segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ANÁLISE DA IMPRENSA - EXTRA

Política com comando à distância


Jerónimo Foice

Mais uma entrevista do nosso presidente Corvelo de Sousa. Desta vez na "Prisma - Cidades +", uma publicação de 8 páginas, encartada no Diário de Notícias de ontem. Por me parecer pertinente uma análise detalhada, abordarei primeiro o conteúdo e depois o continente, ou suporte.
Nesta sua intervenção, o alcaide tomarense deixa finalmente transparecer que é um arguto, fino e culto observador da realidade local e nacional. Assim, falando da Ordem de Cristo, avançou "que teve um papel importante nos Descobrimentos, mas não permitiu que a cidade ou o concelho se modernizassem, ...a Ordem é que explorava tudo o que era passível de ser explorado." Perguntado se "Essa situação afectou o crescimento da cidade", disse que "afectou e ainda afecta de alguma maneira, porque estas situações levam gerações a desaparecer."
Num registo mais actual, lá foi dizendo que "Neste momento é difícil distinguir entre as dificuldades que nos são específicas e aquelas que são generalizadas, por causa da crise. Já estávamos em crise em Portugal, antes dela se generalizar e não é fácil distinguir uma coisa da outra." Sobre o Parque de Campismo foi claro, apesar do lapso de datação: "Tínhamos um Parque de Campismo muito apreciado, o qual teve de fechar por força das circunstâncias, mas penso que ainda este ano irá abrir..." Refería-se ao próximo ano, bem entendido.
Devidamente assinalado o que está bem e muito deve honrar os tomarenses, vou agora ao que não me parece assim tão correcto. Antes de mais, a afirmação segundo a qual "A cidade está em recuperação..." carece de qualquer fundamento e surge como mera propaganda eleitoralista antes de tempo. Igualmente eleitoralista é dizer que "Há situações que nos estão a correr bem, designadamente a construção de dois campos de golfe no concelho e a possibilidade de avançarem mais dois." Além da ideia de improviso, contida na frase "Há situações que nos estão a correr bem...", o Cão Tinhoso, que está aqui ao lado a seguir as coisas, não se conteve e ladrou logo -"Um dos golfes devia ser na Várzea Grande!" Então porquê, CT?
"Porque os buracos já lá estão e ficava muito mais barato e central..." Desabafos caninos!
Sobre aquilo que parecem ser as grandes opções do actual presidente para o futuro próximo, arrisco-me a ser demasiado duro, mas serei claro -não me parecem nem coerentes, nem adequadas, nem profícuas.
Não me parecem coerentes, pois se estamos a braços com três crises simultâneas, a mundial, a nacional e a local, é imprudente avançar com iniciativas tendentes a aumentar os encargos da autarquia, os quais terão de vir a ser pagos, mais tarde ou mais cedo, por uma população que já é das mais sobrecarregadas do país em termos de preços, impostos e taxas. Não me parecem adequadas porque sendo necessário e urgente disciplinar as despesas da autarquia, como condição para baixar os encargos permanentes da população residente, aquilo que se anuncia é a criação de mais empregos e consumos a pagar pelo orçamento de estado ou da autarquia, o mesmo é dizer pelos contribuintes. Não me parecem profícuas porque, designadamente no caso da Cerca do Convento, se corre o risco de devassar aquele espaço, de o tornar menos íntimo, menos tomarense, como de resto já sucedeu no Mouchão, sem qualquer retorno digno de registo. Ou passará pela cabeça de alguém que autocarros e automóveis virão a estacionar na Várzea Grande, ou alhures na cidade antiga, para os seus passageiros irem para o Convento (ou virem do Convento) a pé? Deixem-se de toscos arremedos de Granada...
Indo agora ao continente, ou suporte da entrevista. Trata-se de uma publicação que vai no seu número 2 e se destina, sem sombra de dúvida, à promoção, mais ou menos encapotada, dos presidentes de câmara, à custa do orçamento autárquico. Neste número há três chamadas, com fotografias a cores, que enchem completamente a primeira página: "Benavente - O pulmão de Lisboa", "Elvas - Cidade em ascensão...sempre com Badajoz em vista", "Tomar - Pólo deTurismo e de Cultura".
Nas páginas interiores, o autarca de Benavente, no cargo há 24 anos, tem direito a página e meia. O mesmo acontece com o de Elvas, em funções há 16 anos. Corvelo de Sousa ocupa apenas uma página, a 6ª.
É na publicidade que as coisas são ainda mais óbvias. Metade da página 3 é ocupada pelo anúncio dos restaurantes "Tromba Rija" que, conjuntamente com uma tira da "Lusocarta" e outra da "City 21", ambas na primeira página, constituem a publicidade não-autárquica. O "Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Raínha" ocupa metade da página 5 , enquanto que Alcobaça usa toda a página 7 com os seguintes dizeres: "Acolhemos & Apoiamos o seu Projecto
GAE -Gabinete de Apoio ao Empreendedor, FINICIA OESTE - Fundo de apoio a iniciativas empresariais, NOSE-URBACT II - Programa de iniciativa comunitária, HERITAGE CERAMICS -Projecto de preservação de tradições e arte da cerâmica, ZICA - Zona industrial do Casal de Areia, ALEB - Área de Localização Empresarial do Casal da Benedita. UM CONCELHO CONSTRUÍDO A PENSAR EM SI. GAE-Gabinete de Apoio ao Empreendedor, Morada, Telefone, Fax, e-mail. ALCOBAÇA MUNICÍPIO.
Perante esta promoção bem feita, tanto a das Caldas da Rainha como, sobretudo, a de Alcobaça, o que fez o Município de Tomar? Comprou a última página, escolheu um fundo vermelho, colocou ao alto "O tesouro dos templários somos nós", antecedido pelo logótipo templário e usou uma foto aérea do castelo e parte do Convento, já com uns bons anitos, logo abaixo. Terminou com "Tomar: património para o futuro" e "Tomar - Cidade Templária", com aquela espécie de bolota à esquerda.
Resumindo: nem apoios, nem serviços, nem telefones, nem faxes, nem endereços, nem e-mail. Bem sei que o anterior presidente disse um dia que "Tomar não é para quem quer, mas quem pode." Mesmo assim, estou convencido de que se os templários tivessem procedido como faz a actual Câmara, nunca teriam passado da cepa torta. O Gualdim Pais deve dar voltas na campa, cada vez que ouve essa da "Cidade Templária". Outros tempos...

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