sábado, 29 de junho de 2013

Sobre emigração e informação

A acreditar na comunicação social portuguesa, a emigração tende a aumentar, tal como sucedeu nos anos 60-70 do século passado, agora com destaque para os jovens com diplomas universitários. Acontece contudo que a imprensa estrangeira relativiza o fenómeno, considerando mesmo Portugal um caso diferente:

"Diplomados do sul procuram emprego a norte"

"A Alemanha atrai jovens espanhóis, italianos e gregos, que fogem da penúria de empregos qualificados e bem remunerados"

"O movimento é ainda modesto, mas há claramente uma dinâmica que se acentua: a crise económica está a redesenhar o mapa dos fluxos migratórios intra-europeus. Jovens diplomados do sul do continente são cada vez mais numerosos a procurar os países mais prósperos da União Europeia. 
Desde a crise de 2008, os fluxos mais dinâmicos provêm de Itália e de Espanha. O afundamento das economias da Europa do sul reactivou uma emigração que quase acabara desde meados do século XX. Entre 2007 e 2011 a emigração italiana aumentou mais de 30%, a espanhola mais de 140% e a grega ultrapassou os 200%. Principal destino destes emigrantes -a Alemanha.
Nesta paisagem, os portugueses são um caso particular. A emigração lusa aumenta desde 2010, mas unicamente para a Suiça e para Angola, uma antiga colónia portuguesa que tem registado um forte crescimento económico desde há dez anos. Globalmente, em valor absoluto, a emigração portuguesa para os países da União Europeia até baixou 16%.
A principal novidade deste cenário, inimaginável há apenas cinco anos, é o fim da hegemonia do fluxo migratório Leste-Oeste. Até então, os países que forneciam mais candidatos à emigração eram a Polónia e a Roménia, com respectivamente mais de 320 mil e 530 mil saídas registadas em 2007. Estes emigrantes dirigiam-se sobretudo para quatro destinos: Alemanha, Reino Unido, Itália e Espanha.
De um modo geral, estes novos movimentos migratórios devem contudo ser relativizados. "Há um crescimento da emigração nalguns países, mas como se parte de pequenas quantidades anteriores, continua a tratar-se de algo moderado", esclarece o perito da OCDE Thomas Liebig. "As migrações provenientes de Itália, Espanha ou Grécia dizem respeito a 50 mil pessoas em média, em 2011", acrescentou. A título comparativo, apesar da sua relativa saúde económica, a Alemanha forneceu desde 2007 mais de 100 mil emigrantes anuais, designadamente para a Suiça e para a Áustria.
Por outro lado, tanto na Alemanha como em Espanha ou na Itália, a taxa de emigração não ultrapassa por enquanto um a três por mil da população total respectiva. Trata-se portanto de um movimento que nada tem a ver com os dois milhões de portugueses que emigraram nos anos 60 e 70, o que corresponde a 23% da população total.
No caso da Espanha, o movimento migratório para o norte da Europa poderá muito bem ser actualmente sobretudo o de anteriores imigrantes chegados aquando do boom económico do início do século XXI. De acordo com Thomas Liebig: Houve então uma vaga de naturalizações e, com a crise, alguns aproveitaram a livre circulação para se instalarem noutros países. 
Se desde 2007 os fluxos migratórios provenientes da Polónia e da Roménia diminuíram bastante (respectivamente 18% e 43%), não cessaram contudo completamente, continuando a ser, em volume, os mais importantes da Europa.
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Exceptuando um pequeno número de espanhóis e portugueses, a atracção dos europeus pelos países emergentes é também globalmente limitada. O único movimento importante observado, no que concerne a esses países, é o do retorno de Latino-Americanos residentes designadamente em Espanha.
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Elise Vincent, Le Monde, 28/06/2013, página 2

Os destaques coloridos são de Tomar a dianteira, tal como os cortes efectuados devido ao tamanho do texto original, que se encontram devidamente assinalados.


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