sexta-feira, 7 de junho de 2013

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Juanjo Martin/EFE/SOL
A vitória de Hollande em França não teve os resultados esperados pelos portugueses.

António José Seguro e o insucesso de Hollande

"Há um ano, François Hollande vencia as eleições presidenciais francesas e oferecia uma nova esperança aos socialistas europeus, incluindo os portugueses. António José Seguro fez uma festa em Lisboa, indo depois a Paris participar na celebração da vitória e dar um abraço ao novo herói.
A Europa -dizia-se- iria virar a página e entrar numa nova era. Vencido um "tonto" chamado Sarkozy, que fazia todos os favores à Alemanha, a "senhora Merkel" ia fnalmente ter pela frente um adversário à altura. Lembro-me de Ana Gomes chamar todos os  nomes a Passos Coelho por não desejar a vitória de Hollande, visto que Portugal só beneficiaria com ela. Segundo a eurodeputada, o "governo de direita" português era tão mentecapto que nem conseguia perceber o seu próprio interesse.
Acreditava-se que o Presidente socialista francês poria fim às políticas de austeridade e relançaria a Europa na senda do crescimento e do progresso, donde nunca se deveria ter afastado. 
O primeiro encontro entre Hollande e Merkel não correu, porém, tão bem como se previa. Mas era só um primeiro round; outros se seguiriam, onde o socialista daria cartas.
Um tempo mais tarde, Seguro voltou a Paris, num périplo pelo estrangeiro destinado a coleccionar apoios, mas não encontrou no inquilino do Eliseu o apoio que esperava para as suas propostas; pelo contrário, Hollande assobiou para o ar. E, de desaire em desaire, a esquerda portuguesa foi-se desiludindo do seu ídolo, a ponto de uma parte dela o começar a cobrir de impropérios. Os que acreditaram cegamente em François Hollande há um ano são hoje, naturalmente, os mais desiludidos.
Isto é típico da esquerda: cria grandes ilusões e colecciona, depois, cruéis desilusões. Ilude-se e desilude-se com tremenda facilidade. É estranho que não aprenda com a realidade e caia sempre nos mesmos erros. Para ela parece ser sempre "a primeira vez". Acredita sempre que "agora é que é!" Ou finge acreditar. Porque Seguro sabe muito bem que não só os encontros com Hollande, mas todos os outros contactos internacionais que manteve, se revelaram infrutíferos. As suas reuniões com a troika saldaram-se por um fracasso. Os apoios internacionais que tem pedido, mesmo a líderes ideologicamente próximos, não foram atendidos.
Quer isto dizer que, quando (e se) Seguro for para o Governo, a sua margem de manobra será estreitíssima. Com a agravante de se ter oposto a medidas que não poderá deixar de pôr em prática.
Mas o seu ponto mais crítico é a promessa de fazer arrancar a economia. A única hipótese de o conseguir a curto prazo é reanimar o sector da construção civil, lançando novas empreitadas de obras públicas. Sucede que o investimento na construção não é reprodutivo. Ao contrário de uma fábrica, que a partir do momento em que se instala começa a produzir bens, o dinheiro investido numa obra fica ali enterrado, imobilizado, não se reproduz. Foi esse o modelo seguido nas últimas décadas, com os resultados conhecidos: a dívida do Estado aumentou de forma galopante (porque era preciso pedir dinheiro emprestado para fazer obras) e a economia quase não cresceu.
O saldo era cada vez mais negativo. Estávamos numa trajectória ruinosa e insustentável. É isto exactamente que tem de mudar. O nosso crescimento tem de assentar no aumento do que produzimos e não no aumento da dívida. Hollande já o deve ter percebido. António José Seguro ainda não. Ou se calhar também o percebeu mas não quer dizer. Por isso é tão pouco convicto naquilo que diz."

José António Saraiva, Política a sério, SOL, 07/06/2013, página 2

1 comentário:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Diretor de um jornal sustentado pelo capital tingido de sangue do povo angolano, O Sr. Saraiva confessou um dia na "Tabu", pp. 72-73 (ver blogue Câmara Corporativa):

"Quando terminavam os exames, os alunos esperavam à porta da Escola, no Largo da Biblioteca Pública, ao fundo da Rua Ivens, ao Chiado. Normalmente as notas demoravam meia hora a ser afixadas. Mas daquela vez esperei uma hora, duas horas — e só então apareceu a pauta. Olhei para ela, sem grandes esperanças, mas tive uma boa surpresa: tinha passado, embora com um medíocre 10. Mais tarde alguém me diria que a nota fora muito discutida — e só não me tinham chumbado por eu ser sobrinho do ministro da Educação (o meu tio José Hermano Saraiva)."

E acrescenta no mesmo artigo:

"Eu voltava a não saber minimamente o que responder. Mas o professor ajudava:
- Então, agora faz isto tal e tal, não é? E depois une aqueles dois pontos...

Enfim, do princípio ao fim do exame ele disse-me tudo. Eu limitava-me a fazer no quadro o que o mestre ia dizendo, sem perceber sequer o que estava a fazer.

No fim, quando veio a pauta, à frente do meu nome aparecia um luzidio 17! Aí tive a noção plena de como a vida é aleatória."


No Sol online, 3/6/2013, este Sr. Saraiva, escarrapacha um profundo pensamento democrático, sobre se o actual governo é ou não ilegítimo:

"Mesmo que se concluísse que o país inteiro estava contra o Governo, isso não poderia ser razão para o Presidente o demitir."