou de exibicionismo, preocupando-me sempre em encontrar a melhor relação necessidades/recursos/eficácia/simplicidade. O oposto do que mostra a foto e do que geralmente praticam os tomarenses, enquanto portugueses provincianos que são. Por isso, cuido eu, vai ser tão difícil sair da cepa torta.

E, para não sair do tema, temos igualmente as reacções ao "Barómetro político tomarense", a auscultação que está a ser feita aos leitores de Tomar a dianteira, por enquanto ainda como simples "galope de ensaio", para usar uma linguagem hípica, bem como a afirmação axiomática do vereador e amigo tomarense Luís Ferreira, segundo a qual, sem a coligação e os decorrentes esforços dos eleitos socialistas, a actual câmara seria bem pior, apesar de mesmo assim ser a pior desde o 25 de Abril.
Num mundo desenvolvido cada vez mais dependente das comunicações electrónicas, é já corriqueiro que qualquer blogue ou site proponha sondagens aos seus frequentadores. Sondagens que, bem entendido, valem o que valem, dando contudo uma ideia da opinião maioritária, num dado momento, dos cidadãos abrangidos -o universo dos leitores usuais do suporte. Neste momento, vários sites franceses solicitam o voto dos respectivos seguidores, procurando saber qual o melhor candidato para as presidenciais de 2012, tal como em Espanha tentam apurar, pelo mesmo canal, o vencedor das próximas eleições municipais, nas respectivas "alcaldias". Mesmo em Portugal, o blogue O Jumento tem neste momento, na sua secção opinião pública, uma sondagem com perguntas jocosas sobre o PSD, a denotar que é mesmo dinamizado por socialistas retintos.
Em nenhum destes caso, porém, os leitores/votantes se lembraram de questionar a iniciativa nem, muito menos, de injuriar quem está na sua origem. Votam ou não e vão à sua labuta diária. Só mesmo em Tomar, onde muitos habitantes estão mentalmente mumificados sem disso se darem conta, houve desfaçatez suficiente para apodar de criança o autor da sondagem, indagar qual o princípio que presidiu à elaboração da lista de nomes submetidos a sufrágio, garantir que não me enxergo, asseverar que a iniciativa é ridícula por incluir o nome de quem a implementa entre os putativos candidatos, ou ainda informar que os resultados não serão fiáveis por ser possível manipulá-los, recorrendo ao voto múltiplo. Luís Ferreira -que, ao contrário do que sustentam os seus inimigos de estimação, afinal até é técnico de informática- nem hesitou. Forneceu o método para praticar o dito voto múltiplo -basta, segundo ele, desligar e voltar a ligar o router. Pergunto eu: Para além do acto de trafulhar, sempre gratificante para quem não esteja contente consigo próprio, como informam os psicólogos, qual o interesse de semelhante desonestidade?
Na mesma linha, a afirmação de que o executivo municipal, apesar de ser o pior desde o 25 de Abril, seria ainda pior sem os coligados eleitos do PS, carece de demonstração, infelizmente impossível de realizar, por manifesta indisponibilidade dos socialistas locais, que insistem em manter o vago acordo assinado, o quel, segundo dizem, nem sequer tem sido cumprido. Por isso me limito a repetir aqui uma velha anedota, já muito conhecida, da qual cada leitor tirará as conclusões que entender.
Era um barbeiro de uma pequena vila, que murmurava sempre "Vá lá, vá lá. Podia ter sido bem pior", quando lhe contavam qualquer acontecimento fora do comum. Sabedor disso, um dos frequentadores da barbearia, quando soube que em determinada casa o marido encontrara a mulher na cama com outro, matando ambos a tiro e suicidando-se logo a seguir, foi contar o drama ao barbeiro, concluindo com a pergunta "Não me digas que podia ter sido bem pior??!! -Ah pois podia! E de que maneira! Se calha a ter sido ontem à noite, tinha-me apanhado lá a mim!

2 comentários:

Anónimo disse...

Direi mais: é de estilo manelinho...

Rui Paulino disse...

Como também outros saberão o que estão a fazer e possivelmente mais modernizados que, na data em que as fundações se abriam manualmente e o betão era composto por seixo rolado também misturado manualmente ou talvez mecânicamente já na betoneira, informo de que as referidas vigas não poderiam ser transportadas manualmente entre o escoramento da referida laje a ser dessa forma colocada e ainda que as mesmas além de terem que ser elevadas 3 metros até à laje, pesam na globalidade cerca de 5 toneladas, acrescido de outro tanto relativamente às abobadilhas também essas transportadas pela referida grua, a qual e derivado à sua deslocação cobra o mesmo por 1 ou por 4 horas de serviço.
No entanto, foi com certeza uma situação pontual, a elevação de uma viga de uma única vez, derivado ao diferente dimensionamento e local onde iria ser colocada, estando mesmo assim certo de que o valor para transporte e colocação foi inferior e mais prático do que aquele que sugeriu, porque o custo de mão-de-obra "barata" e da "escravidão" já lá vão, ficando por vezes e somente o da critíca pouco construtiva. Aproveito também para esclarecer que os 2 homens que diz estarem a atar as vigas, estavam também a limpar os barbotes das mesmas, tarefa esta que deve sempre ser executada, mas dar lições não é a minha actividade.

Rui Paulino