quinta-feira, 14 de maio de 2009

TRÊS CARTAZES POLÍTICOS

Quando há 15 dias se criticaram aqui alguns aspectos do primeiro cartaz pré-eleitoral do PS/Tomar (Ver "Candeias, cadelas e cartazes" de 1 dio corrente), houve dois tipos de reacções. O responsável socialista local, Hugo Cristóvão, usando uma linguagem escorreita e cordata, procurou contra-argumentar, de forma a justificar os erros detectados. Outros leitores, a coberto do anonimato e no melhor estilo tomarense, insinuaram que as críticas avançadas tinham origem no facto de haver um administrador deste blogue que estava ressabiado por ter perdido contra o agora candidato oficial José Vitorino. Conhecedores do meio nabantino e das suas taras, decidimos então manter um prudente silêncio sobre essa vertente.
Largos dias têm cem anos, no Público de 11 de, última página, o historiador Rui Tavares, que não foi vencido por Vitorino, não devendo por isso estar ressabiado, escreveu a dado passo: "O cartaz do... ...é também insólito. Oferece-nos um ... ... fotografado de baixo para cima, lá nas alturas e nas dimensões que um outdoor permite (má escolha, como qualquer estudante de fotografia sabe: o plano contrapicado sugere arrogância ou convencimento, tal como o plano picado sugere insignificância ou desorientação). (o negrito é nosso). Dado que o arq. Vitorino sempre foi conhecido na cidade como convencido, orgulhoso, arrogante, maniento, e os outros mimos do género, não há qualquer dúvida de que os mercadólogos do PS acertaram na "mouche". Ou estavam simplesmente com a dita?
E decidimos, por agora, passar sob silêncio a "Geração Tomar" que leva logo a pensar na "geração rasca", de bem triste memória...

Após aquele cartaz de índole "fazendista" (tendência de Luis Fazenda, deputado e dirigente do BE, ex-dirigente da UDP) a proclamar "A todos o que é de todos", referindo-se à Galp, à EDP e aos seus lucros significativos, mas perfeitamente legítimos, desta vez os mercadólogos do BE acertaram plenamente, no nosso entender. Deve ter prevalecido a tendência "sacerdote Louçã", pensamos nós.
Vale a pena olhar com atenção o cartaz: camisa vermelha, mais revolucionária, logo equilibrada com a azul, cor tradicional dos conservadores; ar aberto, dialogante, olhos nos olhos, à mesma altura do logótipo do BE, vê-se "em cada rosto igualdade", como no "Grândola vila morena"; o modesto apelo ao voto, tuteando o leitor, forma subtil de tentar anular o pejorativo epíteto de "esquerda caviar", pois como é sabido, nesse meio o "você" é sempre de rigor, mesmo entre pais e filhos, ou entre marido e mulher.
Há depois a palavra de ordem escolhida. "justiça na economia" (tudo em minúsculas, para não levantar suspeitas de basófia), é uma forma habilidosa de tentar levar a água ao seu moinho sem excluir. Repare-se que o lema até é reversível. Economia na justiça seria bem acolhida e uma das acções mais susceptíveis de melhorar a actual situação catastrófica nesse sector tão criticado por quase todos os cidadãos. "Se eu pudesse dar uma sentença em cinco folhas, não a daria em 25, mas não somos nós que fazemos as leis do país...", disse-nos recentemente um magistrado.

Falar do PCP, do PEV, da CDU ou dos respectivos dirigentes e/ou membros equivale praticamente a caminhar num terreno minado. Apesar disso, como há aqui no blogue um administrador que foi especialista de minas e armadilhas durante o serviço militar obrigatório, parte do qual feito em Angola, tal como Manuel Alegre, decidimos avançar, conscientes dos perigos a que nos expomos, porque sem coragem e exercício das obrigações de cidadania, não pode haver democracia realmente saudável.
Este cartaz da CDU, com as cores do país em fundo, maiúsculas garrafais e termos vagos, não nos parece nada indicado para os tempos conturbados que atravessamos. Marcha para quê? Protesto contra quê? Confiança em quê? Nas tais prometidas auroras radiosas? Luta? Como? Quando? Onde? Contra quê? Contra quem? A favor de quê? Nova política? Pois sim senhor. Mas qual? Uma vida melhor? Inteiramente de acordo. Mas em que aspectos? Com que meios? Onde estão os recursos?
Como qualquer outro país de regime democrático pluralista, precisamos de uma oposição forte, determinada, credível, eficaz, em sintonia com o mundo que "pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança". Com sectarismos, com uma linguagem essencialmente "para dentro", com ilusões, com generosas generalidades atractivas, com omissões intencionais, não conseguiremos ir a lado nenhum.
Com o devido respeito por muitos anos de luta em prol de um país mais livre, mais justo e mais fraterno, permitam-nos o recurso ao estilo típico dos camaradas alentejanos: Sejam dignos dos que muito sofreram! Sejam claros! Expliquem-se, porra!!!

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