António Rebelo
Após um cartaz com "Política de verdade", Manuela Ferreira Leite insiste. Numa entrevista conjunta SIC/PÚBLICO/RENASCENÇA, foi peremptória -"A minha contribuição para o país é indicar novos caminhos, novas propostas, novos valores. Se alguém só confiar em mim se eu lhe mentir, não vai confiar porque não lhe vou mentir." Um pouco antes, no decorrer da mesma entrevista, indagada sobre se congelaria os vencimentos da função pública, esclareceu prontamente: "Já o fiz duas vezes como ministra das Finanças, porque na altura a situação do país era muito grave." Interrompida pelos jornalistas, alegando que "Diz que vai "falar verdade". Não receia dizer antes das eleições que pode não aumentar os trabalhadores do Estado?", acrescentou, convicta -"O que posso dizer é que aumentarei sempre os salários se houver dinheiro para os pagar."
Os jornalistas, quiçá pouco habituados a linguagem técnica requintada, nem terão notado o que realmente foi dito. Ferreira Leite é uma das melhores economistas portuguesas, na área da economia política. Ao afirmar, constrangida pelos resultados das próximas consultas eleitorais, que só aumentará se puder pagar, o que pretende transmitir, em linguagem corrente, é extremamente grave -Tomara eu vir a ter dinheiro para pagar os vencimentos pontualmente, quanto mais agora para liquidar aumentos.
E que temos nós a ver com isso tudo? Pergunta usual dos tomarenses, na aparência mais despachados. Pois temos tudo a ver. Por um lado, porque são os nossos impostos que estão a ser gastos, pelo que é importante saber se bem ou mal gastos, com vista às próximas opções de voto. Por outro lado, porque vivemos numa terra, por enquanto ainda cidade, com uma autarquia do PSD (ia a escrever governada ou gerida por pessoas do PSD, mas faltou-me a coragem, que isto de governar ou gerir tem muito que se lhe diga), onde a tal política de "falar verdade" ainda não chegou, nem se prevê que venha chegar em breve. Bem sei que o cacique local é da tendência Passos Coelho, mas mesmo assim. Há situações que são inaceitáveis. Com esta maioria autárquica temos estado a atravessar uma fase comparável àquela admiravelmente mostrada por Manuel Alegre, na Trova do vento que passa -"Pergunto ao vento que passa/ Notícias do meu país/ O vento cala a desgraça/ O vento nada me diz". Assim estamos nós, os tomarenses. Sentimos cada dia que passa que os problemas se multiplicam, que a situação se agrava, que há já nalguns sectores um clima de tragédia e de desânimo, mas o silêncio camarário em relação ao essencial é cada vez mais evidente, pesado e eloquente. Até quando? Até que os tomarenses queiram.
Sem comentários:
Enviar um comentário