quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Uma penosa maratona oratória

Assisti, via Rádio Hertz, à primeira parte da sessão extraordinária da Assembleia Municipal de hoje. Foi uma longuíssima tarefa nada agradável. Discutia-se a adesão do município ao PAEL, um empréstimo a 4,15% para pagamento de algumas dívidas a fornecedores com mais de 90 dias, nesta altura num montante total superior a cinco milhões. Estavam na sala 37 membros da AM, bem como os membros do executivo, à excepção de Luis Ferreira. Notava-se também a ausência do presidente Miguel Relvas, censurado na sessão anterior, nomeadamente por faltar amiúde.
Começou a justa oratória e cedo se percebeu que havia por ali intervenientes que melhor fora ficarem calados. A bem dizer e para não ofender ninguém, excepto uma dúzia de deputados, sobretudo da oposição, ninguém mais cumpre os mínimos olímpicos. Nem em capacidade oratória, nem em verniz cívico, nem em recursos políticos. Ao longo de três horas e meia trocaram-se e voltaram a trocar-se argumentos já conhecidos, com o presidente Carrão num esforço inglório para virar o previsível resultado final. Houve esclarecimentos, direitos de resposta, afirmações descabidas, acusações deslocadas, tudo a evidenciar susceptibilidades à flor da pele, rancores antigos e feitios comichosos.
Ao cabo de mais de 210 minutos de paleio, por vezes a voar muito baixinho, como o crocodilo da anedota, a mesa contou os presentes, tendo constatado a chamada frontalidade tomarense. Na sala já só restavam 28 deputados municipais. O que significa que nove outros haviam entretanto recorrido de alguma maneira à chamada "mijadela diplomática", muito útil, adequada e conveniente em certos casos, como meio de evitar futuras retaliações. Feita a votação, houve 15 a favor e 13 contra, pelo que a candidatura foi rejeitada, pois necessitava de maioria simples = 19 votos a favor.
Venceu a oposição unida, porém de forma tremida, tendo em conta as 9 ausências deliberadas. Ainda assim, vingou a opção PS/IpT, cujo objectivo é óbvio: dificultar ao máximo a governação municipal, impedindo nomeadamente o pagamento das dívidas a fornecedores, habituais fontes de votos e de financiamento de campanhas eleitorais. Perdeu o PSD, que agora terá de encontrar outros atalhos para atingir a mesma meta. Perdeu também e sobretudo o vereador Vitorino, cuja anterior desobediência à disciplina de voto foi afinal em vão. Além de se ter assim incompatibilizado com a actual direcção colectiva dos socialistas locais, o ex-social democrata, que virou socialista em 2005, constatou hoje na AM o seu isolamento no partido, que pode bem significar o fim da sua carreira política. Com efeito, apenas lhe resta agora a hipótese de regressar à origem, onde decerto nunca lhe darão a liderança da futura lista autárquica, sendo porém evidente que não está em posição de poder aceitar lugares subalternos. Mas Alá é grande e Maomé o seu profeta...
O ponto 2 da ordem de trabalhos era sobre a reforma administrativa, mas confesso que me faltou a pachorra e resolvi ir arejar as ideias. Tudo tem um limite.

7 comentários:

Arre Burro... Que amanhã é sábado disse...

Hoje o PS e o IPT demonstraram a sua irresposnabilidade e leviandade.
É inadmissível que tenham votado contra a Autarquia recorrer a um empréstimo para pagar a fornecedores, com juros bonificados (mias baixos do que pagam acutalmente à banca).
Espectáculo triste. Gostaria de ver os srs deputados da respectiva oposição na pele de muitos fornecedores que aguardam há largos meses pelo pagamentos das suas facturas. As empresas do concelho de Tomar agradecem ao PS e ao IPT.
Esta minha posição nada tem a ver com a atual Câmara. Como sabem até fui candidata, nas últimas eleições, por uma lista independente. Mas devem haver decisões em prol do concelho, que devem estar acima dos interesses partidários. Hoje era um desses momentos.
Dou os meus sinceros parabéns ao Vereador Vitorino Becerra, pela coragem que teve em assumir um imperativo da sua consciência. São assim os homens de bem. Surpreendeu-me!

Isabel Miliciano

Luis Ferreira disse...

Estimado Prof.Rebelo

Gostaria de o informar a si e aos leitores que estive presente na AM, tendo chegado aliás muito antes da hora e que tive o gosto de assistir a mais estas duas monumentais derrotas do PSD local. As filmagens por vezes enganam e sinceramente para ouvir o chorrilho de banalidades com que o Presidente de edidade nos brinda já me chega a reunião, quase semanal de Câmara.

Quanto às presenças e ausências, convém esclarecer que dos 37 eleitos, faltaram a esta sessão dois: o Presidente da AM Relvas e o deputado do CDS. Assim presentes que estavam 35, 7 Presidentes de Junta de Freguesia, todos os eleitos pelo PS (Além da Ribeira, Beselga, Madalena e Sabacheira) e pelos IpT (Alviobeira, Junceira e S.João Batista, ausentaram-se em protesto, como o meu camarada Hugo Cristóvão denunciou, dizia, em protesto contra as pressões e as ameaças feitas pelo Presidente da Câmara, para que estes votassem a favor. Essa atitude foi coordenada com as coordenações do PS e julgo saber que também no seio dos IpT. Assim o PSD ficou "seco" com a sua ampla minoria de 15 votos, insuficiente para obter a maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, 19, nos termos do número 8, do artigo 38, da Lei das finanças locais (Lei 2/2007).

Quanto às Freguesias, deixe-me partilhar que achei curioso que o PSD que no executivo votou contra a nossa proposta de defesa das 16 Freguesias, na Assembleia, foram obrigados a ir a reboque dos próprios Presidentes de Junta do PSD, tendo tido de votar favoravelmente. Dissonantes, só o Presidnete de Junta da Asseiceira que abandonou a sala e o não inscrito António Cruz, que votou contra.

Aplicação da Lei Relvas, enterrada em Tomar, com os próprios votos do PSD! Lindo.

Anónimo disse...

Agradeço o esclarecimento do prezado amigo Luis Ferreira. As filmagens enganaram-me mesmo, o que me leva a apresentar desculpas aos leitores e ao visado.
Considero importante a informação de que os presidentes de junta afinal agiram em concertação, o que dá outra importância à derrota circunstancial do PSD.
Sobre as intervenções do presidente Carrão, é meu entendimento que a mesa da AM o habituou a abordar as coisas de modo incorrecto. Se não erro, nos termos da Lei, o presidente da Câmara apenas deve intervir para responder a perguntas e dar esclarecimentos, devendo abster-se de quaisquer outras considerações tendentes a influenciar os integrantes do órgão. O que evitaria nomeadamente aquela habitual cena lamentável do "isto não é fazer chantagem, mas..."

Luis Ferreira disse...

A cidadã Isabel Miliciano está totalmente equivocada no escrito que produziu, uma vez que nem os juros seriam os que diz, uma vez que nos termos da Lei eles serão só da divida da republica e só o contrato a assinar os designará, nomeadamente quanto à sua actualização anual ou semestral, bem como em relação aos fornecedores em divida há mais de 90 dias.

Se tiver a amabilidade de ir ao meu blogue http://vamospoaqui.blogspot.com tenho lá publicado os maiores fornecedoras a quem se pretendia pagar, dos 300 apenas 38 tinham dividas superiores a 10.000€ representando 91% do dinheiro que se ia pedir. Sobravam de divida a mais de 260 fornecedores pouco mais de 250.000€, que podem e devem ser rapidamente pagos. Como? Basta ver que ainda a semana passada o Camara podia ter poupado o equivalente a 30.000€ em despesas de representação de 14 dirigentes que as não executam. Podia poupar 4500€/mês do aluguer do espaço onde estão os serviços do urbanismo e da divisão jurídica, já que adquiriu o edifício da Nabância por 300.000€ e em lugar de ai instalar serviços que estão em espaços alugados cedeu-o a associações, uma das quais, o Ginásio Clube, utiliza há 13 anos instalações municipais sem pagar um centavo.

E vem a estimada cidadã criticar a oposição por ter inviabilizado mais este disparate?
Gerir não é isto. Isto que vem sendo feito é puro amadorismo para ser simpático ou, como bem disse ontem o deputado municipal Hugo Cristóvão, é capaz é de ser crime por gestão danosa.

E anotei o seu respeito por quem incumpre as suas obrigações para com o seu grupo politico, o que natufalmente por uma questão de Ética republicana não comento. Nnoticia é sempre o homem que morde o cão e não o seu contrário, todos o sabemos.

HC disse...

Cara Isabel Miliciano,

Eu não tenho por hábito comentar comentários, mas no caso não posso deixar de o fazer. Porque a Isabel Miliciano não é uma pessoa qualquer, a Isabel Miliciano foi militante e dirigente do PSD local, foi vereadora, e tem também por isso co-responsabilidades no estado a que isto chegou.
Foi agora em 2009 candidata independente, e tenho também presente algumas afirmações que fez em agosto para a revista Visão.

Por tudo isso, falar de cor com base meramente nos argumentos populistas do presidente de Câmara é grave vindo de alguém com tantas responsabilidades.
(desde logo essa das empresas do concelho! dois meses do que a câmara está a pagar à ParqueT, quanto a mim ilegalmente, servia para pagar todas as dívidas às empresas tomarenses)
É bom ler os documentos, e é bom perceber que factos são uma coisa, opinião é outra.

E na opinião do PS e dos seus órgãos legítimos, e ninguém é obrigado a concordar com ela (não pode é dizer que representa o PS) não é preciso acrescentar mais dívida para pagar dívida como até aqui tem sido feito. Basta gerir bem e fazer opções diferentes.
E por isso, na nossa opinião, decidir em prol do concelho e não em função de nenhum outro interesse é não ter aprovado mais este erro.

Quanto aos "homens de bem", pois, são perspetivas. Para mim, "homens de bem" são pessoas coerentes, leais aos princípios e aos que consigo fazem um percurso, sabendo que nada alcançam sozinhos, que cumprem a palavra, que olham primeiro para os outros e só depois para o umbigo, que trabalham no seio de um grupo ao invés de querer um grupo a trabalhar para si, etc, etc.

Arre Burro... Que amanhã é sábado disse...

Dr. Hugo Cristovão.

Acho que não devemos ir por aí.
Jamais fugirei às minhas resposnabilidades, e jamais deixarei de assumir as coisaa boas ou más do passado. No entanto se formos pelo caminho que evoca, teremos também que dizer que o PS e o Eng.º Sócrates têm grandes responsabilidades na catastrofe económica e social que o país está a viver.
Se formos por aí, posso dizer-lhe que o PS esteve 8 anos à frente dos destinos da Cãmara de Tomar, infelizmente deixou muitos "rabos" de palha, que ainda hoje muitos se lembram. A ponto de ter perdido a Cãmara para o PSD.
Não quero alimentar aqui polémica, e desde já lhe digo que não venho mais comentar este assunto.
Não sou apoiante da atual câmara, mas não posso concordar em que os partidos votem contra o pedido de empréstimo, naquelas condições para pagar a pequenos forncecedores. Fosse a Câmara PS, PSD ou outra linha política qualquer. Não sei porque razão a Câmara de Torres Novas é socialista e votou a favor desse empréstimo. Aliás a maioria das câmaras entende que a medida só peca por ser tardia.
Para terminar, desejo-lhes os maiores êxitos na vida política e acredito que é uma mais valia para o seu partido.
A minha e única preocupação neste momento é a vida económica deste concelho, da qual depende a vida de muitos tommarenses que aqui trabalham.

Cumprimentos
Isabel Miliciano

Anónimo disse...

Estimados, estive a ler e reparei que ninguem falou ou disse que uma semana antes desta assembleia para aprovação do emprestimo, o Presidente CArlos CArrão, pagou uma fatura de cerca 30.000,00€, trinta mil, não são tres mil ou trezentos, a um fornecedor amigo dele, não sei quanto tempo tinha a fatura, mas foi paga e deixou para tras outras bem mais pequenas que fariam o consolo e regalo de muitos comerciantes que esperam por bem mais pequenas quantias de faturas em atraso. Provavelmente a D. Isabel Miliciano não sabia desta e sei que esta injustiça levou a que fosse chumbado o emprestimo.