sexta-feira, 18 de maio de 2012

AGRADECIMENTO A UM AMIGO

Foto L'Express/JeanLuc Luyssen/ABACA

O novo presidente francês, o socialista François Hollande

Prezado Hugo Cristóvão:

Bem haja pelo seu comentário, com cujo conteúdo concordo inteiramente. [ver mensagem "Cargos de confiança política...", de ontem]. E de que maneira! Nesta pasmaceira política tomarense, é um bálsamo ler  de tempos a tempos alguém da geração dos meus filhos que também insiste em pensar pela sua cabeça. Obrigado, mais uma vez.
Por falar em cabeça, não resisto a transcrever-lhe parte da longa carta do editorialista Christophe Barbier ao novo presidente francês. Trata-se de dois dos melhores cérebros franceses actuais, pelo menos em termos de diplomas. Hollande é diplomado de HEC, Sciences-Po e ENA, Christophe é "normalien et agrégé de lettres". Como diria o Hermann, -meio alemão, não o esqueçamos- "La crème de la crème!"
Numa longa epístola, a dado passo escreve o editorialista do L'EXPRESS: "A crise acabou com a tradição do "estado de graça". Tome assim como uma oportunidade não ter nada a perder, sobretudo nem um minuto.
Agir, portanto. Contudo, o seu programa não deixa de inquietar. O Estado está falido, os especuladores estão em emboscada, o mundo inteiro está na expectativa. Já não se trata de gastar menos. Trata-se de gastar muito menos e depressa. Dos aumentos prometidos para as diversas pensões aos 60 mil novos professores no Ministério da Educação, é longa a lista de promessas pouco razoáveis. Sabe muito bem que vai ter de fazer em dois meses aquilo que a esquerda mitterrandista fez em dois anos, de 1981 a 1983. Para conseguir tal salto perigoso para o passado, dispõe de um trapézio -a auditoria da finanças públicas que vai ordenar-, mas sem rede. Proceda de modo a que os franceses partam para férias lúcidos. Descontentes, talvez, mas lúcidos...
Senhor presidente, a Europa está à beira da debandada. A sua exigência de renegociação do tratado em vias de ratificação está já obsoleta. É de uma refundação bem mais ambiciosa que necessitamos. É essa a sua ardente missão. Uma nova Europa é indispensável, em nome do crescimento económico -aspecto em que o senhor tem razão- mas sobretudo pelos caminhos da convergência de políticas e de afirmação de uma governança continental.
O senhor é "filho" de Jacques Delors, antigo colaborador de Mitterrand e discípulo de Pierre Mendès-France. Não desiluda! É sendo maior que ela própria que a França é a França. É inventando uma nação europeia, um federalismo razoável e caloroso, que a União Europeia se pode salvar. É cumprindo tal missão que o senhor será um presidente para ficar na História.
Não fique à espera nem especule sobre uma hipotética vitória social-democrata além-Reno. Mergulhe na aventura do casal franco-alemão, porque é dele que depende a prosperidade de amanhã, e desta a paz de depois de amanhã."
Meu caro conterrâneo, após leituras destas, pode crer que voltar a aterrar no charco político tomarense não é nada suave. Sobretudo quando se adora esta terra, mas nem tanto muitos dos seus habitantes. E com uma indagação há muito por resolver, que você compreenderá melhor decerto, uma vez que regressou há pouco das habitações trogloditas turcas. A pergunta é esta: Estando os tomarenses geograficamente tão longe de Palermo (Itália) e da Capadócia (Turquia), como é que continua a haver nas margens do Nabão tantas centenas de palermitas politicamente capados? Ainda por cima convencidos de que estão cheios de razão e de outros predicados...
Se conseguir alguma explicação plausível, escreva-me.

Um abraço fraterno,

António Rebelo

9 comentários:

Leão_da_Estrela disse...

Caro professor, eu não sei quem é esse "Barbeiro", mas partindo do princípio óbvio de que a tradução é intocável, assino de cruz aquilo que defende para a Europa (deixo de lado os considerandos sobre as promessas eleitorais de Hollande, que como sabemos FORAM promessas)

Sabe, eu sou daqueles que não viu com muito bons olhos a entrada na CEE, confesso; mas depois, como só os burros não mudam de opinião, alguém disse e já que lá estamos (agora na UE), que se faça uma coisa à séria e nos deixemos de patriotismos bacocos, porque o que já acontece é que temos apenas a ilusão de que mandamos alguma coisa no nosso País.
Pensa o meu caro que me incomoda alguma coisa ser "mandado" por políticos alemães ou dinamarqueses? alguns dirão "antes a morte, que tal sorte"; pois eu direi: prefiro a sorte que tal (prevista) morte, se continuar a ser conduzido pelos políticos que temos.

Venha de lá o que defende esse tal senhor, num referendo terá o meu voto.

(só por mera curiosidade, Sciences-Po não é aquele curso manhoso que o senhor Pinto de Sousa anda a tirar em Paris?)

Cumprimentos

Anónimo disse...

Tem razão. Mas o tal engenhocas dominical, que Maria Filomena Mónica apelidou um dia destes de "delinquente político", está inscrito num daqueles "master éxécutif", para os quais basta pagar 13 mil euros por ano e ir apresentando uns trabalhos escritos, não se sabe bem por quem. Hollande, pelo contrário, é da chamada "via nobre": concurso de admissão, com provas escritas e oral para todos. Apresentam-se milhares, são seleccionados apenas os 150 melhores.
Quanto ao tal Barbier, é do mesmo gabarito. Foi seleccionado para frequentar a Escola Normal Superior da Rue d'Ulm, a nata da nata. Depois fez com êxito as provas de agregação à universidade. Tudo "cérebros" com provas dadas. Nenhum entrou na política pelo sótão, como já aconteceu aqui em Tomar...

Cordialmente,

Leão_da_Estrela disse...

Oh professor, mas eu não estava a fazer comparações! era apenas uma curiosidade e estou esclarecido.

Mas sabe uma coisa? por um lado, é pena que esses "crânios" não estejam disponíveis para pegar o boi, por outro, que os que arriscam e avançam, sejam trucidados pelo "sistema" e rapidamente eles e as suas boas ideias e soluções sejam chutados p'ra canto.

Isto até que alguém tenha a força suficiente para colocar os tais "mercados" no seu sítio. Até lá, não há Barbier's que nos valham!

Cumprimentos

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Enquanto os senhores Leão da Estrela e António Rebelo descobrem qual é o curso que Sócrates está a tirar em Paris, cito aqui o primeiro parágrafo, que roubei de um artigo publicado no blogue Jumento, cujo autor é André Macedo, como adivinha:

"«Há dias, entrei numa loja da Avenida da Liberdade. Estranhamente, apesar dos preços, cheirava a sopa. Apesar de o assunto dar pano para mangas, convenci-me de que deveria ser o ar condicionado ou um novo perfume inspirado na sopa juliana. Há gente para tudo. Menos de 24 horas depois, fui à sede de uma empresa. Logo que apanhei o elevador, detetei o mesmo rasto inconfundível, embora neste caso com uma mistura de massa cozida com um ligeiríssimo travo a poejo (seria manjericão?)."

Adivinhar (sem ler o resto do artigo): porque é que cheirava a sopa naqueles lugares?

Anónimo disse...

Meu caro Fernando Templário:

No que me concerne, já não preciso de descobrir o curso em que se inscreveu o teu Zèzito. Conheço suficientemente aquela escola para saber que pelas vias normais e para a escolaridade oficial nunca seria admitido, uma vez que se trata de estabelecimento da área das letras e o teu ídolo apeado, se não erro, sempre foi de ciências.
Assim sendo e para simplificar, digamos que foi admitido numa espécie de "Novas oportunidades" à la française. O que não tem mal algum, desde que se evite sempre confundir guardanapos de linho com panos de cozinha...

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Pois,pois. Se tivesses sido primeiro-ministro de Portugal de 2007/2008 (quando rebentou a crise em Portugal..., que se arrastou ao planeta terra...) a Março de 2011 com aquele oposição, o que é que fazias? Não te esqueças que até àquela data ele era tido como um bom p.ministro e ainda ganhou umas segundas eleições, e, se a memória não me falha, disseste que voltaste a votar nele. Não te aguentaste nas canetas...

Deixa o homem em paz. O silêncio metafórico com que responde aos que o acusam e caluniam, torpemente, é demolidor. Como eles o queriam sei eu..., e fica por saber porque estuda em Paris.

E tanto assim é, que, hoje, passado apenas um ano, o partido que dirigiu e representou nos seus governos, segundo a sondagem, está nos 31%, e não é só por especial mérito da actual direção do PS.

Sabes quem o derrotou? Sabes, mas nunca o assumirás. Foi a imprensa, vendida e canina.

Queres um exemplo?

Eu dou: o telejornal da SIC acaba de informar que o corpo redatorial do "Público" emitiu um comunicado. Por acaso eu já tinha conhecimento há mais tempo. Tenho as minhas fontes, mas guardo sigilo; também recebo os meus clippings e o meu telemóvel é especial de corrida.

A procissão já está a sair do adro. Agora é que o espetáculo vai animar!

Os jornalistas estão a libertar-se. A liberdade e democracia, assim, não se vão abaixo. Os impostores serão desmascarados. Não tenhas dúvidas! Este País tem muitos anos e o seu povo é muito sábio.

Leão_da_Estrela disse...

Oh Templário, o curso do engenheiro putativo foi uma mera curiosidade, se quiser, um fait-divers...e o meu caro está no direito de o defender, era o que mais faltava!

Já quanto aos odores, há alguma dificuldade nisso? é a sopa do barroso no seu melhor (ou pior), consequência da crise e das dificuldades porque passam as pessoas; e infelizmente será ainda pior...

Luis Ferreira disse...

Tanto comentário e nenhum realça o nível e a coragem de verdade do meu camarada Hugo Cristóvão, ele o verdadeiro "zézito" de Tomar. Político com P grande e formação "à lá lettre

Leão_da_Estrela disse...

Luis Ferreira, como tem reparado (eu vou a Tomar com alguma regularidade, mas) o meu conhecimento da vida política local é diminuto, como pode constatar pelo conteúdo dos meus comentários e lamento não conhecer Hugo Cristóvão; prometo ir buscar informação e colmatar o que será certamente uma falha, dado o ênfase que coloca no seu comentário.

Cumprimentos