sábado, 14 de maio de 2011

RECORTES DA IMPRENSA DE HOJE

Marina Marques, DN, 14/05 2011, página 39

Num vasto trabalho de investigação jornalística sobre as maleitas do património português, O DN publica na sua edição de hoje esta peça sobre as ruínas do Convento de Santa Iria. A dado passo, a jornalista cita Corvêlo de Sousa: "Neste momento há duas empresas interessadas, mas antes de avançar com o concurso público, quero ter a certeza de que haverá alguém a concorrer."
Afinal em que ficamos? Há ou não há empresas interessadas? Se há, certamente que apresentarão a respectiva candidatura. Ou estamos perante a segunda edição da tentativa feita há dois ou três anos? Já então também foi dito que havia interessados, mas afinal o concurso ficou deserto. Palavras leva-as o vento...

"O tempo suspenso"

"Apesar do ruído eleitoral, Portugal vive um tempo suspenso. Entre a assinatura do acordo com a troika, que nos salvou para já da bancarrota, e as eleições de 5 de Junho, a partir das quais vai ser preciso mudar de vida, o país vive um momento de ilusão. Será a calma que precede a tempestade?
Basta, dizem-me, de pessimismo. O país foi humilhado e os portugueses estão fragilizados. Não precisamos de mais negativismo porque, enfim, já batemos no fundo. Mas será que batemos?
O país faz hoje lembrar alguém que, como muitos quilos a mais resultantes de muitos anos de excessos, vem do nutricionista comprometido a iniciar uma longa e rigorosa dieta. Acto contínuo, diz a si próprio "Segunda-feira começo isto a sério, por isso o melhor é marcar uma jantarada com os amigos para sábado. Em Portugal é sempre sábado.
O establishment português está em negação. O discurso oficial diz-nos que a intervenção externa, apesar de má para o ego, é um bênção. Descobrimos finalmente a receita e, depois de anos -décadas? séculos?- sem conseguir conter o défice público, vamos agora fazê-lo, transformando Portugal num país moderno, de oportunidades, europeu, enfim, no país de todos os chavões? É como se o passado nunca tivesse existido. Não é de espantar. A negação é a primeira fase do luto. Pequeno problema, a segunda fase é a fúria.
A negação da realidade tem-se institucionalizado, em Portugal e pela Europa fora, pelo motivo habitual: porque a verdade é dura. A verdade é que o país com que vamos ter de implementar todas as medidas agora acordadas com a troika -medidas que há muito sabemos serem necessárias- é o mesmo país que até agora foi incapaz de implementar qualquer uma delas. Nenhuma varinha de condão fez com que de um momento para o outro a dependência generalizada do Estado que caracteriza a sociedade portuguesa seja agora mais fácil de gerir.
É por isso que o etablishment opta por esconder a realidade, até porventura de sí próprio. Qualquer dúvida, dizem-nos, alimenta a especulação dos mercados internacionais contra Portugal e diminui a confiança dos portugueses em si mesmos e no seu sistema político. Na realidade, o problema é que falar verdade espanta os eleitores e assusta os mercados. Em Portugal, assusta pela dureza da contenção que aí vem e pela possibilidade de, no fim, não conseguirmos evitar o colapso. Na Alemanha, assusta pela possibilidade de ter que emprestar ainda mais dinheiro aos vizinhos quase falidos e de, no fim, nada adiantar e o euro sucumbir.
Esta estratégia de ocultação de incertezas não resolve qualquer problema. Nem os mercados internacionais nem os eleitores portugueses são parvos. Pelo contrário, esta generalização da mentira como instrumento de gestão da situação política, é um grave problema para Portugal e para a Europa. Dizem-me que o tempo do debate terminou -terminará em 5 de Junho- e doravante será tempo de acção. Mas não é isso que nos diz o eleitorado. Se há uma conclusão que podemos tirar das sondagens de opinião, é que os portugueses estão indecisos sobre a forma e sobre a própria possibilidade de mudar de vida. É esta indecisão que está por detrás do empate entre PS e PSD. É esta indecisão que irá muito provavelmente levar a um governo de minoria ou de coligação. Nenhum dos dois cenários é o melhor par implementar reformas duríssimas.
O momento de ilusão é portanto particularmente grave para a viabilidade do nosso sistema político. Ao ocultarmos a real possibilidade de sermos incapazes de mudar de vida, criamos uma expectativa sobre o desempenho do futuro governo que será difícil de satisfazer. Os partidos do arco governativo têm hoje -determinados que estão, e bem, em cumprir o acordo com a troika- um espaço de manobra mínimo. Mas, ao mesmo tempo, o espaço de reacção popular à tentativa de forçar uma difícil mudança de vida será sempre grande. E essa disparidade é perigosa para a república.
Os tempos que aí vêm serão de mar picado. Como dizia William Ward, "O pessimista queixa-se do vento; o optimista espera que ele mude; o realista ajusta as velas." É tempo de deixar de acreditar cegamente que o vento vai mudar. É tempo de ajustar as velas."

Nuno Monteiro, professor de Ciência Política na Universidade de Yale - USA, jornal i, 14/05/2011, página 3


Os negritos e a cor são de Tomar a dianteira

3 comentários:

Anónimo disse...

Já não!
O tempo das vacas gordas já passou e não foi aproveitado pelo turismo local. Agora o tempo será dos turistas de "pés-descalços", de roulote, auto-caravana, tenda ou mesmo os de sofá.
Tomar continuará a ter o Hotel dos Templários... sem grande concorrência.

Anónimo disse...

Tomaramos nós que o Hotel dos Templários nunca feche. É a única coisa de jeito em Tomar. Cá corri Portugal de lés-a-lés mais de dez vezes e devo dizer que vi por aí muito hotel afamado que não lhe chega aos calcanhares, quer na qualidade do serviço quer no enquadramento.

Anónimo disse...

De facto é muito bom.
Mas talvez fosse melhor se tivesse concorrência, coisa que sempre evitou...