RONDA DE FIM DE SEMANA - 2

As fotografias acima documentam um dos crónicos dramas locais. As obras demoram tempos infinitos e raramente ficam em condições. Falta sempre qualquer coisa, que obriga a abrir buracos ou valas novamente. Neste caso da Av Marquês de Tomar, ainda se pensou aqui no blogue que iam finalmente aproveitar para fazer o tal parque de estacionamento para autocarros de turismo, que tanta falta faz. Qual quê. Fica tudo quase como estava, que a mudança é sempre problemática.

Acossados pelas reclamações dos habitantes, os responsáveis autárquicos foram forçados a mandar acelerar os trabalhos. Como a pressa é geralmente inimiga da correcção, temos outra vez erro do grosso. No conjunto das ruas já requalificadas e equipadas, além das horríveis lajes de granito, que não respeitam o estipulado no regulamento de protecção do Núcleo Histórico, conforme referiu o arq. Lebre um dia destes, perante a Câmara reunida em sessão pública, há agora ruas onde falta a canalização para o gás, outras onde falta a calha técnica para o telefone e a electricidade, outras ainda onde falta tanto uma como outra. E há também aquele troço final da Rua Direita, entre o cinema e a Rua da Graça, que não tem sarjetas. Em qualquer dos casos, os moradores vão ter outra vez, mais tarde ou mais cedo, pó, pedras e lama à porta.

Neste caso da Marquês de Tomar, como decerto os nossos leitores já terão reparado, esqueceram-se dos candeeiros e da pré-instalação para o distribuidor de talões de estacionamento no troço agora concluído. Lá vamos ter mais umas valas para abrir... E se ficam à espera que a EDP faça o necessário, o melhor é sentarem-se, porque vai levar o seu tempo. Um buraco aberto para uma reparação eléctrica há mais de um mês, ali à ilharga da Rodoviária e obstruíndo todo o passeio, está bem conservado e recomenda-se. Até a vegetação já aproveitou para começar a crescer, provando que a terra é de boa qualidade. A população é que nem tanto. E os dirigentes então...

Este cartaz do Bloco de Esquerda é um infelicidade. Não ignoramos que é pouco ou nada usual criticar os partidos de esquerda, uma vez que os seus militantes se consideram geralmente acima da arraia miúda, detentores de indiscutível superioridade ética e situados na correcta corrente da história. Mesmo assim, achamos que o que tem que ser dito tem muita força.

Dizer num cartaz que a EDP e a GALP tiveram 1500 milhões de lucro, para logo abaixo acrescentar, em letras garrafais, "A TODOS O QUE É DE TODOS", um sofisma que não respeita a verdade, pois falta demonstrar que a electricidade, o gás, a gasolina ou o gasóleo são de todos e porquê, é apelar ao que os seres humanos têm de mais reles e bárbaro na sua vertente negativa -a inveja, a cobiça e a ganância. Se eu não tenho, também não hás-de ter! Se eu não consigo correr, tu também tens de andar a passo, e assim sucessivamente. A velha história do nivelamento por baixo.

No caso presente, trata-se objectivamente de inculcar no espírito das pessoas que poderá vir a ser possível "meter a unha" nos fabulosos lucros das grandes sociedades, se e quando o BE vier a ser governo. Há até um detalhe curioso. O cartaz menciona "lucros 1500 milhões" mas não especifica se de euros ou de contos. Há realmente omissões muito convenientes!
Intencional ou não, a verdade é que tudo isto nos parece tão óbvio e tão vergonhoso que a princípio até tivemos dificuldade em acreditar que viesse mesmo do Bloco de Esquerda. Porque a realidade é esta. Que Jerónimo de Sousa, ex-operário afinador de máquinas, mande volta e meia uns palpites pouco congruentes, desculpa-se sendo quem é. O seu passado fala por ele. Que Manuel Alegre se saia com frases eloquentes, por vezes pouco compatíveis com a realidade que vivemos, devemos desculpar-lhe. É um grande poeta, tem um grande passado, e aos poetas deve-se perdoar tudo, posto que sentem o que nós não sentimos.

Em contrapartida, que o Prof. Doutor Francisco Louçã, professor de economia e líder do Bloco de Esquerda, consinta que se afixe um cartaz deixando entender subliminarmente que um dia será possível nacionalizar (outra vez) a EDP e a GALP, ao arrepio dos princípios fundadores da União Europeia, da qual fazemos parte, releva naturalmente do embuste e da má-fé. O Doutor Louçã, sendo economista, não pode ignorar que nas semanas seguintes a uma eventual nacionalização das grandes empresas e/ou da banca, todas as participações estrangeiras, que são muitas e importantes, abandonariam apressadamente o país, criando o caos. É isso que quer? O "quanto pior melhor", para satisfação do seu camarada Fazenda, antigo da UDP, que proclamou em tempos "Os ricos que paguem a crise"?

Se, por hipótese, alguma vez viesse a ser possível "meter a unha" nos lucros da EDP e da GALP, a que têm todo o direito, pois cumprem as leis do país, dão emprego e pagam os seus impostos, passado relativamente pouco tempo já não teríamos nem dinheiro nem energia. A demagogia é uma coisa nada bonita, Doutor Louçã, sobretudo quando visa a caça ao voto. E se proclama, por outro lado "Bloco, esquerda de confiança!"