segunda-feira, 11 de maio de 2009

RETOMAR A VIDA EM TOMAR




António Rebelo


Contrariando alguns patrícios, conterrâneos, e todavia amigos, aqui estou de novo. E para continuar. Pegando na ideia falsa de um tosco leitor, que persiste em atribuir-me o péssimo hábito da abusar do garrafão, confesso gostar muito de me embebedar. Mas as minhas bebedeiras são com outras coisas. Desta vez resolvi ir embebedar-me de beleza, de história, de serenidade, de requinte, na Sereníssima (Veneza), em Pádua, em Verona e em Vicenza. Custou umas largas lecas mas valeu a pena. Oh se valeu! Que hei-de eu fazer? Persisto em não confundir a Ponte do Rialto com a do Mouchão, o Bolchoi com o D. Maria II, o MET com o da Arte Antiga, a Filarmónica de Berlim com a Gualdim Pais, Notre-Dame com S. João, ou o requinte com o requentado. Têm, portanto, razão aqueles invejosos locais que me acusam de só gostar do que é de fora. Com uma pequena nuance -gosto mais do que é bom. Seja de cá ou de fora. Compreendo, porém, as cabecitas locais. Falta-lhes mundo, diria o Doutor Manuel M. Carrilho, e não adianta pedir a daltónicos que nos dêem opinião sobre uma gama de cores. Vêem tudo a preto e branco.

Dada assim a justificação por alguns solicitada, como se eu tivesse alguma obrigação de explicar aquilo que decido fazer, quando afinal não ocupo, nem tenciono vir a ocupar, qualquer cargo público de nomeação política ou de eleição, rogo-vos paciência para irem lendo aquilo que por aqui for publicando.

Só para terem uma ideia: A foto nocturna mostra um aspecto da Praça de S. Marcos, vendo-se à esquerda o campanário, com 98 metros de altura, em frente a Torre do Relógio, do século XV, à direita Basílica de S. Marcos, dos séculos XI e XII, e o Palácio dos Doges, dos séculos XII a XVIII.

Na parte mais larga da Praça, visível na outra foto, há uma série de cafés, quase todos fundados no século XIX, com esplanadas e orquestras. O mais célebre é o Florian. Lá estive sentado a contemplar, a meditar, a consumir... Duas tartes, um "grog" e um chá de verbena custaram-me 52 euros... Outras vidas! Afinal Veneza recebe por ano 20 milhões de turistas, enquanto o nosso Convento, que também é Património Mundial, pouco passa dos 150 mil visitantes anuais.

17 comentários:

Anónimo disse...

Ó Tó, aparentemente és um cidadão do mundo, e Tomar não tem horizontes para ti. Porque é que não te mudas para um desses locais que te enche as medidas e deixas o ar de Tomar um bocadinho mais puro?

Anónimo disse...

E querias tu ser presidente de Câmara?! Para quê? Para ser mais um a passear à custa do Orçamento?!
EH pá, para isso chegou o Mário Soares e o Paiva.
Vai trabalhar... Vai ajudar o teu país a sair da cêpa torta.

O Trabalhador

Sebastião Barros disse...

Para anónimo das 8:33:

Respondendo à pergunta, cabe esclarecer que quem cá nasceu e cresceu não se sente cá mal e até gosta muito da terra. Alguns habitantes é que...

Sebastião Barros disse...

Para um auto-proclamado trabalhador:

Tudo indica que você está a ver o filme ao contrário. Na verdade viajo à minha custa e faço-o justamente porque não ocupo qualquer lugar político, de nomeação ou de eleição.
40% dos meus rendimentos mensais vão para IRS. Ainda quer mamar mais? Deixe-se de cantilenas para adormecer lorpas e diga ao seu chefe Jerónimo que o mundo muda a cada segundo que passa. Seja do seu tempo!

António Rebelo

Anónimo disse...

Compreendo o teu enfado por teres de viver numa terra com tão pouco para oferecer. Vivido como és, precisas de muito mais para te sentires bem no ambiente que te rodeia. Também percebo que as gentes desta terra templeira de longe correspondem ao que tu desejarias. No entanto não hesitarias em agarrar um "tachito" à pala desta terra e gentes menores.

NOBLESSE OBLIGE!!!

Anónimo disse...

Ó Rebelo, agora viajas à tua custa, mas não quer dizer que se te alcandorasses a um cargo público não o fizesses depois a espensas públicas. Com a sede de viajar que tens, e sabendo-se que o português típico dá o"cuzinho e oito tostões" para "laurear a pevide"...

Mas não te rales com o que o povo diz. Apenas és mais um...

Unknown disse...

Boa tarde.
Porque é que um "auto-intitulado" trabalhador deve ir falar com o chefe Jerónimo?
Porque não falar com o chefe Sócrates? Ou com a chefe Manuela? Ou mesmo com o chefe Portas?

Será porque só há trabalhadores no PC? Ou será que se prova que o inimigo principal do PS é o PC?

Tiques...

Sebastião Barros disse...

Nenhum tique, julgo eu. Apenas a constatação de que cada militante de cada partido tem o seu paleio específico, também conhecido, em tradução, por "língua de pau". No caso em apreço, o vocabulário e o estilo usado pelo contraditor tem uma origem para mim evidente. Ou estarei enganado? Tudo é possível, mas ao fim de mais de 50 anos de actividade política...

A.R.

Unknown disse...

Caro.

Essa análise faz de mim militante de qual partido?

Sebastião Barros disse...

Há um ilustre georgiano que usava muito o seu estilo, que ficou conhecido pelo "processo de intenção". Não fez mas ia fazer, ou podia muito bem vir a fazer. Cuidado com isso. Nunca se sabe quando poderá vir a ser usado contra nós...
O ilustre acima referido ficou conhecido por "Pai dos povos". Ou Estaline, mais prosaicamente. Um reconhecdido benemérito da humanidade...

Unknown disse...

E acho que está enganado.
O fulano é mais para a sua direita que para a sua esquerda.

Digo eu caindo na esparrela de ir pelo mesmo "método analítico".

Unknown disse...

Discussão fechada.

Sebastião Barros disse...

Senhor Caiano:

Ainda não li coisas suas suficientemente marcadas para poder formar uma opinião. Mas lá chegarei talvez e então lhe direi. Frontalmente, como sempre, mas de forma polida.

A.R.

Anónimo disse...

Conta-se que ANDRÉS SEGOVIA tinha 5 anos quando em viagem pelo norte de Espanha, acompanhado dos seus pais, parou numa localidade próxima de San Sebastien, e entrou na oficina de um artífice construtor de guitarras. O homem, ao ver o pequenote olhando com inesperado interesse para as guitarras expostas, perguntou-lhe ao que vinha. O miúdo respondeu que queria uma guitarra. O artesão riu-se e perguntou-lhe qual. O pequeno Andrés apontou com o indicador uma guitarra pendurada de um prego na parede. O Homem riu fortemente e disse-lhe "...ó menino aquela não! Aquela é a minha melhor guitarra, nunca mais fiz menhuma assim...tenho-a há dezenas de anos, não está para venda! Sabes tocar?"
O miúdo aquiesceu com um aceno de cabeça. Então o artífice tirou a guitarra da parede, passou-a para as mãos do pequeno e pediu-lhe para tocar qualquer coisa.
O pequeno Andrés Segovia, de apenas 5 anos, tocou um trecho andaluz. Quando acabou o logista caiu de joelhos, juntou as mãos e disse simplesmente, lavado em lágrimas de emoção: "A guitarra é tua, ofereço-ta. Leva-a contigo. Nunca ouvi nada assim!"
O pequeno Andrés cresceu e tornou-se o expoente máximo da guitarra clássica no país vizinho. Morreu aos 94 anos não sem pouco tempo antes ter dado um concerto onde dedilhou, talvez pela última vez, a guitarra conseguida quase cem anos antes.

Anónimo disse...

Moral da história:

Não há dúvida que a guitarra era de bom material...mas serviria para alguma coisa se o artista não fose bom?


Post Sciptum: o estaturo de Andrés Segovia era tal que tudo lhe era permitido. Uma ocasião estava uma sala cheia para o ouvir quando ele entrou em palco, sentou-se no banco, afinou a guitarra (a famosa guitarra)...e de repente levantou-se e saiu dizendo que havia demasiada humidade na sala.
Noutra ocasião, já nos seus oitenta e muitos anos, estava a tocar num concerto a solo quando de repente adormeceu. O público não arredou pé, não fez barulho, esperou que ele acordasse para continuar, o que veio a acontecer, depois dum tímido pedido de desculpa.

Sebastião Barros disse...

Para anónimo das 23:43:

Obrigado pelas suas mensagens! São atitudes assim que nos vão dando ânimo para continuar, apesar de tudo.
Tive a sorte de conhecer e ouvir o grande Andrés. Ainda tenho aqui em casa um vinil em 33 rotações com o Concerto de Aranguez, pela O. N. de Espanha, dirigida por Ataulfo Argenta,com Segóvia à guitarra.

Anónimo disse...

IMITAÇÃO É ERRADO?

Quando há algum tempo visionei em casa o filme "The Others" tive uma permanente sensação de "déjá vu" ao ver Nicole Kidman radiante, quase uma beleza etérea. De repente veio-me à lembrança a sua interpretação no filme "Calma de Morte" onde ela, debutante quase desconhecida contracena com um Sam Neil nos seus melhores dias. De cabelo ruivo, hisurto, sardas à solta no rosto, mostrava-se numa beleza em erupção, algo selvagem, típicamente australiana. Desde esse tempo até à actualidade do filme "The Others" o percurso de N. Kidman foi enorme. Cresceu como actriz e Holywood tratou a sua imagem convenientemente.
Persistia porém a sensação de já a ter visto como ela se mostra neste filme: loira, sóbria, mesmo minimalista.
Passado algum tempo percebi a razão dos meus porquês quando me dispus a ver o filme "A Janela Indiscreta" de Hitchcock. É que nesse filme, contacenando com James Stewart, aparece uma inegualável Grace kelly de quem Nicole Kidman copiou o "look", diga-se, com total sucesso.

Serve isto para dizer que o que somos na vida não só se deve à nossa própria força interior, mas também aos "row models" que copiamos, o que de todo nos menoriza.
Compete-nos, no entanto, seguir pelo caminho certo...