quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

TENTAR COMPREENDER A CRISE - 10

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES PROVISÓRIAS

António Rebelo


Ao longo de vários intervenções, procurei facultar um adequado conhecimento da crise, de forma a que cada um dos leitores atentos fique mais preparado par obviar os seus inconvenientes, que são muitos e graves. Fi-lo, usando uma linguagem e um estilo tão simples quanto possível. Tentei ser o mais sucinto que a complexidade da questão permite, no meu entendimento. Esforcei-me para raciocinar sempre na perspectiva de quem escreve numa pequena cidade periférica, de um país periférico, que faz parte de um continente cada vez mais periférico, após ter sido, durante séculos "o centro do Mundo". Como é do conhecimento geral de quem se interessa por economia, enquanto as leis e as modas vão sempre do centro para a periferia, a riqueza segue o caminho inverso. Convém nunca esquecer este axioma.
É agora tempo de apresentar algumas conclusões, para juntar, eventualmente, às que os leitores já terão deduzido. Faço-o ponto por ponto, para maior comodidade de leitura e entendimento.

1 - No momento em escrevo, posso afirmar, sem receio de ser desmentido, que ninguém no
mundo sabe ao certo quais as causas reais ou qual a evolução, a duração ou a gravidade da
actual crise. Os governantes só não o admitem porque seria catastrófico em termos
psicológicos.

2 - Quanto mais prolongada e profunda for a crise, a nível mundial e europeu, maiores e mais
graves serão as suas consequências em Portugal, particularmente em termos de emprego e
de poder de compra.

3 - Mesmo quando, pouco a pouco, a actual crise for desaparecendo, em Portugal continuaremos
confrontados com a nossa crise, então singularmente agravada em termos de défices,
exigindo grandes e prolongados sacrifícios à população, bem como determinação, coragem e
persistência aos governantes.

4 - Na nossa terra, além de atingidos pelos efeitos da inevitável política de austeridade, que virá
logo a seguir à atenuação da crise internacional, podendo até começar logo após os próximos
actos eleitorais, qualquer que seja a cor do futuro governo, teremos de procurar forçosamente
outras políticas, outros caminhos, outros métodos de governação, se quisermos realmente
contrariar com eficácia a actual decadência que já ninguém nega. Seja quem for que ganhe as
autárquicas.

5 - A futura maioria autárquica, seja ela qual for, terá desde o início do mandato um pesado
dilema: ou atacar o mal pela raíz, ou deixar correr o marfim. O mesmo é dizer, procurar
soluções ou deixar que se vá agravando a decadência. Num caso, é preciso ter muita coragem.
No outro, é preciso ter muita falta de vergonha.

6 - À primeira vista, o problema tem uma solução extremamente simples. Dada a situação de
evidente desiquilíbrio orçamental crónico, todos estarão de acordo, tanto entre os eleitos
como entre os eleitores, para afirmar que a única saída correcta é aumentar as receitas e
diminuir as despesas. É aqui que começam as dificuldades. Há que optar, tanto no domínio
das receitas como no das despesas, respondendo a perguntas implícitas também muito
simples: como? quando? onde? porquê? até quando? para quê?

7 - Naturalmente, para poderem responder a tais perguntas, sobretudo à última, os autarcas
terão de estar na posse de um plano devidamente estruturado, realista e com pés para
andar. Com já referi em texto anterior, os eleitores até aceitarão certamente sacrifícios, se
souberem para
quê e se perceberem qual é o caminho e qual o destino previsível. Enganam-se redondamente
os candidatos que se apresentem sem planos bem definidos, como tem sucedido até agora,
convencidos de que após a vitória logo se verá. O tempo do improviso permanente chegou ao
fim, porque durante e após a crise nada voltará a ser como dantes, sob pena de graves
problemas sociais.

8 - São conclusões óbvias, mas nada melhor que deixá-las aqui consignadas. A - Nada nasce do
nada. B - Um conjunto só de galinhas ou só de galos não dá um único pinto. C - Não adianta
ter 50 sapatos, se forem todos do mesmo pé.

9 - Para todos aqueles que não gostam mesmo nada de debates, a não ser que se trate de
futebol, e que apelidam de senil, ou pior ainda, quem ousa continuar a pensar, aqui fica a
opinião de J. Maynard Keynes, o economista inglês cuja doutrina permitiu acabar com a grave
depressão de 1929/1933. "Mais cedo ou mais tarde, são as ideias, e não os interesses
instalados, que são perigosos, para o bem ou para o mal."
Depois não venham dizer que ninguém avisou a tempo e a horas.

Dezembro de 2008

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