sexta-feira, 1 de maio de 2009

CUIDADO COM A SUBSIDIODEPENDÊNCIA

António Rebelo
Escreve Luis Ferreira, em http://www.vamosporaqui.blogspot.com/ "...Se há quarenta anos entrámos na 1ª divisão, fruto da pujante indústria de segunda geração que aqui se desenvolvia, alicerçada numa postura regional liderante, hoje disputamos, com todo o mérito, honra e espírito de sacrifício, a distrital com o Riachense, equipa da simpática e desenvolvida vila do vizinho concelho de Torres Novas. Está tudo dito. Ou quase..."
No seu habitual estilo épico-político, o autor procurou, desta vez, agradar a gregos e a troianos. Compreende-se, posto que hoje se celebra o 94º aniversário do União de Tomar e estamos já em evidente pré-campanha eleitoral autárquica. Trata-se, porém, no nosso entendimento, de um texto potencialmente perigoso, a diversos títulos, a saber. Não corresponde exactamente à verdade que há 40 anos o União tenha alcançado a 1ª divisão nacional exclusivamente graças à "pujante indústria de segunda geração". Alguns construtores civis tomarenses a trabalhar em Lisboa desempenharam igualmente um papel importante nessa promoção.
Também não nos parece adequado passar imediatamente para a situação actual, como fez o autor, sem adicionar algumas explicações complementares, como modo de evitar, na medida do possível, falsas interpretações. No longo caminho entre as glórias da 1ª divisão e a modesta situação actual, convém dizer que o clube baixou de divisão quando o presidente da Câmara de Tomar era do PS, mas igualmente que foi Pedro Marques o maior benfeitor autárquico do futebol local até ao presente. Com que resultados?
Numa altura em que o União procura obter mais um subsídio autárquico extraordinário, para satisfazer compromissos inadiáveis, como de costume, a atitude correcta de qualquer envolvido na política local será a de esclarecer, publicamente e de uma vez por todas, se é a favor ou contra os subsídios às colectividades culturais e/ou desportivas. Deixar o assunto ao nível do subentendido, como faz Luis Ferreira, pode vir a ser complicado, dado que existe em Tomar, como um pouco por todo o lado, um grupo de subsidiodependentes, quase todos com mais de trinta anos de actividade, e sem outra perspectiva que a de obter sempre mais das mesmas fontes.
A título de mero exemplo, cita-se o caso de uma conhecida colectividade do concelho a pedir apoio (leia-se subsídio) para uma actividade a realizar em Julho de 2010. O assunto foi apresentado e discutido numa recente reunião camarária...
Olhando para trás de forma desapaixonada, constata-se que os múltiplos subsídios com origem nos impostos de todos nós, nunca conseguiram salvar, ou sequer reanimar de forma durável, qualquer colectividade moribunda crónica. Isto basicamente porque, como refere Miguel Sousa Tavares, no Expresso, "Nós somos bons é em esperar que os outros façam por nós e reclamar se eles não fazem. Tudo nos é devido, nada nos é exigível, nem que seja para nosso próprio interesse... ...É por isso que não sairemos tão depressa da crise." (Expresso, 01/05/09, pág. 7)
Assim sendo, deixemos de nos iludir e de tentar iludir os outros. Ajudas a fundo perdido, só em casos de força maior, devidamente comprovados: doença, acidente, desemprego intercalar, cataclismo. Tudo o resto se resolve com trabalho, que nunca desonrou ninguém, por mais humilde que seja. Mas concordamos que cansa bastante mais que viver de subsídos.
Na próxima campanha eleitoral autárquica, a situação de todos nós será ainda mais complicada que agora. Pouco adiantará aguardar pelo fim da crise, sabido como é que o Japão está há 11 anos em situação de marasmo económico, apesar de o respectivo banco central emprestar dinheiro à taxa zero. Se na UE ainda agora vamos para o dinheiro a 1%... Nestas condições, cada candidatura fará uma excelente acção cívica caso tenha a coragem de não prometer o que de modo algum pode cumprir. Subsídios sucessivos a fundo perdido, por exemplo. E se ousar acrescentar que o único remédio para a crise local passa obrigatoriamente pelo aumento das receitas e a diminuição drástica das despesas, poderá perder votos; mas ganhará em credibilidade. Exactamente aquilo que mais falta nos faz neste momento. Porque, como é voz corrente, "Quem não tem dinheiro, não tem vícios".

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