quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DEBATES...

O debate em boa hora organizado pela Rádio Hertz, no passado dia 18, foi o primeiro transmitido em directo fora das campanhas eleitorais. Antes houve o "Tribunal da Nabantina", par "julgar" o caso do trânsito na Corredoura, igualmente público, mas sem transmissão pela rádio. Igualmente no século passado, vários debates temáticos tiveram lugar, porém sem carácter público, dadas as condições da época.
Fomos consultar o texto final de uma dessas trocas de ideias, oragnização do efémero Jornal de Tomar, em Março de 1984, precisamente sobre turismo. Reproduzimos a seguir, sem qualquer alteração, as intervenções de um dos administradores de Tomar a dianteira.


Jornal de Tomar - Será que a actividade que tem sido desenvolvida neste sector se enquadra no chamado turismo industrial, afinal aquele que pode trazer vantagens económicas às regiões que têm o privilégio de dispor dessas riquezas?
A. R. -Começo por assinalar o salto que é feito aqui, entre a questão que coloca e aquela a que o sr. Pereira respondeu. A questão que agora me coloca ultrapassa os limites do nosso concelho, é já um problema global do sector. Ainda ontem, numa reunião partidária, se falou em turismo, não a nível local, mas em termos mais gerais. Fiquei com parte de uma resposta que me deram: "O turismo em Portugal é uma tragédia".
Eu diria que o sector vive um imenso mal entendido. Tanto quanto sei, há dois modelos possíveis de organização turística, que se ligam ao próprio modelo de sociedade onde se inserem. Há um modelo centralizado, cuja característica fundamental é uma planificação a nível governamental, o que implica que o turismo é exclusivamente explorado por organizações oficiais. Na Europa de Leste, são as agências de viagens do estado que, em conjunto com os organismos governamentais competentes, organizam e exploram o sector. E isso evita, por exemplo, a fuga de divisas.
Há um outro modelo -o americano. Nos Estados Unidos, o turismo é uma actividade exclusivamete privada. Muitos governos estaduais nem sequer têm organismos especializados em turismo. Compreende-se -sem qualquer juízo de valor- que nos países de leste seja o governo a fazer a promoção do seu turismo, e também se compreende que nos Estados Unidos a promoção seja feita quase exclusivamente pelas organizações privadas.
Entre estes dois modelos, há o nosso, que é o modelo francês, mal copiado. É uma situação em que o estado assume o que dá prejuízo, e os privados assumem o que dá lucro. Passando agora para o caso de Tomar, a consequência deste modelo é o turismo custar-nos cerca de 10 mil contos e a câmara arrecadar pouco mais de 3 mil em imposto de turismo.
Logo aqui temos um défice de mais de 6 mil contos, ao nível de uma cidade tão pequena como Tomar. Agora calcule-se em termos nacionais, as discrepâncias entre as receitas e as despesas do estado neste sector. É uma situação original, num país com carências de toda a ordem. E apesar do custo deste sector para o estado, o turismo que cá temos, não é aquele que queremos. É aquele que os outros nos mandam e, como não sabem muito bem o que nós pensamos, mandam-nos aquilo que lhes dá jeito.
Jornal de Tomar - Como vê a constituição destas Comissões Regionais de Turismo?
A.R. -Num país com recursos muito limitados, como o nosso, eu perguntaria como é que se gastam rios de dinheiro com estas comissões, que são fachadas, como muitos funcionários, mas que depois não respondem a nada; a não ser dar despacho a assuntos burocráticos.
Não basta que haja, aqui e ali, algumas boas vontades, quando não há um esforço concertado, que chegue a uma Comissão Nacional de Turismo, que defina um plano para o sector, que defina o produto que se deve vender, que defina onde se deve ir vendê-lo. A Comissão de Turismo de Tomar não sabe o que está a fazer a de Leiria, de Abrantes ou de Castelo Branco.
Gastamos somas consideráveis em actividades que são de interesse nulo para o turismo, não porque intrinsecamente o sejam, mas porque em termos de turismo industrial só tem interesse o que é programado com pelo menos um ano de antecedência. Para este turismo, a planificação para o ano seguinte em Setembro está feita. E em Novembro os catálogos estão na rua. Daí decorre que a esses operadores de turismo não interessa que depois lhes vão dizer que há este ou aquele festival, pois já não os podem publicitar ou incluir nos seus circuitos.
As comissões regionais vão reforçar ainda mais o carácter negativo de tudo isto, porque vão ser uma série de feudos, cujos planos de actividades não têm ligação entre si e com a agravante de não conseguirem atingir o mercado nacional, e muito menos o internacional. Não vão conseguir apresentar atempadamente os seus programas de actividades, até por questões de orçamentos, que são anuais e portanto desencontrados do "timing" dos operadores de turismo.
Quanto à Estalagem, quero salientar que em todos os países ocidentais é norma não serem as entidades públicas a cuidar das unidades hoteleiras. O FMI não tardará a impôr isso mesmo, pelo que penso que a câmara vai ter problemas e que, mais cedo ou mais tarde, largará a estalagem.
Jornal de Tomar - Colocaria a mesma pergunta, propondo que se coloquem na posição de responsáveis pelo sector. Que plano alternativo?
A.R. - Antes de mais, quero dizer-lhe que não está no meu horizonte político ser presidente da Comissão Municipal de Turismo. Como tal, nunca examinei o problema sob esse ângulo. Agora posso adiantar que foram aqui ditas algumas coisas importantes. Por exemplo o sr. Pereira, em resposta ao problema que levantei de gastarmos 10 mil contos e termos uma receita de 3 mil, falou na necessidade de se investir a fundo perdido. Concordo parcialmente. Mas o que não se pode é andar eternamente a investir a fundo perdido para outros arrecadarem as receitas. Os beneficiários da actividade devem também ser os seus pagantes. Os hoteleiros, os cafés, os restaurantes, os agentes de viagens, etc. é que terão a curto prazo de custear a promoção turística. Se bem que aqui em Tomar não se coloca só o problema da promoção. Não temos estruturas para receber os turistas. Não há um roteiro, não guias qualificados, não há sinalização capaz, não há uma ocupação de tempos livres, atempadamente programada.
Quase 27 anos volvidos, resta dizer sem rancor -Esta terra é uma maravilha! Passam os anos, mas os problemas mantêm-se. Até quando?

1 comentário:

Anónimo disse...

Prof. Rebelo

Estes três cromos estavam em melhor estado, principalmente os dois primeiros, já que o dr. Pereira se encontra quase na mesma!

Nessa altura ainda não havia a rebalbaria e as modernices de hoje.

Era pessoal menos informado (principalmente na hora), mas muito mais feliz e menos preocupado!!!!