sábado, 19 de maio de 2012

Acção social, ovos e carimbos



Os leitores recordam-se decerto daquele triste e demasiado prolongado episódio do nosso conterrâneo José Carlos Sousa, "vivendo" numas retretes públicas (ver fotos). Graças a algumas boas vontades, entre as quais O TEMPLÁRIO e a vereadora da Acção Social da CMT, foi possível realojá-lo, não sem algumas dificuldades bem conhecidas. Porque afinal se trata de mais uma vítima da guerra do ultramar ou da guerra colonial, consoante os pontos de vista.
Bem instalado no Bairro 1º de Maio, José Carlos continuou com o seu labor de ocupação de tempos livres: recolher todo o tipo de objectos nos contentores camarários. O que, sendo extravagante, não deve surpreender. Conheço pelo menos um caso, de alguém que nem sequer fez o serviço militar e hoje está muito bem instalado na vida, cujo sonho profissional de infância era vir a ser "lixeiro"...
Pois o nosso traumatizado concidadão José Carlos, resolvido a contento o problema habitacional, intuiu que é cada vez mais difícil e criticado o facto de se viver à custa do Estado, que é como quem diz dos contribuintes. Vai daí, aproveitou o seu know-how de muitos anos para começar a produzir algo de útil à sociedade. Comprou 15 galinhas poedeiras e um galo, que instalou no quintal da casa onde habita. Para alimentar tanto bico, vai aos desperdícios do Intermarché e do Continente, onde recupera restos de hortaliça e de fruta.
 O problema é que não consegue vender os ovos, apesar de biológicos. "Porque não têm carimbo, veja lá! Eu se calhar até fiz mal; devia era ter comprado frangos de carne, que assim sempre os comia. Agora ando a ver se arranjo uma receita de pão de ló. Arroz doce ainda sei, agora pão de ló não; mas é muito ovo para arroz doce..."
É um dos grandes problemas deste abençoado país: sem carimbos ninguém se governa. E o mais grave é que, por outro lado, são cada vez mais os cidadãos que se consideram demasiado carimbados pelo fisco...
Vá lá! Ajudem o José Carlos. Comprem-lhe os ovos biológicos. É logo ali ao lado da capela de Santo António. E são mais baratos que nas grandes superfícies.

3 comentários:

Maria disse...

Espero que o Zé Carlos, consiga vender os ovos.
Tenho pena de não viver aí. Gasto muitos ovos e não "como" carimbos.
Boa sorte, amigo Zé Carlos.
Comprem lá os ovinhos! Para quê os carimbos?
Maria

Luis Ferreira disse...

Basta ir com os ovos ao mercado da sexta-feira, pagar o terrado, um punhado de cêntimos e pronto: vende os ovos! É, também, para isso que serve o Mercado...

Anónimo disse...

Pois! Mas convencer o José Carlos a ir por aí, é capaz de ser tão difícil como persuadir a actual maioria relativa a dialogar/negociar com a oposição... Tomarenses, sabe?!, diria o patriarca cigano Pascoal.