quarta-feira, 5 de junho de 2013

Falaise e Tomar

Aspecto das ruínas do Castelo de Guilherme o Conquistador, em Falaise, Normandia, França

Vimos no texto anterior o extraordinário trabalho de ponta encomendado pela câmara de Falaise para receber com dignidade os numerosos visitantes do Castelo de Guilherme o Conquistador, que é gerido por ela. Apesar de famoso e muito concorrido, o castelo não íntegra a lista do Património da Humanidade. A própria Falaise é uma pequena cidade de apenas oito mil habitantes, na costa norte da França, a mais de 250 quilómetros de Paris. Tem porém a felicidade de ser governada por um executivo municipal cujos membros visivelmente não andam neste mundo por ver andar os outros. Prova disso é o extraordinário trabalho de animação multimédia, descrito no post anterior, que custou 600 mil euros apenas, e constitui além disso um excelente investimento, posto que doravante cada visitante do castelo paga sete euros e meio (seis para adolescentes, três para crianças) para usar uma tablete durante a visita, revertendo a receita para os cofres municipais.
Mesmo sem querer denegrir os autarcas tomarenses, forçoso é concordar com uma série de verdades amargas. Eis algumas. A pouco mais de cem quilómetros de Lisboa, servida por auto-estrada, com 40 mil habitantes e um monumento Património da Humanidade desde 1983, nunca os eleitos tomarenses, incluindo os da oposição, alguma vez se interessaram activamente pelo conjunto monumental templário, no sentido de reivindicar a sua gestão turística operacional. Tão pouco alguma vez reclamaram contra os sucessivos desmandos e ultrajes ao bom senso que por lá se vão praticando. Apesar de reunirem semanalmente nos Paços do Concelho, a cem metros da Charola.
Mais grave ainda, obnubilados pela ganância dos fundos europeus, esbanjaram mais de dois milhões euros a fazer filhos em mulher alheia. O caminho pedonal pela Mata dos Sete Montes está encerrado, porque a directora do monumento se recusa a mandar abrir todos os dias o portão da Torre da Condessa. Os parques de estacionamento serão obras inúteis a médio prazo, a partir do momento em que uma maioria sensata concluir que os turistas devem aparcar cá em baixo, por razões óbvias, e agir em consequência.  A remodelação da principal via de acesso ao monumento deixou-a ainda mais limitada, uma vez que os autocarros agora só podem subir, ao contrário do que sucedia anteriormente. Acresce que o alambor templário do século XII, parcialmente destruído o ano passado, continua a aguardar uma solução digna.
Entretanto, os seis euros de cada entrada, sem direito a quaisquer explicações, lá continuam a ir para Lisboa, destinados a uns senhores com secretárias no Palácio da Ajuda, alguns dos quais nem nunca por aqui se perderam. Têm no Convento trinta e tantos subordinados, que se limitam a receber os vencimentos, havendo alguns que também limpam, outros cobram os bilhetes e fazem as contas, outros ainda abrem e fecham as portas. Em pleno século XXI, nas barbas de uma autarquia muda e queda... E eu é que tenho uma fixação contra os tomarenses?!

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