sábado, 20 de outubro de 2012

A zona euro e as ovelhas ranhosas

Numa altura em que se agudiza a crise social, devido à discussão do orçamento mais gravoso desde há muitos anos, valerá a pena saber como vão as relações entre a troika e o governo de Atenas, outra ovelha ranhosa da zona euro. Ao mesmo tempo que "Em Helsínquia, tanto os intelectuais como os cidadãos comuns têm sempre uma solução, mais ou menos evidente, para esta crise: "É simples; façam como nós!", disse-nos um universitário. Por outras palavras, apertem o cinto, façam as reformas necessárias, recapitalizem os bancos em dificuldade, obrigando-os a assumir os custos via nacionalização. Os mais extremistas aconselham mesmo a Grécia e Portugal a abandonar a zona euro, como por exemplo Vesa Kanniainen, professor de economia política, muito solicitado pela comunicação social, que já concedeu 55 entrevistas sobre o tema.
A saída do euro destes dois países (note-se que a Irlanda não é mencionada) seria, segundo o mesmo professor, uma maneira como outra qualquer de emendar os erros de construção da moeda única, que "destruiu a disciplina", permitindo aos países obter empréstimos a baixo custo, apesar das sucessivas derrapagens orçamentais. Há também vozes mais raras a considerar que a melhor solução é a saída da Finlândia, antes que a crise arruíne o país."

Claire Gatinois, Le Monde, 19/10/2012, página 2


"Os dirigentes da zona euro já não consideram a Grécia um caso perdido"


"O governo grego e a troika chegaram a um entendimento de princípio para desbloquear mais 31,5 mil milhões de euros de ajuda externa."

"Não se trata ainda de uma nota positiva, mas também já não é um Mau. A Grécia deixou de ser considerada "o veneno" da zona euro e o seu primeiro ministro deve sentir-se agora mais à vontade no Conselho Europeu de 18 e 19 deste mês, em Bruxelas.
O acordo sobre as medidas de austeridade não foi ainda totalmente finalizado entre o chefe de governo Antonis Samaras e a troika. Num comunicado comum, datado de 17 de Outubro, a Comissão Europeia, o BCE e o FMI indicam contudo que chegaram a acordo sobre as "medidas essenciais", deixando para as equipas locais a finalização das negociações.
Este comunicado coloca assim um ponto final no folhetim das tensas negociações entre o governo grego e a troika, que se arrastam desde o verão, nomeadamente sobre a flexibilização  do mercado laboral. Entretanto, os sindicatos continuam furiosos e apelam à greve geral para 18 de Outubro, primeiro dia da cimeira europeia. Mas esta cólera dos gregos já não será estigmatizada. O estado de espírito europeu mudou em relação a Atenas.
Angela Merkel, antes tão dura, saudou os esforços já feitos pelo país, após a sua visita de 9 de Outubro. Apesar das cruzes gamadas que acompanharam o seu curto périplo, a chanceler alemã não se cansa agora de defender a Grécia. E não está sozinha. A directora geral do FMI, Christine Lagard, que ainda há pouco tempo reservava a sua compaixão para a Nigéria, reconhece agora que é melhor deixar a Grécia "respirar".
Parece fora de dúvidas que ninguém tem interesse em provocar uma nova crise, num momento em que é necessário gerir um plano de ajuda à Espanha. O que todavia não explica tudo, segundo Michalis Vasileiadis, economista do centro de reflexão IOBE, em Atenas. "Conseguimos progressos reais. Estas declarações são o reconhecimento dos nossos esforços", acrescentou, lembrando que o défice grego de 15,6% do PIB, em 2009, deve baixar para 6,6% até Dezembro de 2012 (7,5%, segundo o FMI). Sobretudo, concluiu, o clima político mudou. Com uma coligação de três partidos no poder, bloquear medidas de austeridade e outras reformas tornou-se muito complicado. "O governo tem agora bastante mais credibilidade."
Os analistas independentes reconhecem que as coisas evoluem. Numa nota de 15 de Outubro, os especialistas do banco Crédit Suisse observam que "o orçamento grego está "grosso modo" nos carris". A competitividade melhorou: após as reduções salariais massivas e as reformas laborais, o custo do trabalho "apagou quase totalmente o aumento verificado desde a entrada na zona euro", afirmam os analistas. Alguns indicadores económicos, como a produção industrial, são menos maus desde há alguns meses.
A Grécia ainda não está livre de problemas, longe disso. Em Janeiro começará o sexto ano consecutivo de recessão, a taxa de desemprego é enorme (25% da população activa), os capitais continuam a sair e as empresas a emigrar. A entidade grega Coca-Cola está cotada na Bolsa de Londres e paga os impostos na Suiça. O grupo grego de produtos lácteos FAGE mudou o domicilio fiscal para o Luxemburgo. Carrefour, Saturn, Crédit Agricole e Société Générale, ou já sairam ou estão para sair do país.
"Não é melhor, mas também já deixou de piorar", resumiu Michalis Vasileiadis, que espera que a mudança de tom dos dirigentes europeus e do FMI se traduzirá num alongamento suplementar de dois anos, para que o país possa cumprir os objectivos do défice fixados pela troika. E que depois será implementado um plano de investimentos. "Precisamos de dinheiro, mas também e sobretudo de esperança", declarou um quadro de uma empresa pública grega."

Claire Gatinois e Alain Salles, Le Monde, 19/10/2012, página 19

2 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Os bancos alemães, franceses, iatlianos, suiços têm uma exposição à dívida grega de mais de muitos biliões de euros. É muita grana. Que remédio! O melhor é baixar a bolinha, de contrário...

A luta dos povos tem muita força. Falta ver o resto: parte da dívida nunca irá ser paga.

É que a crise aproxima-se resoluta da Alemanha. A não ser que a Alemanha descubra mercado fora do planeta Terra. Nem sequer é preciso ir a Coimbra para perceber isso.

As afigurações da Alemanha levaram-na sempre a partir as fuças. Isoladinha já ela está na Europa outra vez. Financia-se a menos de 1% e empresta acima de 5 e 6 - só pode dar borrasca.

É só esperar para ver.

Leão_da_Estrela disse...

Meu caro Cantoneiro,

Para mal dos nossos pecados, o meu caro tem razão: a Alemanha vai novamente partir as fuças!

Pena é que, a exemplo das duas vezes anteriores, muitos milhões sejam dizimados no espalhanço.

Apesar de tudo, vamos ter esperança que a coisa não evolui para uma situação tão radical.

Ctos